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Oktoberfest oferece frango orgânico e irrita tradicionalistas em Munique

Conservadores chamam festival de 'woke', enquanto ativistas querem cidade neutra de emissões até 2035

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Madri

Com expectativa de receber 7 milhões de visitantes até o dia 3 de outubro, a Oktoberfest de Munique —a original, que começou como uma festa de casamento em 1810— busca se tornar um festival antenado com as demandas do século 21.

E vem causando polêmica o fato de que uma das maiores cervejarias da Alemanha, a Paulaner, tenha agora decidido vender, ao lado dos eisbeins (joelho de porco) e salsichões, apenas frango orgânico em seu enorme espaço na festa.

Canecas com um litro de cerveja são servidas na abertura da Oktoberfest de Munique, na Alemanha
Canecas com um litro de cerveja são servidas na abertura da Oktoberfest de Munique, na Alemanha - Christof Stache - 16.set.23/AFP

Entre os tradicionalistas, que estão chamando a festa de "woke" —termo pejorativo para consciência social—, e os ativistas, que gostariam que os visitantes só comessem produtos orgânicos, fica o público.

Esse perdeu o prato carnívoro mais barato e mais vendido que a Paulaner oferecia no ano passado. A refeição de meio frango orgânico, "grelhado e suculento", custa € 20,50 (R$ 108), cerca de 50% a mais que o meio frango comum da edição de 2022.

"A Paulaner não é a única tenda a vender frango orgânico", contou à Folha Susanne Kiehl, do Conselho de Nutrição de Munique, uma associação financiada pelo governo e que tem como meta transformar a cidade —e a Oktoberfest— neutras em relação a emissões prejudiciais ao ambiente.

"A Ammer oferece frango orgânico desde 2000", disse ela. "Mas no ano passado tivemos um movimento real em direção ao orgânico. Além disso, a Câmara Municipal de Munique passou a exigir produtos orgânicos para permitir que novas empresas vendam seus produtos na Oktoberfest."

Mas a Ammer é uma empresa principalmente de patos e frangos, e a Paulaner é uma das seis cervejarias originais de Munique, que está na Oktoberfest desde 1895. A propósito, a caneca de um litro de Paulaner sai por € 14,50, ou R$ 76.

Em reportagem publicada nesta semana pelo jornal americano Washington Post, a responsável pela tenda da cervejaria, Arabella Schörghuber, disse que se trata de uma experiência. "O orgânico é mais caro, mas a qualidade é superior. Queremos ter certeza de que o animal tenha uma vida boa. Veremos o que acontece."

E, se alguns visitantes não se importam e elogiam a iniciativa, outros, como Andrea Koerner, 56, preferiram trocar de barraca e escolher comidas mais baratas. "Não conhecemos o sabor porque custa muito caro experimentar", disse ela.

E a cerveja orgânica também está nos planos do Conselho de Nutrição. "Já temos uma cervejaria orgânica em Munique, e a Hacker-Pschorr está produzindo cerveja orgânica para um outro grande evento, chamado Tollwood", atestou Kiehl.

Mas não faltam estraga-prazeres para os ativistas, uma vez que, na opinião dos conservadores, o que estraga mesmo o prazer é justamente essa nova consciência. "Deve continuar sendo uma festa popular tradicional, porque caso contrário, não seria atraente", disse Clemens Baumgärtner, autoridade que supervisiona o festival e é membro do partido político União Social Cristã.

Visitantes com roupas típicas na Oktoberfest de Munique deste ano - Angelika Warmuth/Reuters

O presidente da Associação de Hotéis e Restaurantes da Baviera, Thomas Geppert, fez coro: "Não creio que alguém queira realmente uma economia planejada na qual um pequeno grupo decida o que é bom e o que não é para as pessoas", acrescentando que as pessoas deveriam ter permissão para viver —e comer— como bem entenderem.

Enquanto isso, Susanne Khiel sonha com o dia em que não haverá mais carnes não orgânicas na Oktoberfest. "Se nós trabalharmos nisso, por que não? Passo a passo. Mas de preferência com produtos orgânicos locais!", diz ela. E o prazo para que isso aconteça? "Nossa meta é 2035."

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