Descrição de chapéu Argentina

Primeiro ato contra Milei na Argentina evoca 'nunca mais' e tem canto contra 'nazis'

Mobilização se somou à tradicional marcha feita pelas Mães da Praça de Maio em frente à Casa Rosada em Buenos Aires

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Buenos Aires

Em clima de "seremos resistência", diversos movimentos sociais peronistas e de esquerda se juntaram na tarde desta quinta-feira (23) na Praça de Maio, no centro de Buenos Aires, para o primeiro grande protesto depois da vitória do ultraliberal Javier Milei na Argentina.

Os manifestantes evocaram o "nunca mais" e repetiram cantos comuns da militância contra a ditadura que citam nazistas. "Olé olé, olé olá, como a los nazi, les va a passar, a donde vayan los iremos a buscar" —algo como: assim como os nazistas, vamos buscá-los, não importa onde estejam.

Movimentos de esquerda protestam contra o presidente eleito Javier Milei em Buenos Aires
Movimentos de esquerda protestam contra o presidente eleito Javier Milei em Buenos Aires - Luis Robayo/AFP

Centenas de pessoas e dezenas de bandeiras se reuniram à marcha das Mães da Praça de Maio, feita todas as quintas-feiras há 46 anos em frente à Casa Rosada, onde o presidente eleito tomará posse no próximo dia 10 de dezembro. Nessa data, o país comemorará 40 anos de democracia ininterruptos.

"Nem um passo atrás", gritava um manifestante ao lado da tenda onde discursaram as mulheres com os tradicionais panos brancos na cabeça, que até hoje marcham pela memória de seus filhos desaparecidos durante a última ditadura militar (1976-1983).

"Resistir é combater. Sabemos que é preciso ficar ao lado das pessoas que ficarão sem trabalho", dizia uma delas enquanto panos com os dizeres "30 mil" eram distribuídos ao público. O número é uma estimativa de pessoas mortas e desaparecidas durante o regime militar e foi negado por Milei durante um dos debates na campanha.

"Não foram 30 mil desaparecidos, foram 8.753", disse o então candidato. O número oficial, que até hoje é compilado pelo Registro Unificado de Vítimas do Terrorismo de Estado, é de 8.631 mortos e desaparecidos no período de 1976 a 1983, mas o próprio relatório reconhece que a cifra é subestimada.

O medo da extinção de empregos foi outra tônica do protesto, diante da reiteração de Milei nos últimos dias de que levará as obras públicas "a zero" e privatizará "tudo o que puder estar nas mãos da iniciativa privada", incluindo empresas de comunicação estatais, a petroleira YPF e a companhia aérea Aerolineas Argentinas.

Participaram do ato grupos como a ATE (Associação de Trabalhadores do Estado), o Sindicato da Imprensa de Buenos Aires (SiPreBA) e o movimento Memória, Verdade e Justiça, que une várias organizações em prol dos direitos humanos. Eles também falavam em temor de repressão a protestos na nova gestão.

A vendedora ambulante Oriana Rodriguez, 32, anunciava a venda de meias "contra o Milei" —apesar de serem peças de roupas normais. "Eu trabalho na rua, como não vou ser contra? Ele não vai me deixar trabalhar, vai reprimir as ruas", afirmou ela. "Não acho que ele vai poder governar, não vão deixar."

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