Promotor do Equador que investigava invasão de canal de TV é assassinado

César Suárez havia sigo designado para determinar qual grupo criminoso estava por trás do episódio na cidade de Guayaquil

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São Paulo

O promotor responsável por investigar a invasão de um canal de TV do Equador que fazia uma transmissão ao vivo, nos dias iniciais da atual crise de segurança pública que vive o país sul-americano, foi assassinado nesta quarta-feira (17) na cidade portuária de Guayaquil.

Membros da Polícia Nacional do Equador no local onde o promotor Cesar Suarez fora assassinado horas antes, em Guayaquil
Membros da Polícia Nacional do Equador no local onde o promotor César Suárez fora assassinado horas antes, em Guayaquil - Christian Vinueza/AFP

César Suárez foi morto a tiros a caminho de uma audiência judicial. Ele dirigia durante a tarde na avenida do Bombeiro, no norte da cidade, quando homens dispararam contra o carro. O veículo teria ficado com mais de 20 buracos de bala, segundo relatos do jornal El Universo.

Ele havia sido designado para investigar qual dos diversos grupos criminosos que atuam no país está por trás da invasão das instalações do canal TC no último dia 9. O governo designou 22 desses grupos como "organizações terroristas" na última semana.

O ataque ao canal de televisão foi o estopim que levou o presidente equatoriano, Daniel Noboa, a decretar estado de "conflito armado interno" no país, que atualmente assiste à violência do narcotráfico elevada à máxima potência.

O promotor equatoriano César Suárez em imagem compartilhada em suas redes sociais - Reprodução

Suárez atuava no braço do Ministério Público especializado em investigações contra o crime transnacional e ficava baseado na província de Guayas, cuja capital é Guayaquil.

Pouco após sua morte, a procuradora-geral Diana Salazar publicou vídeo nos canais oficiais do órgão para prestar solidariedade à família e apresentar algumas demandas às forças de segurança.

"Os grupos de crime organizado, os terroristas, não vão parar o nosso compromisso com a sociedade equatoriana", disse ela na breve mensagem. "Essa atitude violenta quer mandar uma mensagem para o nosso trabalho de compromisso com a justiça."

Salazar pediu que os agentes de segurança enviem equipes para proteger os promotores envolvidos nas investigações dos atuais episódios de violência e que as audiências desses casos passem a ser realizadas de forma virtual, de modo a evitar o deslocamento dos promotores pelas perigosas vias públicas de Guayaquil.

Ainda de acordo com a procuradora-geral, seu escritório abriu uma investigação preliminar para apurar o assassinato do colega de equipe.

Suárez era um funcionário de longa data do Ministério Público e atuava como professor universitário na área de direito. Segundo um perfil publicado pelo El Universo, muitas das investigações nas quais esteve envolvido apuraram o envolvimento de policiais e outras autoridades do Estado em crimes relacionados ao narcotráfico.

De acordo com a Revista Vistazo, veículo equatoriano, o promotor já havia recebido ameaças de morte em 2017, quando atuava na província de Manabí. À época panfletos foram distribuídos na região oferecendo US$ 1 milhão (quase R$ 5 milhões) por seu assassinato.

A invasão do canal TC por homens encapuzados que apontaram armas para os funcionários, inclusive o apresentador que falava ao vivo para os telespectadores, terminou com a polícia ingressando no local e prendendo mais de dez homens.

O episódio ocorreu apenas dois dias depois de Fito, o chefe da facção Los Choneros, fugir da Penitenciária Regional, em Guayaquil. Ele é considerado um dos nomes mais poderosos do narcotráfico no Equador e estava prestes a ser transferido para uma prisão de segurança máxima quando escapou.

Pouco depois, outros casos de violência se disseminaram pelo país, como o sequestro de mais de 170 funcionários penitenciários, desde agentes de segurança, passando por pessoal administrativo até auxiliares de cozinha, por detentos de diversas cadeias do país. Os reféns foram liberados no último domingo (14).

O presidente Noboa inicialmente decretou estado de exceção, uma medida relativamente comum no país e que aumenta a militarização dos espaços público. Na sequência, subiu o tom e anunciou que o Equador está em meio a um "conflito armado interno".

A situação chamou a atenção de diversos países, em especial aqueles da América do Sul, muitos dos quais também assistem a grupos ligados ao narcotráfico se enraizarem nas sociedades.

Promotores equatorianos há muito são ameaçados pelas facções que atuam no país. Em junho passado, um deles, Leonardo Palacios, foi assassinado na cidade de Durán, próxima a Guayaquil. A própria procuradora Diana Salazar já denunciou ameaças de morte contra ela e seus familiares por parte da facção Los Lobos.

Semanas antes do ataque contra o canal TC e da eclosão da atual crise de segurança, o Ministério Público colocou em prática uma ampla operação apelidada de "Metástasis" (metástase), cujo foco é a chamada "narcopolítica" —ou seja, a relação dos centros de poder institucionais equatorianos com o narcotráfico.

Salazar é a primeira mulher negra a chefiar o Ministério Público e tem em seu currículo a investigação de casos como o que levou o então vice-presidente Jorge Glas à prisão em 2017 por associação criminosa por receber propina da construtora brasileira Odebrecht para beneficiá-la em licitações no país.

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