Descrição de chapéu África

Milhares de pessoas fogem da capital do Sudão no 5º dia de conflito

Combates entre facções militares já deixaram ao menos 270 vítimas e cenário de destruição

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Cartum (Sudão) | AFP

Milhares de pessoas tentaram fugir de Cartum, capital do Sudão, nesta quarta-feira (19), enquanto novos combates entre Exército e grupos paramilitares se desenrolam no país. Até o momento, o conflito já provocou a morte de 270 pessoas e gerou destruições visíveis por meio de imagens de satélite.

Após novo fracasso na tentativa de trégua, desta vez de 24 horas, a população ouviu explosões e tiroteios e viu uma coluna de fumaça subir do quartel-general do Exército, durante este quinto dia de confrontos.

Sudaneses caminham por rua em Cartum, em quarto dia de combate na capital sudanesa - 18.abr.23/AFP

A violência explodiu no sábado (15), quando tropas dos dois generais que tomaram o poder em um golpe de Estado de 2021 entraram em choque. Eles divergem sobre como integrar a milícia RSF (Forças de Apoio Rápido, em português), comandada por Mohamed Hamdan Dagalo, ao Exército. Tal diferença fez Hemedti, como é conhecido, e Fatah al-Burhan, general que chefia o país africano, entrarem em conflito.

Combatentes das RSF em caminhões com armas pesadas circularam pelas ruas nesta quarta, e caças do Exército atiraram contra alvos paramilitares, segundo testemunhas ouvidas pela agência de notícias AFP.

A Força Aérea e a artilharia dos dois lados bombardearam nove hospitais em Cartum. No total, 39 dos 59 centros médicos das áreas afetadas pelos combates estão fora de operação, segundo fontes médicas. Em razão do bloqueio de estradas, os centros de saúde já alertavam para a falta de insumos na segunda (19).

A escassez de alimentos, os apagões e a falta de água encanada desesperam os civis que permanecem em suas casas —a trégua humanitária malsucedida pôs fim à esperança de muitos que tentavam fugir.

Quem tenta sair enfrenta um cenário de devastação. Nesta quarta, milhares abandonaram suas casas na capital, de 5 milhões de habitantes —alguns estavam em veículos e outros a pé, incluindo mulheres e crianças. Segundo testemunhas, as ruas estão repletas de cadáveres e exalam um odor de decomposição.

Os danos podem ser vistos em imagens de satélite que mostram a destruição na sede do Exército, no edifício dos serviços de inteligência e num estacionamento de caminhões-tanque. Quando os combates diminuem, moradores buscam alimentos e outros itens nos mercados —na segunda, os estabelecimentos diziam que só conseguiriam seguir operando por mais alguns dias devido à falta de abastecimento.

Imagem de satélite da Maxar Technologies tirada na segunda (17) mostra aviões destruídos no Aeroporto Internacional de Cartum - Maxar Technologies - 17.abr.23/via AFP

Governos estrangeiros começaram a retirar voluntários e trabalhadores, que relatam dificuldades para seguir com suas atividades. No conflito, três funcionários do Programa Mundial de Alimentos da ONU foram mortos em Darfur, e o órgão denunciou "saques, ataques e violência sexual contra colaboradores".

Além disso, um comboio diplomático dos EUA foi atingido por tiros, o embaixador da União Europeia foi agredido em sua casa e o diretor da missão humanitária do bloco foi hospitalizado após ser baleado.

Após o colapso da trégua, o Exército acusou as RSF de violar o acordo e de prosseguir com ataques ao redor do quartel e do aeroporto. A facção, por sua vez, diz que o Exército rompeu a trégua com "ataques esporádicos" contra suas forças e bases ao redor da capital. Os combates deixaram ao menos 270 mortos e mais de 2.600 feridos, segundo a OMS, que teve acesso a dados do Ministério da Saúde do Sudão.

Imagem de satélite mostra prédio em chamas na Base Aérea de Merowe, no Sudão
Imagem de satélite mostra prédio em chamas na Base Aérea de Merowe, no Sudão - 18.abr.23/Maxar Technologies via Reuters

"Nenhuma parte parece estar vencendo e, levando em consideração a intensidade dos combates, as coisas podem piorar antes que os dois generais sentem na mesa de negociações", afirmou à agência de notícias AFP Clément Deshayes, do Instituto de Pesquisas Estratégicas da Escola Militar, na França.

A violência que se intensificou nos últimos dias não começou no último sábado. Mais de 120 civis morreram na repressão contra as manifestações pró-democracia dos últimos 18 meses.

O início dos confrontos, porém, foi o ponto máximo das profundas divergências entre o exército e as RSF, criadas em 2013 por Omar al Bashir —ditador deposto pelos então aliados Hemedti e Burhan em abril de 2019, depois de grandes protestos contra as três décadas de ditadura.

Em outubro de 2021, ambos lideraram um golpe contra o governo civil instalado após a queda de Bashir, o que acabou com a transição apoiada pela comunidade internacional. Burhan, atual líder do país, afirmou que o golpe era "necessário" para incluir outras facções na política. Para Hemedti, porém, a tomada do poder não gerou mudanças e reforçou a presença de remanescentes do regime de Bashir.

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