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Militares do Níger anunciam processo contra presidente deposto por 'traição'

Líder do golpe ainda acusa opositores de alimentar campanha de desinformação contra junta que assumiu poder

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São Paulo

Os líderes do golpe de Estado no Níger anunciaram na noite deste domingo (13) a intenção de processar o presidente eleito, Mohamed Bazoum, por "alta traição" e por "minar a segurança interna e externa" do país.

As acusações foram feitas após os militares ameaçarem assassinar Bazoum caso países vizinhos façam qualquer intervenção armada para restabelecer o governo deposto, em anúncio com ampla repercussão negativa. Agora, os líderes do golpe dizem ter reunido as "provas necessárias" para processá-lo.

"O governo nigerino reuniu [...] evidências contra o presidente deposto e seus cúmplices locais e estrangeiros, junto às instâncias nacionais e internacionais competentes, por alta traição e por minar a segurança interna e externa do Níger", disse o coronel Amadou Abdramane, um dos líderes da junta militar.

O presidente eleito do Níger, Mohamed Bazoum, em evento no palácio presidencial em Niamey, antes do golpe
O presidente eleito do Níger, Mohamed Bazoum, em evento no palácio presidencial em Niamey, antes do golpe - Issouf Sanogo - 2.mai.22/ AFP

Em discurso televisionado, Abdramane ainda acusou opositores de alimentar uma campanha de desinformação contra a junta militar para, segundo ele, tentar "inviabilizar qualquer solução negociada para a crise". As difamações, acrescentou, também seriam usadas para justificar uma intervenção externa no país africano. Na semana passada, a Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao) determinou a mobilização de uma "força de prontidão" para possível ação armada no Níger.

A União Africana, a União Europeia, os Estados Unidos e a ONU vêm manifestando preocupação com a saúde de Bazoum, que não é visto em público desde que foi deposto, no último dia 26. De acordo com o partido do ex-líder, ele e sua família estão detidos em sua residência e sendo mantidos em condições "desumanas", sem água corrente, eletricidade, acesso a alimentos frescos ou atendimento médico.

Abdramane rebateu as acusações de maus-tratos e voltou a dizer que Bazoum faz consultas médicas com frequência. A última delas, segundo ele, teria acontecido no sábado (12). "O médico não levantou preocupações relacionadas ao estado de saúde do presidente deposto ou de membros da sua família."

Mais de duas semanas após o golpe, representantes da Cedeao voltaram nesta segunda-feira a pedir diálogo. No sábado, líderes do bloco anunciaram um acordo para enviar um comitê a Niamey com a intenção de discutir a crise, mas o cronograma ainda não havia sido definido.

Integrantes do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, fórum que reúne 55 países do continente, também devem se reunir em caráter de emergência nesta segunda para discutir o golpe no Níger, país considerado estratégico para potências globais. Nações como França e EUA usam o território nigerino como base para combater a insurgência de grupos terroristas jihadistas na região do Sahel.

Desde que o Níger se tornou independente da França, em 1960, diversas tentativas de golpes de Estado ocorreram no país. Quatro delas foram exitosas, a última em fevereiro de 2010, quando Mamadou Tandja foi deposto. Bazoum assumiu a Presidência em abril de 2021. À época, militares tentaram tomar o palácio presidencial, mas a ordem foi restaurada, na primeira transferência de poder democrática no país.

À medida que a insegurança aumenta, a influência russa cresce. Nas últimas semanas, após o golpe militar, manifestantes criticaram a influência francesa no Níger e exaltaram o presidente Vladimir Putin.

Líderes de países ocidentais temem que o golpe no país possa aumentar a influência do grupo paramilitar Wagner na região. Ievguêni Prigojin, chefe da força mercenária que liderou um fracassado motim contra o governo Putin em junho, celebrou o golpe e ofereceu os serviços de seus combatentes.

Em represália à virada de mesa no Níger, a Cedeao anunciou a imposição de uma série de sanções contra líderes do movimento, como o congelamento de ativos e a suspensão de transações financeiras.

Ali Mahaman Lamine Zeine, premiê recém-empossado pelos militares, disse que o país será capaz de superar as sanções impostas. "Embora este seja um desafio injusto que nos foi imposto, seremos capazes de superá-lo. E vamos fazer isto", afirmou ao grupo de comunicação alemão Deutsche Welle.

Com Reuters

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