Lula defende entrada da Arábia Saudita no Brics e diz que G7 está superado

Para presidente, FMI 'ajuda a afundar os países' e banco do Brics deve ajudar a desenvolver nações

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu nesta quarta (2) a expansão do Brics, para incluir a Arábia Saudita e outros países interessados. Ele também citou os Emirados Árabes Unidos e a Argentina.

Em seguida, o petista acrescentou que o G7, grupo que reúne algumas das principais economias globais, é um "clube" que não deveria existir, pois, para ele, sua forma de realizar geopolítica está superada. Lula disse ainda que o FMI (Fundo Monetário Internacional) muitas vezes ajudar a "afundar os países"

O Brics, bloco com Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, fará sua cúpula de 22 a 24 deste mês no país africano. O líder russo, Vladimir Putin, não participará da reunião presencialmente, já que há um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional contra ele —Pretória é signatária do tratado que criou a corte.

O presidente Lula durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília
O presidente Lula durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília - Pedro Ladeira - 20.jul.23/Folhapress

Lula então defendeu a expansão do bloco, sugerindo que seja um contraponto para "reeducar" as instituições atualmente controladas por potências ocidentais. "Acho extremamente importante a Arábia Saudita entrar no Brics. Os Emirados Árabes, se quiserem entrar no Brics, a Argentina, também", afirmou o presidente, acrescentando que a decisão precisa ser tomada por todos os países que formam o bloco.

Na sequência, o petista emendou críticas ao G7, cuja cúpula realizada no primeiro semestre deste ano, no Japão, contou com a participação do líder brasileiro. "Espero que um dia as pessoas percebam que o jeito de discutir política no G7 está superado. É preciso abrir. Na verdade, o G7 nem deveria existir depois da criação do G20. As mesmas pessoas participam do G7 e do G20, então não sei para que essa continuidade. Mas as pessoas criaram um clube, querem participar, e não sou eu quem vai impedir."

A declaração foi dada durante café da manhã com correspondentes estrangeiros no Palácio do Planalto. Esta é a terceira vez que o presidente realiza encontro com jornalistas dessa forma. Da primeira vez, ele se reuniu com repórteres que atuam na cobertura da presidência, e, na segunda, com colunistas.

Lula aproveitou o encontro com a mídia internacional para criticar diversas organizações controladas por grandes potências, como a ONU (Organização das Nações Unidas) e o FMI. Na conversa, o presidente ainda voltou a defender que o Brics tenha uma moeda própria para que os países membros possam realizar comércio, sem depender do dólar, um discurso que vem ganhando força entre emergentes.

"Todo mundo sabe que eu defendo a ideia de que a gente tenha uma moeda própria para fazer comércio entre os países. Tenho dito publicamente: por que o Brasil precisa de dólar para fazer comércio com a China? A gente pode fazer na nossa moeda. Por que o Brasil precisa de dólar para fazer comércio com a Argentina? A gente pode fazer nas nossas moedas. E mensalmente os bancos centrais fazem o acerto de contas. Não é uma coisa fácil de discutir", afirmou o presidente.

O petista também defendeu o fortalecimento do banco do Brics, entidade presidida por Dilma Rousseff, e que seus recursos sejam usados para financiamento que promovam o desenvolvimento dos países. Na sequência, voltou a criticar instituições econômicas controladas por potências ocidentais. "O Banco do Brics tem que ser mais eficaz e mais generoso que o FMI. Ou seja, um banco existe para ajudar a salvar o país, não para ajudar a afundar o país, que é o que o FMI faz muitas vezes", afirmou Lula.

"O Brics [...] deve servir para ajudar, com financiamento adequado, sem espada na cabeça, outros países a se desenvolver. Espero que se a gente consiga formular esse novo banco, com essa nova mentalidade, que a gente possa reeducar as instituições do Bretton Woods a se comportarem de forma diferente."

ARGENTINA

Lula também voltou a criticar o FMI por pressionar a Argentina no momento em que o país sul-americano busca a recuperação econômica e enfrenta problemas climáticos. O petista acrescentou que fez "tudo o que podia fazer" para ajudar a resolver o problema da dívida argentina e também manifestou preocupações com a democracia no país vizinho, com a próxima eleição presidencial no horizonte.

"Às vezes fico preocupado de saber como é que um país tão importante como a Argentina, que já foi a quinta economia do mundo, chega à situação econômica em que está hoje. Tudo muito em função de uma dívida contraída por um outro governo e que ficou para o atual pagar", afirmou o presidente brasileiro.

"O FMI deveria ter um pouco de paciência, saber a situação da seca na Argentina, que 25% da produção agrícola foi praticamente dizimada. A Argentina deixou de vender alguns bilhões de dólares [...] E o FMI poderia levar isso em conta, sem ficar com a espada na cabeça do presidente [Alberto Fernández]."

O líder brasileiro ainda disse ter feito todos os esforços ao seu alcance, "dentro do marco legal", para tentar ajudar a Argentina, incluindo um telefonema para o líder chinês, Xi Jinping, e para Dilma.

Lula afirmou que não iria comentar as eleições no país vizinho, mas na sequência disse esperar a vitória de um candidato preocupado com a "inclusão social", não "um que acha que vai resolver o problema da Argentina vendendo empresa pública". "Peço a Deus que a democracia prevaleça na Argentina. Que vença o candidato que tem mais perspectiva de falar de inclusão social, de falar de desenvolvimento, não um candidato que acha que tudo que é investimento em política pública vê gasto, um candidato que pensa que resolver o problema da Argentina é privatizar empresas públicas."

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