Guerra de informação entre Israel e Hamas atinge a todos com smartphone, diz Ressa

Jornalista Nobel da Paz alerta para uso de deepfakes no conflito e afirma que momento desafia a imprensa

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São Paulo

Os desdobramentos militares estão concentrados em Gaza, mas a guerra Israel-Hamas tem consequências para todos os cidadãos do mundo, diz a Nobel da Paz Maria Ressa.

Isso porque a guerra de informação entre os dois lados tem como alvos "todos aqueles que carregam um smartphone", disse a jornalista filipino-americana nesta sexta-feira (10), segundo relato da agência de notícias AFP. "É uma guerra de informação geopolítica."

A jornalista Maria Ressa discursa durante fórum do Nobel da Paz em Washington, nos Estados Unidos
A jornalista Maria Ressa discursa durante fórum do Nobel da Paz em Washington, nos Estados Unidos - Andrew Caballero-Reynolds - 24.mar.23/AFP

Ressa falava na sede da ONG Repórteres Sem Fronteiras, em Paris, no contexto de debates sobre um documento que busca implementar regras éticas comuns para o uso da inteligência artificial (IA).

"Sou jornalista há 38 anos e nunca vivi uma situação como a que atravessamos agora", seguiu Ressa, perseguida pelo governo e pelo sistema de justiça em seu país de origem, o arquipélago das Filipinas, onde cofundou o nativo digital Rappler.

Ela afirma que o atual conflito no Oriente Médio expõe o uso das deepfakes —imagens alteradas por IA— no contexto de guerras e que "isso só tende a piorar". "É um período difícil para os jornalistas."

Nesta semana, Tel Aviv também subiu o discurso relacionado a jornalistas. O gabinete do premiê Binyamin Netanyahu acusou alguns profissionais de serem "cúmplices de crimes contra a humanidade".

Além do alerta sobre a desinformação pautado pela prêmio Nobel da Paz, há o desafio para a segurança dos profissionais da imprensa. Segundo balanço atualizado nesta sexta pelo Comitê para Proteção dos Jornalistas, 40 jornalistas e outros trabalhadores da mídia foram confirmados mortos neste conflito, sendo 35 de origem palestina, 4 israelenses e um libanês.

Outros oito ficaram feridos em meio às hostilidades, e três foram dados como desaparecidos. Há ainda o caso de 13 jornalistas que foram detidos, e a organização denuncia várias agressões, ameaças e ataques a profissionais da mídia e a seus familiares desde o último 7 de outubro.

Maria Ressa também coassinou carta aberta divulgada por cerca de cem laureados com o Nobel da Paz no último dia 31 em que os premiados apelam à proteção das crianças durante o atual conflito.

"Estamos profundamente chocados com as cenas de crianças mortas durante os massacres do Hamas e no subsequente bombardeio generalizado de Israel na Faixa de Gaza", afirmava a carta, que também contava com a assinatura do jornalista russo Dmitri Muratov, premiado ao lado de Ressa, e do ex-presidente do Timor Leste José Ramos-Horta.

"Existe grave risco de perda de vidas nas próximas semanas, e crianças de outros países também estão em risco. Crianças palestinas são nossos filhos. Crianças israelenses são nossos filhos. Não podemos nos considerar civilizados se é isso que fazemos", seguia o texto dos nobéis.

Ressa ganhou o Nobel da Paz em 2021 como demonstração do prêmio em defesa da liberdade de imprensa ao redor do mundo. Ela é autora de "Como Enfrentar Um Ditador", obra publicada no Brasil em dezembro passado pela Companhia das Letras.

Até esta sexta-feira a guerra Israel-Hamas deixou ao menos 11 mil pessoas mortas em Gaza, segundo o Ministério da Saúde, controlado pelo Hamas. O balanço, divulgado durante a amanhã, afirma que ao menos 4.500 seriam menores de idade. Já os ataques da facção terrorista no sul israelense em 7 de outubro teriam deixado 1.200 mortos, de acordo com número recém-revisado.

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