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Incêndio em centro de migração na fronteira do México com os EUA deixa 38 mortos

Mortes em Ciudad Juárez, na fronteira com o Texas, agravam crise humanitária em meio a politização do tema

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Washington

Ao menos 38 pessoas morreram em um incêndio na noite desta segunda-feira (27) em um centro de detenção de imigrantes em Ciudad Juárez, na fronteira do México com os Estados Unidos, agravando a crise humanitária na região em meio ao recorde histórico de pessoas em busca de asilo em solo americano.

Anteriormente, o governo do México havia afirmado que 40 pessoas tinham morrido no episódio, mas o número foi revisto após uma análise em hospitais da região.

O incêndio começou às 22h de segunda no local que abrigava 68 homens, todos eles das Américas do Sul e Central, segundo o Instituto Nacional de Migração (INM) mexicano, que administra o local. A maior parte dos migrantes vem da Guatemala (28), e há também pessoas de Honduras (13), Venezuela (13), El Salvador (12), Colômbia (1) e Equador (1), segundo a procuradoria-geral do México. Há 28 pessoas em estado grave internadas em quatro hospitais da região, afirma o INM.

Grupo de bombeiros frente a prédio em chamas
Bombeiros resgatam feridos de incêndio no México - Jose Luis Gonzalez/Reuters

Dados da agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP, na sigla em inglês) apontam que, de janeiro a dezembro de 2022, mais de 3 milhões de migrantes foram interceptados tentando ingressar em território americano sem permissão legal, um aumento de 33% em relação aos 2,7 milhões registrados no ano anterior. No topo da lista de nacionalidades flagradas estão migrantes de México, Cuba, Nicarágua, Guatemala, Honduras e Venezuela.

Um relatório recente da Organização Internacional para as Migrações (OIM) apontou que desde 2014 cerca de 7.661 migrantes morreram ou desapareceram a caminho dos EUA. Destes, 988 faleceram em acidentes ou por viajarem em condições subumanas.

Vizinha de El Paso, no Texas, Ciudad Juárez é uma das principais portas de entrada nos EUA e acumula milhares de migrantes nas ruas à espera de resposta para cruzar para o país.

São muitas as tensões com os agentes federais na região, e na véspera o INM havia realizado uma operação para retirar das ruas pessoas que aguardavam na cidade. Segundo o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, o incêndio começou após detidos colocarem fogo em um colchão ao saberem que seriam mandados de volta a seus países.

A situação na região se agravou após duas políticas da era Donald Trump. A mais importante foi a chamada política "Permaneça no México", que forçava os imigrantes, mesmo aqueles que tinham outras nacionalidades, a aguardarem do lado mexicano da fronteira a resposta aos pedidos de asilo. A política foi suspensa depois pelo atual presidente, Joe Biden, mas em dezembro um juiz federal ordenou que fosse retomada até que processos que os estados abriram na Justiça contra o governo fossem julgados.

A segunda política é a chamada "Título 42" que, sob a justificativa de conter a circulação do coronavírus, permite a expulsão de migrantes sem que possam pedir asilo no país, usando o argumento sanitário para avançar a agenda republicana. Biden tentou derrubar a medida, mas a Suprema Corte a manteve em vigor.

Biden, embora tenha sido eleito prometendo uma abordagem mais humana nas políticas migratórias, tem dado sinais controversos ao relançar medidas do seu antecessor. Em fevereiro, propôs uma nova regra que pressupõe como inelegíveis para a concessão de asilo pessoas que entrarem de forma irregular no país, a não ser que provem que tiveram o asilo negado em outras nações antes de cruzarem a fronteira.

"Na ausência de tal medida, o número esperado de migrantes viajando aos Estados Unidos sem autorização deve aumentar significativamente, a um nível que pode comprometer a habilidade dos departamentos [de Segurança Interna e de Justiça] de pôr em prática de forma segura, efetiva e humana a lei imigratória dos EUA", diz projeto da norma, que entrou em consulta pública.

Apesar das ações do governo Biden, a crise na fronteira com o México está no centro do discurso republicano hoje. Em comício no sábado (25) em Waco, no Texas, Trump, em pré-campanha à Casa Branca, prometeu promover deportações em massa se reeleito. "Vamos usar todos os recursos necessários estaduais, locais, federais e militares para promover a maior operação de deportação da história dos Estados Unidos", afirmou.

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