Prefeita de San Francisco rebate ideia de que cidade vive 'espiral de desgraça'

London Breed fala sobre dificuldades da região que não se recuperou no pós-pandemia e convive com violência e drogas

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Thomas Fuller
The New York Times

San Francisco é uma exceção entre as grandes cidades americanas por sua incapacidade de voltar à normalidade depois dos lockdowns da pandemia de Covid. Quase um terço dos espaços de escritório no centro da cidade está desocupado –a maior parcela de qualquer grande cidade dos Estados Unidos.

Mais estabelecimentos fecham toda semana, ao passo que funcionários continuam a trabalhar de casa, especialmente os de tecnologia. No último dia 12, a rede Westfield anunciou que vai fechar o maior shopping do centro da cidade, o Westfield San Francisco Centre.

A prefeita de San Francisco, a democrata London Breed
A prefeita de San Francisco, a democrata London Breed - Clara Mokri/The New York Times

E San Francisco enfrenta uma crise devido ao grande número de pessoas em situação de rua e de overdoses de drogas. Quando um supermercado da rede Whole Foods a pouca distância da sede da prefeitura fechou as portas, em abril, depois de fazer mais de 500 ligações para os serviços de emergência em 13 meses, muitas pessoas entenderam o episódio como um símbolo dos problemas da cidade.

A prefeita London Breed, democrata que nasceu e sempre viveu em San Francisco, foi entrevistada pelo New York Times duas vezes nos últimos dois meses, mais recentemente no dia 14 de junho.

Seguem-se trechos editados das duas entrevistas.

O símbolo de San Francisco, estampado na bandeira da cidade, é uma fênix que se eleva das cinzas. Como fazer esta cidade renascer? Ninguém quer estar nas cinzas. Passei minha vida inteira nesta cidade e sei do que ela é capaz. San Francisco sempre se reinventa. A cada vez, emergimos como uma cidade melhor.

Muito antes do influxo atual de profissionais do setor de tecnologia, San Francisco era conhecida pela arte e cultura. A cidade voltará a ser financeiramente acessível a artistas e músicos? Se conseguirmos deixar de criar obstáculos para nós mesmos, se nos livrarmos da burocracia e se conseguirmos construir 82 mil unidades habitacionais nos próximos oito anos, é possível que sim.

Não podemos continuar sendo uma cidade daqueles que ganham muito dinheiro e daqueles que não ganham quase nada, enquanto as pessoas no meio são espremidas e não sobra lugar para elas.

A senhora apresentou um projeto que, se for aprovado, vai liberalizar os regulamentos da cidade para a conversão de escritórios em residências. Isso está perto de se concretizar? A legislação acaba de ser aprovada pelo Conselho de Supervisores. Parece que conta com apoio amplo. Parte do que minha legislação se propõe a fazer é eliminar as exigências que não fazem absolutamente nenhum sentido.

"Inchada" seria o termo correto para descrever a burocracia? Está inchada, sem dúvida. A burocracia é o maior obstáculo para lidarmos com os desafios que temos. Ela nos diz cinco maneiras diferentes em que não podemos fazer determinada coisa. Anos e anos para resolver problemas que não são mais problemas.

Pensa que, de certo modo, está tentando contestar alguns dos princípios da ideologia progressista –revogando leis que foram criadas para proteger pessoas, pedindo a prisão de usuários de drogas? Não sei se eu atribuiria isso a uma ideologia apenas. Mas a tarefa de uma prefeita é fazer o que precisa ser feito. E ninguém quer ouvir desculpas sobre por que você não consegue.

San Francisco é uma cidade de compaixão. Essa é uma das coisas das quais a cidade se orgulha. A senhora está sendo criticada por seus chamados pela prisão de usuários de drogas. Como passei a infância e adolescência em San Francisco, minha visão difere da de pessoas que têm problemas com minha abordagem. Tenho relacionamentos com muitas das pessoas que enfrentam dificuldades diárias e que sofrem com o vício. O vício precisa ser tratado sem leniência. Requer força, não tolerância.

O que acha dessa ideia da "espiral de desgraça" –de que a cidade vai mergulhar num ciclo de deterioração crescente devido a todos os problemas que enfrenta? Previram isso para San Francisco após a explosão da bolha ponto.com. Previram isso para San Francisco durante a epidemia de crack. A gente continua a ver artigos nesse tom. Já fomos descartados antes. E houve outros que tentaram insinuar que está tudo acabado porque as coisas não estão acontecendo na velocidade ou da forma que pensam que deveriam.

Até que ponto o fechamento do Whole Foods na Market Street simbolizou os problemas que a cidade está enfrentando –não tanto criminalidade séria, mas pequenos furtos e atritos em lojas? Ir a um supermercado não deveria ser uma experiência cheia de percalços. Lembro-me de quando um supermercado Safeway foi aberto no meu bairro quando eu era criança. A gente curtia passar pelo mercado a caminho da escola. Isso mudou. Hoje em dia você vai ao mercado e toda hora vê pessoas saindo de lá com mercadorias nas mãos e travando discussões com os funcionários. E ninguém consegue fazer nada. Há um nível de frustração que se deve a isso. E quando eles precisam lidar com isso todos os dias, posso entender que os funcionários possam dizer que para eles já chega.

Tradução de Clara Allain 

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