Família de Fito, líder de facção do Equador, é deportada da Argentina

Mulher e filhos de chefe dos Choneros foragido estavam em condomínio fechado na província de Córdoba

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São Paulo

A esposa e os filhos de Adolfo Macías, narcotraficante do Equador conhecido como Fito, foram detidos na Argentina e deportados na madrugada desta sexta-feira (19). O líder da gangue Los Choneros está no centro da crise de segurança que assola o país sul-americano desde o início de janeiro —foi a sua fuga da prisão que desencadeou uma onda nacional de violência.

Seus familiares foram localizados em um condomínio na região de Córdoba, afirmaram autoridades em um encontro com jornalistas no começo da tarde. Os detidos seriam sua mulher, Inda Mariela Peñarrieta, 48, e seus três filhos, de 4, 12 e 21 anos, de acordo com a imprensa local.

Adolfo Macías, o Fito, é transferido para complexo de segurança máxima em Guayaquil, no Equador - 12.ago.2023/via AFP

Estavam no mesmo local uma funcionária, um amigo da família e um sobrinho do narcotraficante. Estes teriam saído do país por vontade própria, segundo afirmou o jornal argentino La Nacion, atribuindo a informação a pessoas que participaram da operação.

Ela teve início na noite de quinta-feira (18), e contou com um helicóptero da polícia, que sobrevoou a área. O grupo de equatorianos foi transferido para o seu país natal em um avião da Força Aérea da Argentina que decolou às 2h50 de Buenos Aires e aterrissou às 9h30 locais (11h30, no horário de Brasília) na base aérea militar de Guayaquil, segundo a agência de notícias EFE. A cidade na costa do Equador é o epicentro da crise de violência.

Peñarrieta é enfermeira de formação, e é há tempos investigada pelas autoridades equatorianas. Em 2020, ela foi acusada de fraude fiscal, lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito pelo Ministério Público, que identificou depósitos de US$ 2,1 milhões ao longo de seis anos em suas contas bancárias, de acordo com o jornal Primicias, do Equador.

Em uma audiência, o promotor chegou a acusar Peñarrieta de ser a chefe da organização por gerir o patrimônio de sua família, mas ela foi inocentada junto com os outros acusados. Posteriormente, o juiz que os declarou inocentes foi destituído por uma suposta negligência, mas, em julho de 2022, voltou ao cargo.

A operação responsável por localizar e retirar a família da Argentina durou quatro dias e teve início em uma denúncia anônima ao Ministério de Segurança de Córdoba, segundo o chefe da pasta, Juan Pablo Quinteros. A informação, então, foi reportada a entidades nacionais, que também tinham uma investigação sobre o tema em andamento e passaram a atuar em conjunto com as autoridades da província.

Segundo a ministra de Segurança e ex-candidata à Presidência da Argentina Patricia Bullrich, a família entrou definitivamente no país em 5 de janeiro. Antes, eles já haviam feito visitas à Argentina em setembro, outubro e novembro do ano passado, quando compraram a casa em que viviam.

"Nossa hipótese é que havia um plano de comprar a casa, tirar a família do país e, uma vez que a família saísse, fugir da prisão", afirmou Bullrich. De fato, dois dias após a compra da casa, Fito fugiu da cadeia. Não há, porém, indicações de que ele está na Argentina, segundo as autoridades.

A ministra afirmou ainda que o promotor equatoriano que investigava a viagem da família à Argentina foi assassinado. Ela não citou nomes, mas, na última quarta-feira (17), o promotor equatoriano César Suárez, que apurava a invasão de uma emissora no Equador durante uma transmissão ao vivo, nos dias iniciais da crise de violência, foi assassinado a tiros a caminho de uma audiência judicial.

O governo argentino aproveitou a operação para mencionar agendas caras à sua base. "Os narcotraficantes sempre fazem o mesmo. Buscam um lugar seguro para suas famílias e tentam fazer com que elas não sejam envolvidas em suas atividades", disse a ministra. "Pensaram que Argentina era um país permeável, talvez não soubessem que o governo havia mudado."

Ainda no evento com jornalistas, o ministro da Defesa, Luis Alfonso Petri, afirmou que a Argentina precisa de uma reforma na lei migratória para que pessoas que cometem crimes fossem expulsas do país em menos de 72 horas. Em seu plano de governo, o recém-eleito presidente Javier Milei havia citado a intenção de proibir a entrada de pessoas com antecedentes penais na Argentina.

A crise de segurança no Equador já dura mais de cinco anos, mas ganhou novas proporções no começo deste ano. A escalada começou quando a polícia entrou na Prisão Regional de Guayaquil em 7 de janeiro e não encontrou Fito em sua cela.

O governo declarou estado de exceção, mobilizou tropas e lançou uma ofensiva severa contra o narcotraficante. As gangues reagiram com mais violência —houve motins nas prisões, sequestro de 178 funcionários do sistema penitenciário, explosões de carros-bomba e tiroteios nas ruas.

No dia seguinte, 8 de janeiro, o presidente Daniel Noboa declarou um "conflito armado interno" contra 22 facções que, juntas, abarcariam cerca de 20 mil membros segundo o governo equatoriano. De acordo com a imprensa local, as gangues operam no país em aliança com cartéis mexicanos e colombianos.

Fito segue foragido desde a sua fuga. Na semana passada, foram levantadas suspeitas de que ele tenha entrado na Colômbia. "Há 20 fugitivos [das prisões equatorianas] aos quais estamos muito atentos", disse o comandante das Forças Militares colombianas, Helder Giraldo, à W Radio em 12 de janeiro, acrescentando que o poderoso contrabandista estava na lista.

Na quarta, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou que a polícia tenta verificar essa hipótese. "Se for uma realidade, a ordem é capturá-lo. A inteligência policial está trabalhando com as pistas [disponíveis] para confirmar essas informações", disse o líder em Davos, na Suíça, onde ele participava do Fórum Econômico Mundial.

Com AFP

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