Descrição de chapéu Governo Biden China

Reivindicações de Pequim e ausência de Biden marcam início de cúpula na Ásia

Indonésia abre encontro da Asean tentando se distanciar de Pequim e Washington e realçar relevância do bloco

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Taipé

O presidente da Indonésia, Joko Widodo, deu início à 43ª cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático) nesta terça-feira (5) defendendo que os líderes da região se mantenham unidos e "capitães do próprio navio".

A declaração é, ao mesmo tempo, uma reafirmação da independência do bloco e uma reação à influência crescente da China. Na última sexta-feira (1º), Pequim lançou nova versão do mapa com suas reivindicações marítimas, em conflito com as de diversos países da Asean, inclusive da própria Indonésia.

Líderes dos países-membros da Asean durante cúpula realizada em Jacarta, na Indonésia - Achmad Ibrahim - 5.set.23/Pool/via Reuters

A Asean também sofre pressão dos Estados Unidos. A Casa Branca suspendeu a esperada participação do presidente Joe Biden na cúpula e decidiu mandar a vice-presidente Kamala Harris no lugar dele. O gesto colocou em xeque a posição americana em relação ao bloco e à própria Indonésia, uma vez que Biden vai estar no continente em duas ocasiões em um intervalo de quatro dias após a cúpula da Asean: de quinta (7) a domingo (10) na reunião do G20 em Nova Déli, na Índia, e em visita oficial ao Vietnã ainda no dia 10 antes de voltar aos EUA.

Jokowi, como é conhecido o presidente indonésio, discursou para outros oito chefes de Estado e de governo, de Brunei, Camboja, Filipinas, Laos, Malásia, Singapura e Vietnã, além do Timor Leste, que está em processo de incorporação ao bloco.

Mianmar está suspenso desde o golpe militar de 2021, e a Tailândia, que vem buscando a reaproximação de Mianmar com a Asean, enviou seu chanceler.

"No meio de uma tempestade, nós, como líderes, devemos garantir que este navio possa continuar a navegar e temos de ser capitães do nosso próprio navio para alcançar paz, estabilidade e prosperidade juntos", afirmou Jokowi no pronunciamento de abertura em Jacarta, capital da Indonésia.

Acrescentou que os desafios "são cada vez mais difíceis e resultam numa luta das grandes potências por influência", evitando nomear China e EUA. Pequim vai participar de um encontro paralelo à cúpula, representada pelo primeiro-ministro Li Qiang.

A discussão sobre as reivindicações em torno do mar do Sul da China já estava prevista, como sequência das negociações de um código de conduta para os países com interesse na área.

O lançamento do mapa e as reações tornaram a questão mais conflituosa. O governo filipino, apoiado militarmente pelos EUA e em antagonismo crescente com a China, adiantou que irá propor um comunicado conjunto contra Pequim.

Malásia e Vietnã também questionaram o mapa, que foi lançado na semana passada com reivindicações já feitas pela China em versões anteriores e uma nova linha ou raia, incorporando a ilha de Taiwan —e ganhando o apelido de "o mapa das dez raias", não mais as nove tradicionais. Tradicionalmente, a China considera Taiwan uma província rebelde e parte inalienável de seu território.

Procurando evitar mais atritos na reunião, Jokowi estendeu a metáfora. "Os oceanos do mundo são demasiado vastos para navegarmos sozinhos. No caminho estarão outros navios, parceiros da Asean. Vamos juntos realizar uma cooperação igualitária para navegar juntos em direção ao crescimento".

A Indonésia, com a maior população da Asean, deve se tornar a quarta maior economia do mundo até 2050, segundo projeções de consultorias financeiras ocidentais como a PwC.

A presidência indonésia da Asean vinha buscando se concentrar não em conflitos geopolíticos, mas em desenvolvimento econômico. O tema oficial da cúpula trata o bloco como "epicentro de crescimento".

O encontro deve agora se voltar, até seu encerramento nesta quinta (7), para o código de conduta no mar do Sul da China, que vem sendo negociado há anos, mas sem alcançar ordenação prática.

No fim de semana, já em Jacarta, o chanceler chinês, Wang Yi, afirmou durante evento que "forças externas" à região —menção indireta aos EUA— estariam buscando "semear discórdia" na Asean para impedir avanços sobre as diferenças marítimas.

Outra questão conflituosa que voltou a chamar a atenção é Mianmar, em parte pela ausência do novo primeiro-ministro tailandês, Srettha Thavisin —que tomou posse nesta terça, após acordo com os militares de seu país. A Tailândia defendia uma representação dos líderes militares de Mianmar no encontro em Jacarta.

Os mianmarenses vivem, no entanto, um cenário de instabilidade política desde que o governo civil foi destituído em um golpe de Estado. A repressão que se seguiu à tomada de poder inclui um saldo de mais de 4.000 mortes e quase 25 mil detenções, segundo levantamento da Associação de Assistência a Presos Políticos de Mianmar.

A Asean adotou um consenso de cinco pontos em torno de Mianmar em 2021 que será revisitado agora. Entre eles, a escolha de um enviado do bloco como mediador e a defesa de um diálogo entre todas as partes.

A ministra do Exterior da Indonésia, Retno Marsudi, durante encontro prévio com colegas da Asean na segunda, reconheceu que a falta de resultados do plano de dois anos atrás deixou "marca negativa" no bloco, que precisa "provar que ainda importa e pode contribuir para a paz na região".

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