Ditador da Nicarágua chama Zelenski de nazista e ataca União Europeia

Daniel Ortega critica bloco europeu por ter solicitado participação do líder ucraniano na cúpula com a Celac

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Manágua | AFP

O ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, criticou a União Europeia nesta quarta-feira (19) pela insistência do bloco para que o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, participasse da cúpula com a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), evento concluído na terça (18) em Bruxelas, na Bélgica.

Ortega chamou Zelenski de nazista e fascista. "Nesta reunião da União Europeia com a Celac, queriam incluir o fascista, o presidente nazista da Ucrânia", disse ele durante discurso de celebração dos 44 anos da Revolução Sandinista, que derrubou a ditadura de Anastasio Somoza.

O ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, durante ato para comemorar o 44º aniversário da Revolução Sandinista, em Manágua
O ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, durante ato para comemorar o 44º aniversário da Revolução Sandinista, em Manágua - Cesar Perez - 19.jul.23/Governo da Nicarágua via AFP

O discurso se assemelha aos argumentos do líder russo, Vladimir Putin, para invadir o país vizinho —o líder do Kremlin alega que seria preciso "desnazificar a Ucrânia". Especialistas, porém, afirmam que o país, assim como outros, tem células neonazistas, mas isso não significa que seu governo tem esse viés.

O encontro Celac-UE reuniu líderes dos 33 países da América Latina e do Caribe e 27 da UE e terminou com uma declaração que expressa preocupação com a Guerra da Ucrânia, mas sem referência à Rússia.

O texto final recebeu o apoio de 59 participantes, sendo que a Nicarágua foi a única nação que se recusou a assinar o parágrafo. O país é um dos sete que, em fevereiro, votaram contra resolução da ONU que exigia a retirada imediata das tropas russas da Ucrânia.

Ortega criticou as sanções impostas pelo Ocidente. "Propusemos que fosse redigido o acordo para pedir o fim da política de agressões, das sanções contra Cuba, em primeiro lugar, mas também Venezuela e Nicarágua, mas não aceitaram incluir isso."

Ainda que o texto final da cúpula não tenha feito menção a esse fator, uma declaração separada de Brasil, Argentina, Colômbia, França e UE que pedia eleições justas em Caracas pediu também o fim das sanções contra o regime liderado por Nicolás Maduro —Manágua tampouco foi contemplada nesta discussão.

No evento desta quarta, Ortega ainda elogiou o ex-ditador líbio Muammar Gaddafi. No controle do país por 42 anos, ele foi assassinado em 2011 em meio à Primavera Árabe, onda de protestos que ocorreu no Oriente Médio e no Norte da África. "Não podemos esquecer Gaddafi, que nos deu solidariedade incondicional", afirmou, antes de acrescentar que os EUA e seus aliados europeus "destruíram a Líbia".

Ortega liderou o governo sandinista nos anos 1980 e retornou ao poder em 2007. Com a esposa, Rosario Murillo, capitaneou uma guinada autoritária no país. Milhares de simpatizantes do regime participaram desde a noite de terça (18) de uma vigília que terminou na madrugada desta quarta com fogos de artifício em celebração ao aniversário do fim da ditadura Somoza no país, encerrada em 19 de julho de 1979.

Em março, relatório do Conselho de Direitos Humanos da ONU fez duras críticas à repressão capitaneada por Ortega e Murillo. O estudo disse que as ações da ditadura configuram crimes contra a humanidade.

À época, o líder da equipe, o pesquisador Jan-Michael Simon, comparou as ações da ditadura com o nazismo. "O uso do sistema de Justiça contra oponentes políticos da maneira que é feito na Nicarágua é exatamente o que o regime nazista fez", afirmou.

A Nicarágua é alvo de sanções de UE e EUA pelo tratamento dado a opositores desde as manifestações de 2018, quando uma mobilização contrária a uma reforma da Previdência catalisou protestos e despertou repressão massiva. Para Ortega, os atos foram uma tentativa de golpe promovida por Washington.

Segundo a CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), ao menos 355 pessoas foram mortas nessas manifestações. Alguns ex-líderes sandinistas que participaram da revolução integraram os atos de 2018 e receberam punições do regime, incluindo expatriação, perda de nacionalidade e confisco de bens.

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