Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Tanques americanos vão queimar na Ucrânia, diz Rússia

Kremlin volta a atacar porto no Danúbio e cidades com cobertura antiaérea menos eficaz

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São Paulo

Um dia após a chegada dos primeiros tanques M1A1 Abrams americanos à Ucrânia, o governo de Vladimir Putin afirmou que eles são "um armamento sério", mas que "irão queimar" como outros blindados ocidentais fornecidos a Kiev.

Washington começou a entrega dos 31 Abrams prometidos em janeiro aos ucranianos com um lote estimado por analistas de 10 unidades. Segundo o chefe da inteligência de Kiev, Kirilo Budanov, eles provavelmente não serão empregados imediatamente em combate para não correr risco de perdas desnecessárias.

Soldados poloneses em tanque M1A1 Abrams semelhante aos enviados pelos EUA à Ucrânia
Soldados poloneses em tanque M1A1 Abrams semelhante aos enviados pelos EUA à Ucrânia - Kacper Pempel - 10.ago.2023/Reuters

"Tanques Abrams são armamentos sérios, mas lembre-se do que o presidente disse sobre outros tanques feitos em outros países", afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, referindo-se a Putin. "Bom, esses [Abrams] também vão queimar", completou.

O fornecimento de tanques de guerra principais, designação consagrada para blindados de lagartas com pelo menos 16,5 toneladas descarregados com canhão de calibre igual ou superior a 75 mm e montados numa torre com giro de 360 graus, foi um dos pontos de inflexão no apoio militar ocidental a Kiev.

Mas os números, cujo total é desconhecido, são considerados tímidos. Foram prometidos cerca de 70 alemães Leopard-2, em diversos modelos, e 88 Leopard-1, todos vindos de países europeus. O Reino Unido forneceu 14 Challenger-2 e os EUA, os Abrams.

A maior ajuda, contudo, não foi com modelos ocidentais, e sim no envio feito pela Polônia de 240 T-72 de origem soviética de seus estoques. Varsóvia, que está em um processo acelerado de modernização de seus equipamentos para o padrão da Otan —a aliança militar que integra—, comprou Abrams e K2 sul-coreanos para sua frota.

Até aqui, segundo o monitoramento com imagens confirmadas do site holandês Oryx, já queimaram na Ucrânia 59 desses T-72 poloneses, dois PT-91 poloneses, sete T-72 tchecos, 16 Leopard-2 e um Challenger-2. Antes da guerra, Kiev tinha 987 tanques. Destes, 654 foram destruídos ou danificados, segundo dados revisados nesta terça-feira (26) pelo Oryx.

Em seu encontro diário com jornalistas, Peskov ainda minimizou o provável envio de mísseis de longa distância ATACMS americanos para Kiev. Caso confirmada, a remessa provavelmente terá um número reduzido de exemplares em razão das limitações de estoque dos EUA.

"Não há panaceia ou uma única arma que possa mudar o balanço de poder no campo de batalha. Nada vai mudar o resultado da operação militar especial", disse o porta-voz, usando o eufemismo oficial russo para a invasão iniciada em 24 de fevereiro de 2022. "Os americanos continuam aumentando seu envolvimento direto no conflito, mas é claro que todas as vezes nossas forças melhoram suas capacidades para conter esses mísseis."

Retórica à parte, ele não está errado. Como disse Budanov ao site americano The War Zone, os Abrams só fazem sentido se empregados em ações específicas de rompimento de linhas defensivas, e isso não se configurou até aqui na contraofensiva ucraniana. Há também a questão da quantidade limitada de blindados disponíveis.

Moscou volta a bombardear porto

Enquanto isso, Moscou seguiu com sua campanha de bombardeio nesta terça, atacando com drones iranianos Shahed-136 o porto de Izmail, no rio Danúbio. Duas pessoas ficaram feridas. Kiev luta para restabelecer o escoamento de grãos desde que Putin deixou o acordo que permitia isso pelo mar Negro, em julho, e começou a alvejar a infraestrutura portuária do país.

Houve também ataques em cidades com cobertura antiaérea menos eficaz do que Kiev e Odessa, principal porto do país, como Kriivi Rih. Em todo o país, 26 de 38 drones foram interceptados, segundo a Força Aérea local.

Na mão contrária, drones e mísseis ucranianos foram lançados, sem sucesso aparente, contra posições na Crimeia anexada em 2014. A península virou um foco renovado de ações enquanto a contraofensiva ucraniana tem dificuldades para obter um avanço importante contra as defesas russas.

Na semana passada, ela foi palco de dois dos ataques mais relevantes da guerra pelo lado de Kiev até aqui, ambos em Sebastopol. No primeiro, um navio e um submarino em reparos foram destruídos em suas docas secas. No segundo, o quartel-general da Frota do Mar Negro, um edifício imponente visível em quase toda a cidade, foi bastante danificado por mísseis.

A Ucrânia disse ter matado 34 oficiais, inclusive o comandante da unidade, Viktor Sokolov, no bombardeio. Nesta terça-feira, contudo, ele apareceu em uma videoconferência com o ministro russo da Defesa, Serguei Choigu. O Kremlin só reconhece o sumiço de um militar na ação.

Turquia condiciona entrada da Suécia na Otan

Em um desenvolvimento político paralelo à guerra, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, confirmou nesta terça que o Parlamento de seu país irá aprovar o pedido de entrada da Suécia na Otan caso os EUA cumpram a promessa de vender caças F-16 a seu país para que ele possa renovar sua frota.

A negociação era conhecida, mas Erdogan nunca havia falado tão abertamente sobre o tema. Suécia e Finlândia, países nórdicos de neutralidade histórica, resolveram aderir à Otan devido à percepção da ameaça russa. Para tanto, todos os outros então 30 membros do clube precisam aprovar a admissão em seus Legislativos.

Helsinque conseguiu isso em abril, mas Estocolmo ainda depende da Turquia, que negociou a extradição de opositores de Erdogan em território sueco. Além disso, a Hungria está dificultando as coisas: na segunda (25), o premiê Viktor Orbán fez críticas duras a Kiev, dizendo que não devia à Ucrânia apoio incondicional e que a admissão da Suécia não era uma prioridade.

Um dos líderes europeus mais próximos de Putin, assim como Erdogan, Orbán lidera um país que está em um contencioso com a Ucrânia, tendo vetado a importação de seus grãos para evitar desequilíbrio no mercado interno. A também membro da Otan Polônia fez o mesmo e, na semana passada, disse que não enviaria mais armas para Kiev, agravando a crise.

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