Justiça da Índia suspende prisão de Rahul Gandhi, principal opositor de Modi

Decisão também pode reverter expulsão do político do Parlamento do país

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São Paulo

A Justiça da Índia suspendeu nesta segunda (3) a pena de prisão de dois anos de Rahul Gandhi, principal opositor do premiê Narendra Modi e descendente de uma outrora poderosa dinastia política.

A suspensão valerá até o julgamento do recurso apresentado pela defesa de Gandhi, que tenta reverter a condenação. Há uma audiência programada para o próximo dia 13 de abril, na qual ele não precisará comparecer. Além disso, mais dois processos por difamação foram abertos contra o político, e ele deve se apresentar ao tribunal em um deles na cidade de Patna, no leste do país, em 12 de abril.

Rahul Gandhi, líder do principal partido de oposição da Índia, acena a apoiadores ao deixar tribunal em Surat - 3.abr.23/Reuters

A decisão pode impactar a participação dele nas eleições gerais de 2024, nas quais a sigla de Modi, o BJP (Bharatiya Janata Party, ou partido do povo indiano), é favorita. Desde que a pena foi divulgada, há pouco mais de uma semana, a defesa de Gandhi anunciou que entraria com um recurso em um tribunal superior.

A estratégia era tentar impedir sua expulsão do Parlamento —a lei local determina a desqualificação de legisladores condenados à prisão por mais de dois anos, período correspondente à pena do político, além da inabilitação política por seis anos após o fim da sentença.

Em um primeiro momento, o plano não deu certo —apenas um dia depois da condenação, aliados de Modi no Legislativo agiram para desqualificar o opositor. Gandhi atribuiu a expulsão, que agora pode ser revertida, às suas denúncias de uma suposta ligação entre o premiê e Gautam Adani, fundador da multinacional que leva seu sobrenome.

"Fui desqualificado porque o premiê está com medo do meu próximo discurso sobre Adani", disse Gandhi a repórteres, segundo relato da rede americana CNN, um dia depois de sua desqualificação. A oposição questiona os investimentos de estatais no grupo, que recebeu a gestão de seis aeroportos nos últimos anos —a Adani nega irregularidades.

O movimento foi visto como um dos mais duros golpes para tentar eliminar vozes dissidentes no país e reverberou inclusive nos EUA, onde o senador democrata Chris Van Hollen afirmou, no Twitter, que a notícia era "alarmante". "Numa democracia saudável, você não silencia a oposição –você a debate."

Gandhi foi processado por afirmar, antes das últimas eleições gerais, em 2019, que "todos os ladrões se chamam Modi", uma referência ao premiê e a dois empresários indianos fugitivos, todos com o mesmo sobrenome, associado, porém, aos níveis considerados mais baixos do sistema indiano de castas.

À época, Modi foi reeleito em uma vitória avassaladora. Já a sigla opositora Congresso Nacional Indiano registrou seu pior desempenho, com 52 assentos na Câmara baixa do Parlamento, de 542 membros.

"Insultar todos de sobrenome Modi é completamente difamatório", afirmou no dia da condenação Ravi Shankar Prasad, parlamentar governista. "Houve uma audiência adequada. Ele teve a oportunidade de apresentar seu lado. A decisão foi tomada de acordo com o devido processo judicial."

No tribunal, Gandhi afirmou que pretendia apenas denunciar a corrupção no país.

"O discurso de 2019 não teve como objetivo difamar milhões de pessoas com o sobrenome Modi", disse o advogado de defesa de Gandhi, Hiral Panwala, à agência de notícias Reuters.

"Nesta luta, a verdade é minha arma e meu apoio!" escreveu o político nesta segunda, no Twitter, após deixar o complexo judicial em Surats. Apoiadores e membros de sua sigla se reuniram em frente ao local, em apoio a ele, que estava acompanhado de sua irmã mais nova.

Modi é acusado de tentar neutralizar opositores com processos judiciais. Relatório do instituto sueco V-Dem considera a Índia uma autocracia eleitoral —ou seja, um país com pleitos multipartidários, mas aquém em relação a outros pilares democráticos. Desde seu primeiro mandato, ele concentrou poder e sufocou parte da mídia independente, cortando a propaganda oficial em veículos críticos a seu governo.

Com a vitória de 2019, o premiê começou a implementar uma agenda pró-hindu e a desafiar princípios de pluralismo da democracia laica. A primeira medida foi a revogação da autonomia constitucional da Caxemira, única região de maioria muçulmana na Índia, o que gerou protestos reprimidos pela polícia.

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