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Putin se volta para a China, mas negociação com Xi emperra

Esperado em Pequim, russo pode assinar novo gasoduto, levando para a Ásia o gás que antes entregava à Europa

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Taipé

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, é esperado nesta terça (17) em Pequim, para o décimo aniversário da Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, da sigla em inglês). Antes de embarcar, assinou artigo no Renmin Ribao (Diário do Povo), órgão do Partido Comunista Chinês, e concedeu entrevista à rede CCTV.

Nesta, elogiou Xi, "um dos líderes reconhecidos do mundo" e "um parceiro persistente, calmo, prático e confiável". Falou também da BRI, cuja "principal vantagem é que, com uma estrutura de cooperação, ninguém impõe sua vontade aos outros".

Putin é a principal atração do fórum do programa de infraestrutura de Xi Jinping, mas a visita foi precedida por duras negociações comerciais entre os dois países. Uma delas acaba de ser concluída.

O gigante russo de energia elétrica Inter Rao chegou a interromper parcialmente o abastecimento na região nordeste da China, há duas semanas, porque Pequim teria recusado um aumento de 7%, resultado de um novo imposto de Moscou.

O líder chinês, Xi Jinping, e o presidente russo, Vladimir Putin, em encontro em Moscou em 2019
O líder chinês, Xi Jinping, e o presidente russo, Vladimir Putin, em encontro em Moscou em 2019 - Maxim Shipenkov - 5.jun.2019/Reuters

Comentaristas chineses questionaram na internet. Lu En escreveu na plataforma jornalística do Baidu que a disputa mostra como "a dependência é arriscada" e cobrou "estratégia diversificada". Já Qianliyan afirmou no WeChat que "amizade é uma coisa, negócios são outra" —e a "boa amizade" não seria afetada.

Também o russo Mikhail Zvintchuk, do canal Rybar, no Telegram, avaliou que "amizade não significa que não existam divergências, especialmente em negócios", e que na China "eles não vão fazer caridade, concordar com todas as ofertas russas".

No caso, acabaram concordando. Segundo a Inter Rao, na quinta (12) Pequim aceitou pagar o aumento, afastando um ruído às vésperas do encontro bilateral. Mas o fornecimento russo só deve voltar na próxima semana

Resta o outro ruído no comércio de energia, maior e também citado pelos três comentaristas, o gasoduto Power of Siberia 2. Ele retornou com o anúncio do governo russo de que estaria nos "estágios finais" e com um relatório da S&P Global, conhecida como agência de classificação de risco, avisando que ele pode ser assinado durante o fórum BRI.

Segundo a S&P, o gigante chinês de petróleo e gás CNPC impôs uma "barganha difícil" a Moscou, sobre o preço a ser pago pelo gás russo antes entregue no norte da Europa. Mas a consultoria americana adiantou que, segundo fonte baseada em Pequim e próxima das negociações, o acordo seria assinado "durante a visita de Putin à China".

Para Xi, não se trata apenas de conseguir preço melhor. O segundo gasoduto russo reduziria ainda mais a dependência de gás liquefeito (LNG), que é entregue por via marítima, de maior risco diante da crescente presença militar americana e japonesa nos mares da China.

Se confirmada, esta será uma das poucas viagens de Putin ao exterior, após o mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional por supostas crimes de guerra. Ele visitou em abril a região ucraniana anexada pela Rússia e, dias atrás, o Quirguistão, para a cúpula da Comunidade de Estados Independentes.

Se ainda há incerteza quanto aos próximos passos nas relações comerciais, inclusive quanto aos produtos agropecuários russos, como soja e carne suína, nos vínculos militares os acordos vêm se ampliando —do uso do porto de Vladivostok pela China à presença naval chinesa no Ártico russo.

Embora a atenção global se concentre na presença de Putin, a BRI tem significado muito mais amplo para Xi. Nestes dez anos, avalia Christoph Nedopil, professor das universidades Griffith (Austrália) e Fudan (China), o investimento de Pequim foi "impressionante".

"No início deste ano, a soma acumulada ultrapassou US$ 1 trilhão, na maior parte destinados a transporte, energia e outras infraestruturas tradicionais", escreveu ele no japonês Nikkei. "Embora não seja perfeitamente comparável, o Banco Mundial investiu US$ 800 bilhões durante os mesmos dez anos."

A Itália indicou que pode deixar a BRI, mas outros 140 países, em sua grande maioria no chamado Sul Global, o grupo dos países em desenvolvimento, são esperados em Pequim. No fim de semana, entre outros, desembarcaram na capital chinesa o queniano William Ruto e o chileno Gabriel Boric.

O fórum deve evidenciar a evolução do programa na década, em parte como resposta às críticas que recebe do Ocidente desde o princípio. Na metade do caminho, por exemplo, abandonou projetos de carvão e passou a dar atenção àqueles com padrão ambiental. Também diminuiu sua grandiosidade, priorizando sustentabilidade financeira e mecanismos como a troca de dívida por natureza. Por fim, incorporou empresas privadas como Alibaba e CATL.

Desde 2013, os EUA e o G7 lideraram o lançamento de cinco programas concorrentes, por enquanto sem o mesmo impacto: Blue Dot Network, Build Back Better World, Partnership for Global Infrastructure and Investment, Global Gateway e o recente India-Middle East-Europe Economic Corridor.

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