Descrição de chapéu Partido Republicano

Trump fez jogo ambíguo com a Fox News antes de recusar primeiro debate republicano

Ex-presidente planeja publicar entrevista com Tucker Carlson, apresentador em guerra com a rede desde que a deixou

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Maggie Haberman Jonathan Swan
The New York Times

Em uma noite de agosto no pátio lotado de seu clube privado em Nova Jersey, o ex-presidente Donald Trump mostrou seu telefone para seus companheiros de jantar.

O principal pré-candidato republicano estava com um colaborador e colunista da Fox News, Charlie Hurt, quando uma ligação de outro membro da equipe da Fox chegou. O homem do outro lado da linha, Trump ficou encantado em mostrar a seus convidados, era Bret Baier, um dos dois moderadores do primeiro debate republicano, na quarta-feira (23), de acordo com duas pessoas com conhecimento da ligação.

Era o segundo jantar de Trump com a Fox naquela semana. Na noite anterior, ele havia recebido o chefe da Fox News, Jay Wallace, e a CEO da rede, Suzanne Scott, que haviam ido a Bedminster na esperança de persuadi-lo a participar do debate. Baier ligava para ter uma ideia do que o ex-presidente estava pensando.

Tela na sede da Fox News, em Nova York, noticia indiciamento do ex-presidente Donald Trump, em junho
Tela na sede da Fox News, em Nova York, noticia indiciamento do ex-presidente Donald Trump, em junho - Michael M. Santiago - 13.jun.23/Getty Images via AFP

Por meses, a Fox vinha tentando convencer Trump de forma privada e pública. O republicano continuava fazendo mistério, à sua maneira petulante característica. Mas mesmo enquanto se comportava como se estivesse ouvindo súplicas, ele seguia um plano para sua própria programação para o debate.

Trump disse a assessores que decidiu não participar do evento. Em vez disso, postaria uma entrevista com Tucker Carlson. A entrevista já foi gravada, segundo uma pessoa com conhecimento do assunto.

Ofuscar o maior evento do ano da Fox já seria provocação suficiente. Mas uma entrevista com Carlson —que era o apresentador de maior audiência no horário nobre do canal, que ainda paga seu contrato e com quem está em guerra— equivale a um tapa na cara da rede por Trump. A decisão é uma fonte potencial de irritação para a presidente do Comitê Nacional Republicano, Ronna McDaniel, que o instou reservadamente a comparecer, inclusive durante sua própria visita a Bedminster no mês passado.

O principal motivo de Trump para não comparecer ao debate, no entanto, não é animosidade pessoal em relação a McDaniel, mas um cálculo político grosseiro: ele não quer arriscar sua grande vantagem em uma corrida republicana que alguns próximos a ele acreditam que ele deve vencer para evitar a prisão.

Mas essa não é a única razão. O relacionamento de Trump com a Fox —uma saga de longa duração que tem sido tão lucrativa quanto, mais recentemente, extremamente custosa para a rede— é a outra questão que pesa em sua decisão, de acordo com pessoas familiarizadas com as conversas do ex-presidente. Elas falaram sob condição de anonimato porque não estavam autorizados a falar em nome da campanha.

Seu ódio declarado pela Fox —e o rancor que ele frequentemente expressa em particular sobre o presidente da Fox Corp., Rupert Murdoch— se mistura com seu reconhecimento do poder de Murdoch e uma admissão relutante de que a rede ainda pode afetar sua imagem com os eleitores republicanos.

"Por que o [programa] 'Fox and Friends' não mostra todas as pesquisas em que estou vencendo Biden, por muito?", Trump postou em sua rede social, Truth Social, desabafando sobre o programa matinal da rede. "Além disso, eles mostram intencionalmente as piores fotos de mim, especialmente aquela grande 'laranja' com meu queixo puxado para trás. Eles acham que estão se safando de algo, mas não estão."

A equipe da Fox que trabalha no debate preparou dois conjuntos de planos para a noite de quarta-feira: um se Trump aparecer e outro se ele não aparecer. Baier falou com Trump pelo menos quatro vezes por telefone para expor seus argumentos. Trump explicou sua relutância, mas sempre deixou a porta aberta para uma mudança tardia de planos, de acordo com as pessoas familiarizadas com as ligações.

