Fox News anuncia saída de Tucker Carlson, estrela conservadora dos EUA

Apresentador foi envolvido em processo milionário por difamação em alegações falsas de fraude eleitoral

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Washington

A Fox News anunciou nesta segunda-feira (24) que Tucker Carlson, 53, líder de audiência da TV a cabo americana e uma das figuras mais polêmicas da direita conservadora do país, deixará a emissora.

As duas partes "concordaram em trilhar caminhos diferentes", afirmou a rede em comunicado. "Agradecemos a ele por sua dedicação à rede como apresentador e, antes disso, como colaborador".

O então presidente Jair Bolsonaro, durante entrevista ao apresentador Tucker Carlson, em Brasília
O então presidente Jair Bolsonaro (PL) durante entrevista ao apresentador Tucker Carlson em Brasília, em junho de 2022 - Tucker Carlson no Twitter

Ainda segundo o texto, a última aparição de Carlson foi na sexta-feira passada (21). O programa que ele estrela, "Tucker Carlson Tonight", será apresentado por um rodízio de personalidades do canal sob o nome "Fox News Tonight" até que um novo apresentador seja escolhido. Apresentador do canal desde 2012, seu programa noturno estava no ar desde 2016.

O anúncio se dá menos de uma semana após a empresa fechar, junto com a Fox Corp FOXA, um acordo de de US$ 787,5 milhões (cerca de R$ 3,9 bilhões) no processo de difamação promovido pela Dominion Voting Systems, fabricante de urnas eletrônicas nos EUA.

O processo envolvia alegações sem provas da Fox de que as eleições que deram vitória de Joe Biden contra Donald Trump em 2020 foram fraudadas. A empresa incluiu no processo, entre outras coisas, comentários de Carlson em seu programa dizendo que as urnas foram usadas para manipular a eleição.

O apresentador também é peça em outro processo, promovido por uma ex-produtora, Abby Grossberg, que afirma que a empresa adota práticas sexistas e que foi demitida após se recusar a mentir em seu depoimento no processo da Dominion.

No mesmo processo, vieram a público mensagens de texto de Carlson pedindo a demissão de uma repórter da emissora, Jacqui Heinrich, que respondeu a um tuíte de Trump dizendo que não havia evidências de fraude. "Por favor, demitam-na. Sério", escreveu ele. "Isso precisa parar imediatamente, tipo esta noite. Está prejudicando a empresa [Fox] de forma visível."

No ano passado, o apresentador viajou ao Brasil para entrevistar Jair Bolsonaro (PL), quando o então presidente afirmou que a esquerda nunca mais deixaria o poder se ganhasse a eleição presidencial. Após a invasão dos Três Poderes em Brasília em 8 de janeiro, Carlson disse que a eleição foi roubada e chamou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de criminoso condenado.

"Milhões de pessoas no Brasil entenderam exatamente o que aconteceu. Sabem que a democracia deles foi sequestrada possivelmente para sempre, mas não há muito o que possam fazer. Lula pode ser um criminoso, e de fato é, mas ele tem todo o apoio do governo Biden e do governo chinês. Então ontem [8 de janeiro], frustrados, um grupo de manifestantes brasileiros invadiu o Parlamento", disse o apresentador um dia após os ataques que foram condenados pelo mundo todo.

A saída de Carlson se dá enquanto o sistema político americano calibra os motores para a eleição presidencial do ano que vem. O presidente Joe Biden deve anunciar nesta terça (25) que tentará a reeleição, e os dois principais nomes da direita, Trump e o governador Ron DeSantis, digladiam-se em busca da candidatura republicana.

Tucker Carlson em evento da Fox em novembro do ano passado - Jason Koerner/Getty Images/AFP

Carlson recebeu Trump em seu programa no começo do mês, na primeira entrevista do ex-presidente após ser indiciado em um caso criminal. "Para um homem pintado como extremista, achamos que você achará o que ele tem a dizer moderado, sensato e sábio", disse o apresentador no programa.

Ele está no centro de uma série de polêmicas da política americana. Depois que os republicanos tomaram o controle da Câmara, em janeiro deste ano, o presidente da Casa, Kevin McCarthy, decidiu entregar a Carlson as imagens da invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 antes de cedê-las a outros veículos.

Ao exibir os vídeos dos apoiadores de Trump invadindo o Congresso, Carlson os definiu como manifestantes pacíficos que agiam como turistas no Parlamento —a invasão é considerada o maior ataque à democracia da história recente dos EUA.

Desde a invasão, em 2021, Carlson disse em diferentes circunstâncias que o ataque havia sido uma operação do FBI e de agentes públicos para prejudicar o governo Trump —algo parecido com os argumentos de setores bolsonaristas de que a invasão em Brasília foi orquestrada pelo governo Lula.

Glenn Greenwald, jornalista americano e colunista da Folha , destacou que Carlson se opôs à Guerra da Ucrânia; defendeu o perdão a Julian Assange, do Wikileaks; se opôs a esforços para derrubar o regime comunista de Cuba; criticou o militarismo do governo Trump e denunciou órgãos do governo por corrupção. "A saída de Tucker significa a eliminação da única dissidência real e sustentada sobre o militarismo dos EUA, o estado de segurança e muito mais", escreveu no Twitter.

A saída de Carlson gerou outras reações no campo da direita. Liz Harrington, porta-voz de Trump, disse que "a Fox News é a oposição [ao governo Biden] controlada", argumento usado por direitistas no país para dizer que a emissora é tão liberal quanto outros canais de notícias, como a CNN e a MSNBC.

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