Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Mulher do chefe de espionagem militar da Ucrânia é envenenada

Caso é o primeiro em uma família do primeiro escalão do país desde o início da guerra

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São Paulo

A mulher de um dos mais poderosos integrantes do governo da Ucrânia, o chefe de espionagem militar Kirilo Budanov, foi envenenada e está internada. A informação foi veiculada pelo canal público Suspilne e por diversos veículos privados do país.

Não houve comentário oficial do órgão chefiado por Budanov, o GRU (Diretoria Principal de Inteligência, na sigla ucraniana). Maria Budanova, segundo a mídia local disse citando informantes anônimos, teve intoxicação aguda por metais pesados.

O chefe da inteligência militar ucraniana, general Kirilo Budanov, cuja mulher foi envenenada
O chefe da inteligência militar ucraniana, general Kirilo Budanov, cuja mulher foi envenenada - Valentin Ogirenko - 6.jul.2023/Reuters

É a primeira vez que alguém da família de um integrante do alto escalão ucraniano é envenenado desde o início da guerra, com a invasão russa de 24 de fevereiro do ano passado. No começo do mês, um assessor do principal general do país, Valeri Zalujni, morreu ao receber um presente-bomba.

Segundo o jornal Ukrainska Pravda, o envenenamento de Budanova ocorreu por meio de alimentos, e outros membros da direção da GRU também teriam sido afetados.

Como não houve comentários oficiais, ninguém apontou um culpado: Budanov é temido dentro e fora do país e tem diversos adversários internos. Mas a seta, até pelo contexto da guerra, vai sempre apontar para Moscou.

É longa a lista de adversários do Kremlin que acabaram envenenados nos últimos anos, ainda que não necessariamente eles tenham sido atacados diretamente pelo governo —rivalidades internas que acabam mal para um lado são uma tradição local.

Isso dito, notórios críticos do governo de Vladimir Putin ou morreram, como o ex-espião Alexander Litvinenko em 2006 ao tomar chá com o elemento radioativo polônio-210, ou quase, como o ex-espião Serguei Skripal em 2018 e o ativista oposicionista Alexei Navalni, em 2020, esses dois pelo agente neurotóxico soviético novitchok.

Budanov é especialmente odiado na Rússia porque a GRU é responsável por diversos ataques em território russo ou ocupado, como a Crimeia anexada em 2014. Ele admitiu, em uma entrevista neste ano, estar por trás de ataques feitos por sabotadores infiltrados contra bases aéreas russas com drones.

A GRU também operou incursões para a destruição de baterias antiaéreas na Crimeia e opera parte da frota de drones marítimos contra navios russos no mar Negro. Na conta da agência também estão a morte por atentados da filha de um ideólogo nacionalista russo, Alexander Dugin, e de um blogueiro militar pró-Kremlin.

Budanov teve a prisão decretada "in absentia" por uma corte de Moscou por terrorismo, em abril. Ele é uma figura conhecida pelo humor ácido e costuma estrelar memes na internet. Disse no começo do ano que "iria continuar matando russos em qualquer lugar na face da Terra até a vitória completa da Ucrânia".

Ucrânia confirma abate de aeronaves na Rússia

Em outro desenvolvimento relativo à guerra, o porta-voz da Força Aérea ucraniana, coronel Iuri Ignat, confirmou algo que vinha sendo especulado há meses: que em maio um sistema de defesa antiaérea americano Patriot derrubou cinco aeronaves dentro do espaço aéreo da Rússia em maio.

O incidente ocorreu, segundo Ignat, em 13 de maio, pouco depois do recebimento da primeira bateria do Patriot, vinda da Alemanha. Ele listou como derrubados três helicópteros de ataque Mi-28, um avião de ataque Su-34 e um caça Su-35S.

Confirmada, será uma das maiores perdas da Força Aérea de Putin em um só dia na guerra, mas a questão é mais complexa: ela ocorreu sobre a região de Briansk, perto da fronteira da Ucrânia.

Um dos limites impostos pelos EUA e pelos países da Otan (aliança militar ocidental) no fornecimento de armas a Kiev é que elas só fossem utilizadas dentro das fronteiras internacionais ucranianas. O temor é de uma escalada em que o Ocidente seja acusado pela Rússia, a maior potência nuclear do mundo ao lado dos EUA, de ataque contra seu território.

O silêncio de todos os lados sugere que foi justamente o temor de uma escalada que manteve o tema sob sigilo oficial, inclusive do lado russo. A fala pública de Ignat ocorre, contudo, em um momento em que a Ucrânia teme perder apoio militar por uma série de fatores: fadiga com a guerra, mudança de ares políticos nos EUA e na Europa, o foco no conflito Israel-Hamas e o fracasso de sua contraofensiva.

Nesta terça, os chanceleres da Otan se reuniram em Bruxelas, sede da organização, com cobranças mais diretas acerca do comprometimento americano: impasse promovido pela oposição republicana na Câmara dos Representantes travou um plano que iria prever US$ 61,4 bilhões para Kiev em 2024 —até aqui, EUA lideram a ajuda com US$ 45 bilhões.

"É nossa obrigação garantir que vamos fornecer as armas que a Ucrânia precisar, porque será uma uma tragédia se Putin vencer. Será perigoso para nós também", afirmou o secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg. Membros da aliança, como Polônia e Eslováquia, já anunciaram o fim da ajuda.

Os combates em si continuam pesados, em especial em torno de Avdiivka, cidade do leste ucraniano que os russos parecem decididos a tomar apesar das pesadas baixas relatadas. No restante do país, as frentes seguem estáveis, afetadas também pela continuidade das chuvas e da neve em toda a bacia do mar Negro.

Ao menos dez pessoas morreram na Ucrânia devido a nevascas, e cerca de 100 mil pessoas ainda estão sem eletricidade na Crimeia, cortesia da chegada antecipada em um mês do "general inverno", tão famoso por influenciar o rumo de batalhas na região.

Além disso, um bombardeio com artilharia russa matou ao menos quatro pessoas em Nikopol, sul ucraniano, segundo o governo local.

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