Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Ucrânia usa até drone de papelão em ataques contra a Rússia

Modelo australiano leva 5 kg de explosivos e tem curto alcance, mas passa incólume por defesas aéreas

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São Paulo

A guerra assimétrica promovida pela Ucrânia contra alvos na Rússia, país que a invadiu em fevereiro de 2022, tem empregado uma coleção variada de drones. Mas a estrela improvável do time atende pelo nome de Sypaq Corvo.

Trata-se de um modelo kamikaze australiano feito de papelão reforçado e encerado, com as partes unidas por fitas adesivas resistentes. Com até 2,8 metros de envergadura e apenas 2,4 kg sem carga, ele parece um avião de brinquedo vendido em kits de montagem.

Drone de papelão australiano Sypaq Corvo em cima de pilha com kits para montá-lo
Drone de papelão australiano Sypaq Corvo em cima de pilha com kits para montá-lo - Divulgação

Só parece. Na madrugada de domingo (27), uma série de explosões atingiu aviões estacionados na base aérea de Kursk, no sul russo, a cerca de 100 km da fronteira com a Ucrânia. Segundo o SBU, o serviço secreto de Kiev, quatro caças Su-30 e um MiG-29 foram danificados. A Rússia só admitiu o ataque, sem contabilizar o prejuízo.

Drone de papelão Sypaq Corvo, usado na Guerra da Ucrânia, em voo
Drone de papelão Sypaq Corvo, usado na Guerra da Ucrânia, em voo - Divulgação

Segundo a imprensa ucraniana e blogueiros militares russos, como o notório dono anônimo do canal Fighterbomber no Telegram, a obra foi de um enxame de drones Corvo. Eles têm autonomia variável de acordo com a carga, em média 100 km com 5 kg de explosivos a bordo.

Além de serem praticamente indetectáveis por radares, dado o tamanho e o fato de serem, na prática, de papel, os drones são imunes aos sistemas de bloqueio de GPS que têm funcionado contra modelos maiores usados para ataques de longa distância, como contra Moscou.

Isso porque o operador fornece a um pequeno tablet os dados da rota e ele a faz de forma autônoma. Sua hélice é alimentada por um motor elétrico mínimo, o que o torna uma algo imprecisa ferramenta com um atrativo imbatível: custa apenas o equivalente a R$ 17 mil.

A Austrália doou centenas deles dentro de um pacote militar fechado em fevereiro deste ano, e relatos não confirmados dizem que ao menos cem novos são entregues todo mês. Até julho, o país da Oceania, um aliado dos Estados Unidos na Guerra Fria 2.0, doou R$ 1,9 bilhão em armamentos para Kiev, incluindo dezenas de veículos blindados.

A guerra dos drones da Ucrânia é uma das respostas possíveis ao volume da campanha russa e às dificuldades que Kiev tem tido em sua contraofensiva lançada em junho. Nesta quinta (31), o país anunciou ter avançado mais ao sul, em Zaporíjia, mas o fato é que as tropas não chegaram nem à primeira linha de defesa russa.

O chanceler do país, Dmitro Kuleba, queixou-se dos críticos da ação e os mandou "calar a boca", em uma postagem em redes sociais. No Ocidente, cresce o incômodo com o resultado da ação, que já vem sendo precificada como um fracasso relativo.

Enquanto isso, Kiev aposta na assimetria. Na noite de terça (29) e madrugada de quarta (30), promoveu o mais amplo ataque em termos de áreas atingidas contra alvos na Rússia: foram seis regiões atacadas, inclusive com a destruição de ao menos dois cargueiros pesados Il-76 em uma base em Pskov (600 km distante da Ucrânia).

Nesta quinta, dois drones foram abatidos, segundo o Ministério da Defesa da Rússia, sobre a região de Briansk, e outro, nas vizinhanças de Moscou. Neste caso, são modelos de maior capacidade de carga e autonomia, como o UJ-22 e o Bober (castor, em ucraniano), este último desenvolvido durante a guerra.

São aparelhos mais caros, claro: o Bober tem custo estimado de R$ 520 mil a unidade, podendo atingir alvos a até 1.000 km do ponto de lançamento. Moscou fica a cerca de 450 km do ponto mais próximo da fronteira rival.

Na guerra, o mais distante que um drone ucraniano chegou dentro da Rússia foi a base aérea de Engels-2, centro de bombardeiros estratégicos e depósito de armas nucleares a 800 km do vizinho, no fim de dezembro. Lá, os ataques foram feitos com um obsoleto modelo a jato soviético, o Tu-141, que a Ucrânia tem em quantidade limitadas.

Como há relatos de uso até de quadricópteros civis com munição amarrada a eles nas ações, é bastante provável que parte dos ataques tenha origem dentro da Rússia, vindos de infiltrados ou de simpatizantes de Kiev. Neste caso, modelos de menor alcance podem ser usados, e são evitadas as primeiras camadas de defesas aéreas fronteiriças.

A Rússia, que faz uso extensivo de drones kamikazes de origem iraniana Shahed-136, emprega diversos modelos menores para vigilância e ataques a posições ucranianas. As contramedidas eletrônicas para desviar drones evoluíram rapidamente: os grandes aviões-robôs de combate turcos Bayraktar TB2, estrelas no início do conflito, deixaram de ter destaque.

As soluções feitas com o conflito em curso, como em todas as guerras, são às vezes engenhosas. Após falhar duas vezes em proteger a ponte que simboliza a anexação da Crimeia, que liga a península à Rússia continental, Moscou resolveu afundar barcaças ao longo de sua extensão.

Segundo imagens de satélite, ao menos sete embarcações foram posicionadas no flanco sul da ponte. A função é proteger a estrutura dos novos drones de ataque aquático ucranianos, basicamente botes com até 850 kg de explosivos guiados de forma remota.

Além do tráfego de veículos, a ponte tem uma linha férrea, essencial para o suprimento das tropas russas postadas na península, que Vladimir Putin anexou em 2014, na esteira da queda do governo pró-Rússia na Ucrânia.

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