Descrição de chapéu The New York Times

Tiroteio durante protesto no Haiti deixa 7 mortos e evidencia crise de violência

Movimento de autodefesa liderado por pastor evangélico entrou em conflito com gangue local

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The New York Times

Uma gangue que disputa o controle de parte de Porto Príncipe, a capital do Haiti, matou pelo menos sete pessoas depois de abrir fogo contra uma manifestação organizada por um líder religioso no sábado (26). A informação foi confirmada por diversos grupos de direitos humanos.

"Esse tiroteio é sintomático da incapacidade do Estado de proteger seus cidadãos", disse Gédéon Jean, diretor-executivo do Centro de Análise e Pesquisa em Direitos Humanos, grupo haitiano independente que presta consultoria para a ONU. Segundo o especialista, o número de mortos ainda pode crescer, uma vez que havia grande concentração de pessoas no protesto e algumas delas portavam facões.

Homem carrega idoso ao fugir de bairro recentemente dominado por gangues em Porto Príncipe, capital do Haiti, em agosto
Homem carrega idoso ao fugir de bairro recentemente dominado por gangues em Porto Príncipe, capital do Haiti, em agosto - Ralph Tedy Erol - 15.ago.23/Reuters

As mortes refletem o aumento da violência no Haiti após o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em 2021, o que criou um vácuo de poder na já instável nação. Desde então, as gangues —cujas táticas incluem assassinatos aleatórios, estupros e sequestros— tomaram conta de parte da capital. Cidadãos, então, criaram grupos de autodefesa que desencadearam execuções de suspeitos de integrar gangues.

O tiroteio ocorreu em Canaan, comunidade de posseiros na periferia de Porto Príncipe formada por sobreviventes do terremoto de 2010, em reação a um ato contra uma gangue local organizado pelo pastor Marco, líder da igreja evangélica Tanque de Betesda —o nome completo do religioso seria Marcorel Zidor.

Segundo Marie Yolène Gilles, diretora do grupo de direitos humanos Open Eyes Foundation, o pastor é conhecido por uma retórica violenta e apelativa. "Os fiéis acreditaram no que ele estava dizendo e saíram às ruas com facões e paus", disse ela.

Um porta-voz da Polícia Nacional do Haiti não respondeu a um pedido de comentário sobre o episódio.

Diante do colapso em Porto Príncipe, a embaixada dos EUA na capital ordenou que funcionários que não atuam em situações emergenciais deixem o país. Grupos de auxílio locais apoiados pelo Comitê Internacional de Resgate também creditaram à violência a suspensão temporária de suas ações no país.

Numa tentativa de amenizar a crise, o governo do Quênia disse estar preparado para liderar uma força multinacional para manter a ordem no Haiti que incluiria mil policiais quenianos. As Bahamas também se comprometeram a enviar 150 equipes de segurança. Os EUA, por sua vez, disseram que apresentariam ao Conselho de Segurança da ONU uma resolução para autorizar a intervenção do Quênia.

Ainda assim, surgiram dúvidas sobre a proposta —intervenções estrangeiras no país são um assunto delicado desde a descoberta de que o surto de cólera que matou cerca de 10 mil haitianos em 2010 foi levado para o país por tropas de paz da ONU. Outras preocupações envolvem violações dos direitos humanos por parte das missões de manutenção da paz quenianas na África e suspeitas de que a força se limitaria a proteger a infraestrutura essencial do governo, como aeroportos e estradas principais.

Um relatório sobre a crise de segurança do Haiti publicado pela ONU recentemente forneceu detalhes sombrios sobre a dimensão do problema, depois que supostos membros de gangues assassinaram a tiros um vereador de Porto Príncipe, sua esposa e seu filho no bairro de Decayette, em 14 de agosto.

A ação aparentemente foi uma retaliação ao apoio do político a um grupo de moradores criado para enfrentar as gangues, disse Ravina Shamdasani, porta-voz do escritório de direitos humanos da ONU em Genebra. Segundo ela, poucas horas antes de ele ser atacado, cinco homens e duas mulheres de uma mesma família foram queimados vivos quando sua casa foi incendiada por membros de gangues.

Segundo Shamdasani, mais de 350 pessoas foram mortas pela população e por grupos de vigilantes desde abril, incluindo 310 suspeitos de pertencerem a gangues, 46 membros da população e um policial. Cerca de 5.000 pessoas fugiram só neste mês de áreas da capital dominadas por grupos criminosos.

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