Descrição de chapéu América Latina violência

Candidato no Equador defende prisões-barco para conter crise de violência

Surpresa do 1º turno, Daniel Noboa aposta em plano linha-dura em meio a eleição marcada por episódios sangrentos

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Guayaquil | AFP

O candidato de direita Daniel Noboa, surpresa no primeiro turno das eleições à Presidência do Equador propôs, nesta terça-feira (22), criar um sistema de prisões em embarcações em alto-mar para afastar os detentos perigosos daqueles que descreveu como "não violentos" e que, assim, ficariam apartados de redes criminosas.

Candidato à Presidência do Equador, Daniel Noboa, no domingo de eleição em que foi votado para ir ao segundo turno
Candidato à Presidência do Equador, Daniel Noboa, no domingo de eleição em que foi votado para ir ao segundo turno - Jimmy Negrete/API/AFP

Noboa já tinha explicado seu plano em entrevista ao canal de TV Ecuavisa anteriormente. "Temos um problema que é o tempo. Construir uma prisão leva muito tempo, pelo menos dois anos. Já consertar adequadamente as que temos e incorporá-las a um sistema de prisões em barcos pode ajudar a isolar os criminosos mais violentos", afirmou na ocasião. "[Assim] protegemos a integridade física dos não violentos e isolamos os violentos, muitos dos quais cometem crimes a partir das prisões."

As chamadas "barcas penitenciárias" teriam capacidade para "300 ou 400 presos", seriam localizadas "em águas equatorianas", a cerca de 130 km da costa, e contariam com "assistência das Forças Armadas para protegê-las", explicou o empresário à imprensa estrangeira na cidade de Guayaquil nesta terça-feira.

Filho do bilionário Álvaro Noboa, o candidato, 35, alcançou um surpreendente segundo lugar com 23% dos votos no pleito de domingo, marcado após o presidente Guillermo Lasso acionar um dispositivo constitucional conhecido como "morte cruzada", que dissolve o Parlamento e convoca eleições gerais, após ameaças de impeachment.

Noboa disputa em 15 de outubro o segundo turno contra a esquerdista Luisa González (34%), apoiada pelo ex-presidente Rafael Correa. Líder do país por uma década inteira, de 2007 a 2017, ele se exilou na Bélgica após ser condenado a oito anos de prisão em 2020, acusado de receber propinas para financiar suas campanhas presidenciais. Ele nega as acusações e acusa seus oponentes de perseguição política.

Em um país mergulhado na violência e encurralado por facções do narcotráfico, que usam prisões como centros de operações, Noboa levanta a bandeira da segurança pública como a principal necessidade do Equador —o tema, na prática, inundou os discursos e promessas de todos os candidatos.

Segundo o presidenciável, o aluguel das barcas prisionais custaria US$ 8 milhões (cerca de R$ 40 milhões) por ano, cada uma, se adquiridas por contratos de 8 a 10 anos. "Para comprá-las, neste momento, o Equador não tem dinheiro", afirmou.

Noboa chegou de surpresa ao segundo turno, realizado uma semana após o assassinato a tiros de um dos principais candidatos da corrida, Fernando Villavicencio. Ele é apoiado por forças de direita, que pedem políticas linha-dura contra organizações criminosas, embora insista em se apresentar como um "empresário com coração" e um "social-democrata moderado".

Antes visto como um pacífico país sul-americano, o Equador se transformou nos últimos anos em mais um palco da guerra entre cartéis, que impõem um regime de terror com matanças, sequestros e extorsões. Grupos ligados a organizações mexicanas e colombianas disputam o controle do narcotráfico e usam as prisões como parte de sua rede. Mais de 430 detentos morreram em massacres no país desde 2021.

No ano passado, o Equador alcançou um recorde de 26 homicídios por cada 100 mil habitantes, quase o dobro de 2021. Espera-se que a taxa suba para 40 neste ano.

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