Rússia nega recurso de repórter dos EUA preso sob acusação de espionagem

Jornalista americano Evan Gerchkovitch, do Wall Street Journal, seguirá detido até pelo menos 29 de maio

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São Paulo

A Justiça da Rússia negou nesta terça-feira (18) um recurso apresentado pela defesa do jornalista americano Evan Gerchkovitch para que ele fosse libertado sob fiança da prisão preventiva à qual está sujeito desde março devido a acusações de espionagem em solo russo.

Trata-se da primeira vez que Gerchkovitch, repórter do Wall Street Journal, apareceu em público desde que foi detido. Como é de praxe no país, o jornalista, julgado na capital, Moscou, estava dentro de uma espécie de cabine de vidro, onde ficam os réus durante audiências.

O jornalista americano Evan Gerchkovitch, preso na Rússia sob acusações de espionagem, durante audiência em tribunal de Moscou
O jornalista americano Evan Gerchkovitch, preso na Rússia sob acusações de espionagem, durante audiência em tribunal de Moscou - Natalia Kolesmokova - 18.abr.23/AFP

A defesa de Gerchkovitch havia solicitado que ele fosse libertado sob fiança de cerca de 50 milhões de rublos (R$ 3 milhões) —montante que seria pago pela Dow Jones, empresa responsável pela publicação do Wall Street Journal— ou, então, colocado em prisão domiciliar.

Com a negativa do tribunal, o repórter seguirá preso até pelo menos 29 de maio. Tatiana Nojkina, sua advogada, disse após a audiência que Gerchkovitch seguia resiliente e "pronto para se defender e mostrar que é inocente". A defesa irá recorrer da decisão desta terça-feira.

Além de muitos jornalistas russos ou estrangeiros que, assim como ele, atuam na Rússia, cobrindo em especial a Guerra da Ucrânia, também estava no tribunal a embaixadora dos EUA no país, Lynne Tracy.

Ela disse ser "perturbador ver Gerchkovitch, um jornalista inocente, preso nessas circunstâncias". A diplomata, que esteve com o repórter na segunda, na primeira visita do tipo desde que ele foi detido, voltou a afirmar que as acusações são sem fundamento e que Washington tem pressionado Moscou a libertá-lo.

Gerchkovitch foi preso pelo FSB (Serviço Federal de Segurança da Rússia) em 29 de março, em Iekaterinburgo, na divisa entre as porções europeia e asiática do país. Caso sejam acatadas, as acusações contra ele poderiam levar a uma sentença de 20 anos de prisão.

O repórter é o primeiro jornalista americano detido na Rússia por denúncias desse tipo desde o fim da Guerra Fria. A prisão gerou uma onda de comoção internacional, com organizações jornalísticas e de direitos humanos —algumas do Brasil, inclusive— pedindo que ele seja colocado em liberdade.

Filho de emigrados da era soviética, Gerchkovitch está na prisão de Lefortovo, antes administrada pela KGB, órgão de segurança dissolvido após o fim da União Soviética. O local é tradicionalmente usado para prender acusados de espionagem e de outros crimes considerados graves pelo Kremlin.

A audiência desta terça-feira, no entanto, não abordou o conteúdo das acusações que pesam contra ele. Em vez disso, o tribunal moscovita julgou apenas se Gerchkovitch deveria ou não permanecer detido.

A defesa do americano relatou que o repórter, fluente em russo, tem lido na prisão, especialmente literatura do país onde hoje está detido, como "Guerra e Paz", de Liev Tolstói. Os EUA, incluindo o presidente Joe Biden, já condenaram a prisão, caracterizando-a como ilegal.

O jornalista havia sido credenciado pelo próprio Ministério das Relações Exteriores russo para exercer a profissão no país, seguindo o rito comum para correspondentes estrangeiros. O Serviço Federal de Segurança, porém, agora o acusa de "agir sob instruções do lado americano para coletar informações que constituem um segredo de Estado sobre atividades de um complexo militar-industrial russo".

Moscou, porém, não apresentou provas que sustentem as alegações. A prisão faz parte da crescente repressão às liberdades de imprensa e de expressão no país desde o início da guerra. Com uma lei de censura à mídia independente, o governo forçou jornalistas a se exilarem para exercerem seu trabalho.

Na semana passada, Serguei Riabkov, um dos vice-ministros das Relações Exteriores da Rússia, disse que serviços de inteligência dos EUA e da Rússia estão em contato sobre uma possível troca do repórter por um prisioneiro russo no país americano. O trâmite, porém, só poderia ser realizado após o julgamento.

Em dezembro, a jogadora de basquete americana Brittney Griner foi libertada pela Rússia após Moscou e Washington concordarem em realizar uma troca de prisioneiros. Griner estava detida devido à acusação de posse de haxixe, e a contrapartida foi a libertação de Viktor Bout, condenado por tráfico de armas.

Com Reuters

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