Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Lula confirma encontro com Zelenski em cúpula do G7 no Japão

Presidente da Ucrânia tenta convencer líderes do Brasil e da Índia a adotarem postura mais efusiva contra a Rússia

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Hiroshima (Japão)

Após um impasse que reinava desde sexta (19), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concordou com uma reunião bilateral com seu homólogo da Ucrânia, Volodimir Zelenski, em Hiroshima, no Japão, onde ambos participam como convidados da cúpula do G7.

De acordo com fontes que solicitaram anonimato, o pedido foi aceito ainda no sábado e, agora as delegações negociam um o horário para o encontro —o governo brasileiro propôs que ele ocorra no final da tarde deste domingo (21), manhã da mesma data no horário brasileiro.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, durante reunião bilateral com seu homólogo francês, Emmanuel Macron, às margens da cúpula do G7, em Hiroshima - Ludovic Marin/AFP

Zelenski chegou a Hiroshima no próprio sábado, e se encontrou à noite com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, que afirmou que iria fazer "todo o possível" para buscar uma solução para a guerra no país. O país se tornou o maior comprador do petróleo russo após o início da guerra, minando os esforços da Otan, a aliança militar ocidental, para sufocar financeiramente o regime de Vladimir Putin.

O encontro de ambos foi na sala ao lado daquela em que, ao mesmo tempo, Lula se reunia com o presidente da França, Emmanuel Macron, para longa conversa que abordou, entre outros temas, a guerra. O francês declarou publicamente acreditar que a presença do ucraniano podia "mudar o jogo", representando uma "ocasião única" para ele conversar com os líderes de países emergentes convidados.

Os dois líderes do Sul Global são o principal alvo de Zelenski na cúpula, que busca convencê-los a se afastar da posição de neutralidade que mantêm desde o início do conflito, há quase 15 meses.

Antes de viajar ao Japão, o ucraniano esteve na Arábia Saudita, outro líder emergente que vem mantendo neutralidade. A exemplo de Modi, o primeiro-ministro Mohammed bin Salman não deu sinal de alterar a posição do país em relação à Rússia, com a qual divide o comando do cartel de produtores de petróleo Opep+.

Lula e Modi, aliás, programaram para a manhã um encontro bilateral em que se espera que conversem sobre a guerra. O brasileiro deve falar das iniciativas de paz para a Ucrânia não relacionadas ao G7, lançadas por Brasil, China e, agora, países do continente africa, encabeçados pela África do Sul. O indiano afirmou que pretendia "amplificar as vozes e preocupações do Sul Global".

Logo em seguida, perto do 12h, estarão ao lado de Zelenski, do americano Joe Biden e dos outros membros do G7 e convidados em uma sessão de trabalho sobre a busca pela paz, prosperidade e estabilidade mundial.

Zelenski já havia pedido um encontro pessoal com Lula duas semanas atrás, em conversa com o assessor especial Celso Amorim, enviado a Kiev pelo presidente brasileiro. Na ocasião, o ex-chanceler descreveu o diálogo então como "positivo, de criação de confiança".

O brasileiro começou a defender uma mediação entre Ucrânia e Rússia ainda durante sua campanha à Presidência, quando foi capa da revista Time e afirmou que, como "ninguém está procurando contribuir para ter paz, é preciso estimular um acordo".

Na entrevista, um ano atrás, disse que Zelenski era "tão responsável quanto Putin" pelo conflito, que transformou em um espetáculo. Culpou ainda os Estados Unidos e a União Europeia pela invasão por não recusarem a entrada da Ucrânia na Otan —Putin alega que sua ofensiva é um reação à a aproximação das fronteiras dos países membros da aliança em relação a seu país.

Em janeiro, já presidente, Lula negou um pedido do premiê alemão, Olaf Scholz, para enviar munição à Ucrânia e lançou diante dele a ideia de "um clube das pessoas que vão querer construir a paz". Em fevereiro, à CNN, descreveu a guerra como "um erro histórico" de Putin. No início de abril, em entrevista coletiva, disse que "Putin não pode ficar com terreno da Ucrânia", mas "talvez se discuta a Crimeia", península anexada pela Rússia em 2014. E acrescentou que Zelenski "não pode ter tudo o quer".

A declaração que causou maior reação da comunidade internacional veio no final de abril, quando Lula encerrava uma visita a Pequim. Na ocasião, o petista disse ser necessário que "os EUA parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz, para a gente convencer o Putin e o Zelenski de que a paz interessa a todo mundo".

A partir daí, Brasília passou a ser alvo de pressões explícitas de Washington, com o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca dizendo que o petista estava repetindo a propaganda russa como um papagaio.

Foi em meio a essa crise que Lula enviou Amorim a Kiev. Logo em seguida, Xi Jinping, o líder chinês, ligou para o ucraniano e, na semana passada, enviou representante para falar com Zelenski e explorar algum entendimento. Mais recentemente, novos atores se apresentaram como mediadores de uma eventual paz no conflito, como a África do Sul e, agora, a Arábia Saudita.

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