Os executivos da Fox esperam que a audiência deste debate seja menor do que os recordes de 24 milhões que assistiram ao primeiro debate republicano em agosto de 2015, mesmo se Trump comparecer, embora sua presença certamente aumentaria o interesse. "O presidente Trump é ouro em termos de audiência, e todos reconhecem isso", disse Steven Cheung, diretor de comunicações da campanha do ex-presidente.

Baier, que ajudou a moderar o primeiro debate de Trump, em agosto de 2015, e já jogou golfe com ele, tem uma relação complicada com o ex-presidente. Ele entrevistou Trump em junho, um encontro que o ex-presidente chamou de "justo", mas depois reclamou que foi "hostil". Essa mudança de opinião veio após a cobertura da imprensa apontar o dano que Trump pode ter causado legalmente a si mesmo devido às suas respostas sobre assuntos relacionados a um dos processos federais contra ele.

Uma porta-voz da Fox News, Irena Briganti, disse que a rede "aguarda com expectativa a realização do primeiro debate da temporada de primárias, oferecendo uma chance incomparável de conhecer melhor as posições dos candidatos sobre uma variedade de questões, o que é essencial para o processo eleitoral".

Os principais conselheiros de Trump se opõem à sua participação no debate para evitar dar aos seus rivais a chance de se elevarem às suas custas e reduzir a grande diferença entre eles nas pesquisas.

Mas até o início da semana passada, Trump ainda brincava reservadamente com a ideia de comparecer. Em uma conversa, disse: "Talvez eu devesse ir", segundo uma pessoa com conhecimento da ligação.

O ex-presidente tem questionado auxiliares sobre a participação no debate. Ele tem se fixado no ex-governador de Nova Jersey Chris Christie, que deve ser seu crítico mais severo. E ele expressou desprezo pelo ex-governador de Arkansas Asa Hutchinson que tem baixa popularidade nas pesquisas, sugerindo que seria quase ofensivo compartilhar o palco com ele, de acordo com uma pessoa que falou com Trump.

Membros seniores da equipe do ex-presidente —Chris LaCivita, Jason Miller e Cheung— planejam comparecer ao debate. A campanha de Trump organizou a presença de apoiadores proeminentes, incluindo congressistas, na "sala de imprensa" após o evento para defender o caso do republicano.

Mas até sexta-feira (18), Trump parecia ter perdido o interesse em comparecer ao debate, segundo pessoas próximas. E agora ele planeja tentar ofuscar o evento participando da entrevista com Carlson, embora o momento exato e a plataforma online onde isso deve ocorrer ainda não estejam claros.

Baier e MacCallum planejam fazer de Trump uma figura importante no programa de duas horas —esteja ele presente ou não. A equipe da Fox preparou perguntas para fazer aos rivais de Trump sobre sua mais recente acusação criminal, emitida por um júri na Geórgia. Eles também estão considerando integrar vídeos de Trump em suas perguntas, de acordo com pessoas familiarizadas com o planejamento.

As perguntas começarão imediatamente. Os candidatos não poderão fazer declarações de abertura. No entanto, eles terão 45 segundos para falas de encerramento. Cada resposta será limitada a um minuto, com um som semelhante ao de um sino de recepção de hotel alertando os candidatos que seu tempo expirou. (A Fox aposentou o som de campainha semelhante a uma campainha de porta que usou nos últimos debates depois que ele fez alguns cães latirem.)

Ao contrário de quando Trump não foi a um debate da Fox em Iowa, em janeiro de 2016, pouco antes das prévias no estado, a Fox teve mais tempo para se preparar para a ausência do republicano.

Neste ano, o Comitê Nacional Republicano atualizou suas regras para exigir que os candidatos assinem um compromisso até 48 horas antes do debate, incluindo o de apoiar o candidato do partido, independentemente de quem seja, e de não participar de futuros debates não chancelados pelo comitê.

Trump não assinou o termo. Autoridades do comitê disseram que nenhum candidato, incluindo Trump, terá a presença permitida no palco sem a assinatura no papel. Mas Trump está longe de ser honesto nessa questão. Ele já assinou um compromisso semelhante prometendo "acreditar geralmente" e "pretender apoiar os candidatos e a plataforma" do Partido Republicano em 2024 para se qualificar para a cédula primária da Carolina do Sul, de acordo com um oficial da legenda no estado.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.