Descrição de chapéu Previdência União Europeia

Menores e menos violentos, protestos na França consolidam crise de Macron

Décima jornada de mobilizações leva 750 mil às ruas contra reforma da Previdência e presidente em baixa

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Toulouse (França)

Menos numerosa e menos violenta, a 10ª jornada de greves e manifestações contra a impopular reforma da Previdência de Emmanuel Macron reuniu ao menos 750 mil pessoas em cerca de 200 cidades da França nesta terça-feira (28), segundo o Ministério do Interior. Na última quinta, havia 1 milhão nas ruas.

Segundo a junta intersindical que articula os protestos desde janeiro e já convocou nova mobilização para 6 de abril, esta jornada mobilizou 2 milhões de pessoas, contra 3,5 milhões na semana passada.

Manifestante ergue bandeira da Bretanha durante décima jornada de protestos contra Macron e a reforma da Previdência em Paris, na França - Nacho Doce - 28.mar.23/Reuters

Os protestos foram marcados por grande efetivo policial, incrementado depois dos incêndios e da depredação de lojas e do mobiliário público vistos na manifestação da semana passada. O ministro do Interior, Gérard Darmanin, convocou 13 mil oficiais para acompanhar os atos desta terça –um aparato, segundo ele, inédito.

Ele informou que as forças de segurança francesas haviam identificado cerca de mil manifestantes responsáveis pelo quebra-quebra da semana passada, que levou comerciantes e agências bancárias a erguerem tapumes para proteger suas vitrines e fachadas.

Mesmo assim, a jornada desta terça não foi livre de conflitos significativos, como aqueles ocorridos em Paris, Toulouse, Rennes, Lyon, Estrasburgo, Bordeaux e Nantes, em especial depois que as lideranças sindicais deram os atos como encerrados, e as ruas foram tomadas por estudantes e black blocs.

Em Nantes, uma agência bancária foi incendiada por manifestantes, que ergueram barricadas igualmente incendiadas. Em Toulouse, fogo foi ateado a sacos de lixo e ao mobiliário urbano, e a polícia usou jatos de água e bombas de gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes —recursos também utilizados pelas forças policiais em Rennes.

Em Paris, a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo e o Palácio de Versalhes —alguns dos principais cartões-postais da capital francesa— foram fechados devido às manifestações, que reuniram 93 mil pessoas, segundo a prefeitura, contra 119 mil na semana passada. Os atos na capital terminaram no início da noite, na Praça da Nação, com enfrentamentos entre black blocs e policiais, fogo nas pilhas de lixo, bombas de gás lacrimogêneo e ao menos 55 pessoas presas.

As cerca de 10 toneladas de lixo que transformaram a cidade-luz em um lixão a céu aberto e viraram fogueiras nos últimos protestos, no entanto, devem desaparecer nos próximos dias. Isso porque a CGT (Confederação Geral do Trabalho) anunciou o fim da greve dos garis da capital, depois de três semanas de paralisação. Os coletores voltam ao trabalho nesta quarta-feira (29).

Nos últimos dias, lideranças sindicalistas propuseram ao governo francês medidas para arrefecer os ânimos dos manifestantes do país. Laurent Berger, secretário-geral da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT) propôs a Macron colocar a reforma "em pausa" por um ou dois meses e buscar interlocutores para uma mediação da crise política e social francesa. "Precisamos encontrar uma saída", disse ele à rádio France Inter. "A ideia é entrar em um processo de mediação."

A proposta foi bem recebida por partidos centristas, como o Movimento Democrático, cujo líder, Jean-Paul Mattei, declarou ser importante encontrar alguém que "tenha certa distância" dos dois polos da crise, governo e manifestantes, e possa ser um "elo para promover o diálogo".

O porta-voz do governo, Olivier Véran, recusou publicamente a proposta de mediação: "Não há necessidade de mediação para se falar com os sindicatos". Mas a primeira-ministra Elisabeth Borne, anunciou que convidará as lideranças da junta intersindical para uma conversa na próxima semana.

Nesse contexto de crise política e social, a popularidade do presidente Macron desceu abaixo da marca dos 30% e chegou a um nível considerado alarmante: 28%, segundo o barômetro do Instituto Francês de Pesquisa de Opinião (Ifop). A marca está próxima da mais baixa da história do líder francês, 26%, atingida em novembro de 2018, durante a crise dos coletes amarelos. Borne o acompanhou nesta baixa: sua popularidade chegou a 29%, segundo o mesmo instituto.

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