Descrição de chapéu Partido Republicano

Na mira da Justiça, Trump arrecada menos doações que seus principais adversários

Ron DeSantis, governador da Flórida, desponta como líder neste ranking na largada da corrida eleitoral americana

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Washington

Em meio à sequência de investigações de que é alvo e enquanto espera ser indiciado na esfera criminal pela terceira vez, Donald Trump largou na corrida eleitoral atrás de seus principais adversários —ao menos no que diz respeito às doações de campanha.

Dados do Comitê Federal de Eleições do período em que surgiram as acusações contra o ex-presidente dos EUA mostram que, entre 1º de abril e 30 de junho, Trump arrecadou US$ 17,7 milhões (R$ 85 milhões).

O ex-presidente Donald Trump discursa durante evento na Flórida
O ex-presidente Donald Trump discursa durante evento na Flórida - Joe Raedle - 15.jul.23/Getty Images via AFP

Em 4 de abril, ele se apresentou à Justiça de Nova York e se tornou o primeiro ex-presidente da história dos EUA réu por uma acusação criminal, em caso que envolve suposta fraude na compra de silêncio de uma atriz pornô. Em 13 de junho, voltou aos tribunais para responder a acusações federais de violações na lei de espionagem, entre outras, por documentos que não poderia ter levado da Casa Branca.

As acusações até impulsionaram as doações ao republicano, mas ele ainda está atrás de seus principais oponentes. Nessa primeira fase, Joe Biden, atual presidente e candidato à reeleição, arrecadou US$ 19,9 milhões (R$ 95,6 milhões). Mas o campeão foi o governador da Flórida, Ron DeSantis, que disputa contra Trump a indicação republicana. Ele levantou até aqui US$ 20,1 milhões (R$ 96,6 milhões).

Mike Pence, que foi vice de Trump e aparece em terceiro lugar na corrida republicana, levantou apenas US$ 1,2 milhão (R$ 5,8 milhões) no período, abaixo até de outros pré-candidatos que pontuam bem menos que ele. Isso porque alguns de seus adversários, principalmente executivos como Vivek Ramaswamy e Doug Burgum (governador da Dakota do Norte), aportaram milhões de seus próprios bolsos.

Essa rodada é crucial para os pré-candidatos pois envolve a barreira do Partido Republicano para afunilar o número de concorrentes. Uma cláusula interna exige que, para se qualificar para o primeiro debate presidencial, pré-candidatos precisam alcançar 40 mil doadores pelo país, com ao menos 200 em 20 estados diferentes. O primeiro debate republicano acontecerá em 23 de agosto, em Wisconsin.

Em meio aos problemas na Justiça, Trump tem enfrentado resistência de doadores importantes do mercado financeiro. Análise dos dados do Comitê Federal de Eleições feita pelo canal americano NBC apontou que peixes grandes em Wall Street vêm apostando mais em seus rivais.

DeSantis recebeu doações de 15 grandes nomes, como o bilionário gestor de fundos de investimento Paul Tudor Jones, segundo a reportagem. Trata-se de uma reprise do que o ex-presidente viu quando tentou disputar a reeleição em 2020. Na ocasião, ele recebeu US$ 18 milhões (R$ 86 milhões) de doações do mercado financeiro em todo o ciclo eleitoral, enquanto Biden atraiu US$ 74 milhões (R$ 355 milhões).

Desta vez, a situação fica mais complicada para Trump porque ele vai disputar as primárias enquanto responde às acusações na Justiça e precisará convencer doadores a atrelar seus nomes a um réu.

Ele responderá em outubro a acusações civis de fraude na Justiça nova-iorquina junto à sua família por supostamente inflar o valor de suas empresas em busca de benefícios financeiros, num processo tocado pela procuradora Letitia James. Em janeiro, deve responder a outro processo civil, por difamar a escritora E. Jean Carroll, que o acusa de estupro.

Em março, começa o julgamento de sua primeira acusação criminal, a de falsificar registros comerciais para esconder o esquema da compra de silêncio de uma atriz pornô na campanha de 2016. Nesta sexta (21), a Justiça marcou para 20 de maio as primeiras audiências do processo por levar documentos secretos da Casa Branca, armazená-los sem cuidado e exibi-los a outras pessoas.

Tudo isso enquanto ocorrem as primárias republicanas.

Além desses casos, Trump aguarda o terceiro indiciamento criminal —e segundo na esfera federal—, no inquérito que investiga sua responsabilidade na invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.

Ele afirmou ter recebido uma carta no domingo (16) pedindo que comparecesse à Justiça em quatro dias —portanto, nesta quinta (20), dia em que se reuniu o "grande júri", grupo de "pessoas comuns" previsto no direito americano que analisa indícios e decide se um processo criminal deve seguir.

O ex-presidente não compareceu, mas William Russell, auxiliar que atua na campanha de reeleição e estava com Trump no dia da invasão do Congresso, esteve no tribunal em Washington, onde o grupo se reuniu. A carta enviada ao ex-presidente pelo procurador especial para o caso, Jack Smith, aponta que ele é investigado por três crimes, segundo autoridades do Departamento de Justiça relataram à imprensa americana: privação de direitos, conspiração para fraudar os EUA e obstrução da Justiça.

As primeiras acusações inflamaram a base de Trump e melhoraram seus índices nas pesquisas —ele é, de longe, o mais bem posicionado entre os pré-candidatos republicanos—, mas o ex-líder americano tem dificuldades para angariar a simpatia de nomes grandes do partido.

Trump tem se irritado com a falta de apoio do chefe da Câmara, Kevin McCarthy, que chegou ao cargo com a ajuda do ex-presidente. No fim de junho, McCarthy disse que "não sabia" se Trump era o candidato mais forte da legenda, o que provocou a ira do ex-ocupante da Casa Branca. McCarthy até tentou remediar, após a repercussão negativa, mas o fato é que até agora não apoiou Trump expressamente.

Reportagem do portal Politico publicada nesta quinta afirmou que, para acalmar o ex-presidente, ele prometeu que a Câmara vai votar o cancelamento dos dois impeachments que ele sofreu na Casa —Trump foi absolvido no Senado e não perdeu o cargo, mas, no sistema político dos EUA, considera-se que um presidente sofreu impeachment mesmo que a votação só tenha passado na Câmara.

McCarthy e seu grupo político próximo, no entanto, passaram o dia negando a veracidade da reportagem.

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