Descrição de chapéu machismo

Regime do Irã instala câmeras nas ruas para punir mulheres sem véu

Número de iranianas sem hijab em locais públicos vem crescendo desde a morte de Mahsa Amini

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Teerã | Reuters

Autoridades do Irã estão instalando câmeras em locais públicos para identificar e penalizar mulheres sem véu, anunciou a polícia do país neste sábado (8). Trata-se de mais uma tentativa do regime de controlar o crescente número de mulheres que desafiam o código de vestimenta obrigatório na nação islâmica.

Segundo o comunicado, as câmeras ajudarão as autoridades a identificar quem violar as regras. Depois, elas serão notificadas, via mensagem de texto, sobre as consequências do que o regime considera uma transgressão. A medida pretende "prevenir a resistência contra a lei do hijab", informa o documento. O regime alega que tal resistência mancha a imagem espiritual do país e espalha insegurança.

Mulheres assistem a pronunciamento do líder supremo do Irã, Aiatolá Khamenei, durante encontro de membros do regime em Teerã - Khamenei.ir/Divulgação - 4.abr.23/via AFP

Sob a lei islâmica do Irã, imposta após a revolução de 1979, mulheres são obrigadas a cobrir os cabelos e usar roupas largas para disfarçar suas silhuetas. Quem descumpre regras enfrenta repreensão pública, multas ou prisão.

Ainda assim, várias iranianas desafiam o código. É comum, por exemplo, ver mulheres sem véu em shoppings, restaurantes, lojas e ruas de todo o país. Vídeos de mulheres sem a vestimenta resistindo à polícia moral inundaram as redes sociais recentemente, depois dos protestos contra a morte, em setembro, da curda Mahsa Amini, 22, presa por supostamente descumprir o rígido código de vestimenta.

As forças de segurança reprimiram violentamente a revolta, e centenas de manifestantes e dezenas de policiais foram mortos durante as manifestações. Outros milhares foram presos. O regime iraniano condenou ao menos 20 manifestantes à pena de morte, e alguns foram enforcados em praça pública.

Tais contrastes evidenciam também a atual divisão da sociedade iraniana: de um lado, há quem defenda a liberdade das iranianas em frequentar lugares públicos sem usar o hijab ou outros tipos de véus islâmicos; do outro, há aqueles alinhados à retórica tradicionalista do regime iraniano.

Na semana passada, um vídeo de um homem agredindo duas mulheres com os cabelos à mostra repercutiu nas redes sociais. Na ocasião, o homem jogou o que parece ser um pote de iogurte sobre as cabeças das duas. O caso aconteceu em uma mercearia próxima de Mashhad, cidade sagrada no Irã, e todos os envolvidos no episódio foram punidos, inclusive o dono do estabelecimento e as vítimas.

Não à toa o comunicado deste sábado pede aos proprietários de empresas que "monitorem seriamente a observância das normas sociais com suas inspeções diligentes". No caso do iogurte, por exemplo, a mercearia foi fechada temporariamente, e o dono da loja precisou prestar esclarecimentos à Justiça.

Descrevendo o véu como "uma das fundações civilizacionais da nação iraniana" e "um dos princípios práticos da República Islâmica", o Ministério do Interior declarou em 30 de março que o regime não vai flexibilizar a regra —a despeito da pressão internacional, que Teerã costuma associar sempre aos EUA.

Em outra frente dos recentes distúrbios no Irã, a imprensa local informou que ao menos 60 estudantes foram envenenadas neste sábado em uma escola para meninas em Haftkel, na província de Khuzestan. Nos últimos meses, mais de 5.000 alunas foram intoxicadas em instituições de ensino de várias cidades.

Em março, Teerã anunciou a prisão de suspeitos com base em "investigações do serviço de inteligência", sem dar mais detalhes. Uma dessas pessoas, segundo o regime, usava seu filho para colocar nas instituições de ensino substâncias que causavam irritação, além de enviar fotos das alunas após os envenenamentos para "meios de comunicação hostis". O objetivo, segundo a pasta, era "criar medo entre as pessoas e provocar o fechamento de escolas".

O líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, solicitou "sentenças severas", incluindo pena de morte, para os responsáveis pelos envenenamentos.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.