Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia diz ter abatido 281 drones; Kiev promete mais ataques

Guerra assimétrica no vizinho escala enquanto Ucrânia sofre com contraofensiva

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São Paulo

O Ministério da Defesa da Rússia afirmou nesta sexta (1º) que interceptou 281 drones ucranianos nesta semana, 30 deles que miravam alvos dentro do país de Vladimir Putin, e os restantes, na Crimeia anexada em 2014 e em áreas ocupadas desde a invasão do vizinho em 2022.

O número não é aferível e supõe que todos os aparelhos foram derrubados, seja por defesas antiaéreas, seja por efeito de contramedidas eletrônicas que os desgovernam no ar. Isto é, caso seja uma cifra precisa, há alguma subnotificação, dado o sucesso visível de ações como o ataque a uma base aérea em Pskov (noroeste russo).

Bateria antiaérea Pantsir-S1 protege o prédio do Ministério da Defesa em Moscou contra drones
Bateria antiaérea Pantsir-S1 protege o prédio do Ministério da Defesa em Moscou contra drones - Alexander Nenemov - 3.ago.2023/AFP

Mas a admissão dá a medida da escalada por Kiev desta forma de guerra assimétrica. Nesta sexta, o assessor presidencial ucraniano Mikhailo Podoliak disse à agência Reuters que "o número de ataques irá aumentar". É uma forma que os ucranianos têm de levar psicologicamente o conflito para a população russa, já que militarmente os impactos são limitados, e também de escamotear o rumo de sua contraofensiva iniciada em junho.

Kiev até aqui só teve sucesso aparente em um pedaço estreito do flanco sul das defesas russas, no território ocupado de Zaporíjia. Mas mesmo isso vai a passos lentos, com as forças de Volodimir Zelenski ainda sem atingir nem a primeira linha defensiva reforçada de Moscou na área.

Claro, pode haver um avanço rápido, mas nada indica até aqui um colapso da frente. Ao contrário, os russos passaram a avançar na região nordeste da Ucrânia, o que não faziam desde que abandonaram a área no ano passado. Mas também ali não há uma ruptura definitiva de defesas, o que indica uma situação estacionária que é pior para Kiev do que para Moscou, dadas as capacidades de reforço dos russos.

Ainda assim, a guerra de drones é uma dor de cabeça política para o Kremlin. Na noite de quinta (31) e madrugada desta sexta, houve a segunda maior onda de ataques, em termos de regiões afetadas, desde o começo da guerra. Foram cinco as localidades em que drones foram abatidos, sem causar danos aparentes, inclusive em Moscou —onde, novamente, aeroportos foram fechados.

A maior leva de ataques havia ocorrido da terça (29) para a quarta (30), quando seis regiões foram alvejadas. O maior dano ocorreu na base de Pskov, onde imagens de satélite da empresa Planet Labs obtidas pelo site The War Zone comprovaram a destruição de dois aviões de transporte pesado Il-76 e danos em outros dois aparelhos do modelo, o principal de sua categoria na Rússia.

O SBU (Serviço de Segurança da Ucrânia) disse ao site, de forma raramente franca, que aquele ataque foi lançado de dentro do território russo. Assim, podem ter sido empregados drones pequenos, de dificílima detecção, e nas costas de camadas de defesa antiaérea mais próximas das fronteiras.

Um dos modelos simples que a Ucrânia tem usado é o australiano Sypaq Corvo, um rudimentar e engenhoso aviãozinho de papelão reforçado que pode carregar 5 kg de explosivos por cerca de 100 km. Ele já havia sido usado perto da fronteira, num ataque à base de Kursk que, segundo a Ucrânia, destruiu cinco caças russos no fim de semana.

Para ações de longa distância, tem empregado as novidades nacionais de seu arsenal, como o UJ-22 e o Bober (castor, em ucraniano), que voam até cerca de 1.000 km. A limitação no estoque dos antigos drones a jato soviéticos Tu-141, empregados nos primeiros ataques a bases russas, parece evidente. Moscou disse que apenas um deles foi usado nesta semana.

De seu lado, os russos seguem empregando drones kamikaze iranianos, de duas formas distintas. Primeiro, como arma de ataque inicial, para exaurir as defesas antiaéreas ucranianas antes da chegada de mísseis balísticos ou de cruzeiro.

Segundo, como armas principais, contra alvos menos defendidos, como os portos no rio Danúbio que passaram a ser alvejados após a saída de Vladimir Putin do acordo que permitia a exportação de grãos de Kiev pelo mar Negro, em julho.

A eventual volta do arranjo será o tema principal da reunião de Putin com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, no balneário russo de Sochi, na próxima segunda (4). O Kremlin quer que o Ocidente dê garantias de exportação a seus próprios produtos agrícolas em contrapartida à retomada do esquema.

Enquanto isso, mais dois navios deixaram o porto de Odessa nesta sexta sem, até aqui, serem importunados pelos russos. Isso sugere uma boa vontade prévia ao encontro entre os presidentes, assim como a falta de ataques com drones aquáticos por parte da Ucrânia contra embarcações russas.

Se há alguma esperança neste campo, o leque de complicações potenciais da guerra segue se abrindo. O Kremlin afirmou nesta sexta que vai considerar a fábrica prometida pela empresa de defesa britânica BAE Systems na Ucrânia um alvo militar legítimo.

A alemã Rheinmetall já havia anunciado pretender abrir uma oficina de reparo de seus tanques Leopard, modelos doados por países europeus aos ucranianos para sua contraofensiva, no país invadido. Agora é a vez dos britânicos. Tanto Alemanha como Reino Unido são membros da Otan, a aliança militar do Ocidente, e é incerto qual seria a reação caso suas instalações fossem alvejadas pelos russos.

Até aqui, todo o influxo de ajuda militar ocidental a Kiev tem vindo de fora, sem produção local de material pesado. São linhas desenhadas pelos planejadores de ambos os lados para evitar escaladas que levem a uma Terceira Guerra Mundial, mas até aqui a Rússia tem cedido a cada degrau subido pelos Estados Unidos e seus aliados nessa disputa.

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