Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia acusa ONG Nobel da Paz de 'desacreditar Exército' e 'reabilitar nazismo'

Polícia faz buscas e detém ativistas ligados ao Memorial, mais antigo grupo de direitos humanos do país

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Moscou | AFP e Reuters

Um dos vencedores do Nobel da Paz do ano passado e alvo frequente do governo de Vladimir Putin, o grupo de direitos humanos Memorial recebeu do Kremlin uma nova acusação nesta terça-feira (21): "desacreditar o Exército russo".

A alegação, apoiada por um artigo do Código Penal em geral evocado contra críticos da Guerra da Ucrânia, foi usada pela administração russa para abrir um processo contra o copresidente da ONG Oleg Orlov, 69, que pode enfrentar pena severa se considerado culpado.

Oleg Orlov, um dos diretores do grupo de direitos humanos Memorial, é conduzido pela polícia ao Comitê Investigativo da Rússia, órgão responsável por investigar crimes graves no país - Iulia Morozova/Reuters

Horas antes, policiais realizaram operações de busca e apreensão nos escritórios da ONG em Moscou e na residência de pelo menos nove pessoas ligadas a ela, incluindo Orlov e Ian Ratchinski, cofundador da entidade. Alguns deles foram levados para serem interrogados, em movimento denunciado pela oposição.

Com mais de três décadas de atuação, o Memorial é o mais antigo grupo de direitos humanos da Rússia. Foi fundado por dissidentes soviéticos —incluindo o também Nobel da Paz e físico nuclear Andrei Sakharov— que se dedicaram a preservar a memória dos milhões de russos que morreram ou foram perseguidos em campos de trabalhos forçados durante a era de Josef Stálin.

A entidade foi oficialmente proibida em 2021 por uma decisão da Suprema Corte, após anos sendo perseguida —ainda que o Judiciário russo seja nominalmente independente, na prática é alinhado ao governo.

Um novo movimento com o mesmo nome foi então criado em junho passado, mas sem o registro formal de ONG, um recurso para tentar escapar da perseguição. Uma das bases do argumento usado pela Procuradoria russa ao pedir a dissolução do Memorial era de que o grupo infringia as obrigações de sua condição de "agente estrangeiro", rótulo atribuído a organizações que recebem financiamento do exterior e se engajam em atividades consideradas políticas.

As incursões desta terça se dão depois da abertura de uma investigação contra a Memorial por "reabilitação do nazismo", ainda este mês. Autoridades acusam o grupo de ter incluído em sua lista de vítimas da repressão soviética nomes de três pessoas que foram condenadas por colaborarem com o regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

A acusação de que a Ucrânia era um Estado nazista foi uma das justificativas retóricas apresentadas pela Rússia ao invadir o país vizinho —algo sem lastro na realidade de acordo com analistas, ainda que haja sim células radicais vinculadas à ideologia no território, assim como em outros locais.

O Memorial não respondeu aos pedidos de comentário da Reuters, mas afirmou em mensagem de seu canal do Telegram que a polícia proibiu membros da ONG detidos de se reunirem com seus advogados e apreendeu itens e equipamentos com o logotipo da organização.

O partido liberal Iabloko chamou a ação de um "novo passo" da campanha de repressão política da Rússia. "O que aconteceu é um exemplo da batalha destrutiva contra a dissidência", disse a sigla de oposição em comunicado.

Desde a eclosão da Guerra da Ucrâniachamada ainda hoje de "operação militar especial" pelo Kremlin, mais de um ano após seu início—, o governo russo aumentou a repressão contra vozes dissidentes. Isso inclui não só organizações como a Memorial como também veículos de mídia independente e oponentes políticos.

Com AFP e Reuters

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