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Equador atravessa dia da eleição à Presidência sem registrar casos de violência

Candidatos à Presidência votaram cedo e com forte proteção; eleitores no exterior registraram problemas em sistema online

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Quito

Um corredor formado por cerca de dez policiais recebe os eleitores numa escola em Magdalena, bairro periférico de Quito. Quem está com mochilas ou bolsas passa por uma rápida revista, enquanto dentro do colégio militares fardados monitoram a entrada de cada sala com armas longas em punho.

A presença de agentes em locais de votação é rotina no Equador, mas desta vez a segurança foi reforçada após tiroteios, ameaças a políticos e o assassinato a tiros do presidenciável Fernando Villavicencio. Em outras cidades, eleitores também passaram por revistas corporais e detectores de metais.

O jornalista Christian Zurita, ao centro, substituto do candidato à Presidência Fernando Villavicencio, que foi assassinado a tiros, deixa local de votação em Quito
O jornalista Christian Zurita, ao centro, substituto do candidato à Presidência Fernando Villavicencio, que foi assassinado a tiros, deixa local de votação em Quito - Galo Paguay/AFP

Apesar de todo o aparato, o clima foi de tranquilidade, sem nenhum incidente registrado até o fechamento das urnas, segundo a Polícia Nacional. Houve três notificações de ameaças e um pacote suspeito em diferentes províncias, mas os riscos foram "totalmente descartados", disse o general Fausto Salinas. Segundo ele, 430 pessoas foram detidas em ações desde o dia anterior, principalmente por "microtráfico".

O país elege um novo presidente e 137 legisladores neste domingo (20), antecipadamente, depois de o presidente Guillermo Lasso dissolver a Assembleia Nacional e convocar novas eleições para escapar de um processo de impeachment. Um possível segundo turno acontece em 15 de outubro, caso ninguém consiga mais de 40% dos votantes ou dez pontos de diferença do segundo colocado.

A maioria dos oito candidatos à Presidência foi às urnas cedo, para evitar aglomerações, e votou rodeada de seguranças ou militares, dando declarações breves à imprensa. Foi o caso de Luisa González, favorita nas pesquisas, que concorre pelo partido do esquerdista Rafael Correa, presidente de 2007 a 2017.

Um dos que optaram por mais proteção foi Christian Zurita, substituto de Villavicencio na corrida, que entrou no colégio vestindo colete à prova de balas e capacete após ter reportado neste sábado (19) uma ameaça de um perfil chamado "Cartel Jalisco N, G" por meio de um comentário nas redes sociais.

"Nas eleições passadas usei o TikTok, desta vez venho com colete à prova de balas", disse o candidato Xavier Hervas, também usando a proteção por baixo da camisa.

Além da situação de segurança, houve uma onda de reclamações nas redes de equatorianos que moram no exterior e não conseguiam votar, por um problema no "voto telemático", sistema de votação pela internet implementado pela primeira vez no país. O CNE (Conselho Nacional Eleitoral) disse que técnicos estavam atendendo cada um de forma personalizada e que todos poderiam votar até o fim do dia.

Mais tarde, o órgão divulgou que o sistema sofreu ataques cibernéticos, mas que os votos computados não foram comprometidos. "Ataques vieram de Índia, Bangladesh, Paquistão, Rússia, Indonésia, Ucrânia e China". Por isso, no exterior os resultados só serão transmitidos no Facebook e no YouTube do CNE.

No centro histórico, o motorista Santiago Guanoluisa, 50, diz não ter levado mochila porque já havia escutado a recomendação na imprensa. Ele notou uma agilidade maior desta vez: "Ao entrar, já dizem em que mesa você tem que votar, para que você não fique caminhando lá dentro", afirma ele, que optou por González. "Sempre voto em candidatos de Correa, o país estava melhor seis anos atrás."

O funcionário público Wilson Chulde, 57, também observou um aparato mais forte em Magdalena. "Sempre teve segurança, mas está mais forte. Eu me sinto seguro aqui em Quito, nas cidades da costa é mais complicado, Esmeralda, Manta, pelos atentados que estão acontecendo", diz ele.

Homem de branco posa em frente a escola
O funcionário público Wilson Chulde, 57, diz que se sente seguro ao votar em Quito e afirma ter votado no candidato indígena Yaku Pérez, por sua defesa do ambiente - Júlia Barbon/Folhapress

Grande parte dos 44 candidatos que pediram segurança ao Estado nesta campanha vem dessas cidades litorâneas, onde ficam portos estratégicos para o tráfico de cocaína aos EUA, à Europa e à Ásia. A briga entre gangues nessas regiões provocou uma explosão da violência no país nos últimos dois anos.

A escalada dos atentados políticos fez o Conselho Eleitoral pedir um reforço dos efetivos ao presidente Guillermo Lasso. Desde quinta-feira (17), todos os locais de votação do país estão sendo vigiados por 53 mil agentes da Polícia Nacional e 43 mil militares, o que dá, em média, um agente para cada 135 eleitores. Policiais à paisana também circulam pelos locais de votação.

"Não recebemos nenhuma informação ou alerta, mas como houve atentados envolvendo candidatos, estamos mais atentos. E também tem a orientação de manter os ambulantes longe, a 50 metros da entrada, para não haver muvuca", conta em Magdalena o policial Xavier, que não quis dizer o sobrenome.

A metros dali, a estudante Daiana Abril, 25, dizia que, apesar de estar a poucos minutos de votar, ainda não havia se decidido. "Todos sabem que querem uma mudança, mas não sabem por onde", afirma. Com uma campanha mais curta do que o normal e muitos candidatos novos, o nível de indecisão é alto. Metade dos equatorianos dizia estar indecisa a apenas dez dias do pleito, segundo pesquisa do Cedatos.

Mulher jovem de preto posa em frente a muro de escola de tijolos
A estudante Daiana Abril, 25, é um dos muitos eleitores que ainda estavam indecisos pouco tempo antes de entrar para votar - Júlia Barbon/Folhapress

Daiana, porém, afirma já saber que vai votar "sim" no plebiscito que também acontece neste domingo, que pergunta se o governo deve parar ou não de explorar petróleo na Amazônia, numa área do Parque Nacional Yasuní. Como muitos, ela afirma que a pergunta foi mal feita e deve confundir parte do eleitorado: "O mais lógico é responder 'não' à exploração de petróleo", diz.

O novo presidente e os deputados escolhidos exercerão seus mandatos por um ano e meio, até maio de 2025. Se houver segundo turno, o líder do Executivo assume em 30 de novembro, e os legisladores, em 26 de outubro. Os resultados começarão a ser conhecidos por volta de 19h30 (21h30 em Brasília).

Há também uma expectativa de uma porcentagem significativa de votos em branco e nulos. A dona de casa Diana Clavijo, 26, por exemplo, afirma ter votado nulo "justamente pela questão da segurança". "Porque se ganha um ou outro não quero me sentir culpada por outra crise", afirma ela, com seu bebê no colo.

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