Opositora da ditadura na Venezuela acusa Lula de validar abusos de Maduro

Presidente disse que, quando foi impedido de concorrer, não ficou 'chorando' e indicou outro candidato

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São Paulo

María Corina Machado, opositora da ditadura na Venezuela, disse nesta quarta-feira (6) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) "valida os abusos de um autocrata" depois que o brasileiro comparou a situação dela, que está proibida de concorrer nas eleições venezuelanas, com a sua própria em 2018, quando estava preso e impedido de se candidatar.

Respondendo a uma pergunta da Folha sobre comparações que havia feito entre a oposição no Brasil e na Venezuela, Lula disse: "Ao invés de ficar chorando [em 2018], indiquei outro candidato e ele disputou as eleições" —o hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que foi derrotado por Jair Bolsonaro naquele ano. Lula deu as declarações durante uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto após reunião bilateral com o premiê espanhol, Pedro Sánchez.

Maria Corina Machado fala com o olhar apontado para fora do quadro. Ela é uma mulher branca, de cabelos longos e escuros, maquiada.
A opositora venezuelana María Corina Machado durante uma entrevista à agência de notícias Reuters, em Caracas - Gaby Oraa - 9.fev.2024/Reuters

Em uma publicação no X, Corina, 55, rebateu Lula, dizendo "eu, chorando? Disse isso porque sou mulher? O senhor não me conhece. Estou lutando para fazer valer o direito de milhões de venezuelanos que votaram em mim nas primárias e o de milhões que tem o direito de fazê-lo em eleições livres, nas quais derrotarei Maduro".

"O senhor está validando os abusos de um autocrata que viola a Constituição e o Acordo de Barbados que o senhor diz apoiar", seguiu Corina, fazendo referência às negociações entre o ditador Nicolás Maduro e a oposição que visavam garantir eleições livres, mas que foram deixadas de lado depois que o regime denunciou supostos planos para assassinar Maduro.

"A única verdade é que Maduro tem medo de me enfrentar porque sabe que o povo venezuelano está hoje nas ruas comigo", concluiu a opositora.

O ditador venezuelano convocou eleições para o dia 28 de julho, mas Corina, que é a principal opositora do regime, está proibida de concorrer, uma vez que foi declarada inelegível por 15 anos pela Controladoria-Geral da Venezuela. Ela havia sido escolhida em votação primária para disputar a eleição e, apesar da decisão contra si, descarta desistir da candidatura.

Ela foi considerada inelegível por irregularidades administrativas da época em que foi deputada, de 2011 a 2014, segundo a Controladoria-Geral. A medida foi imposta contra ela em 2015, mas tinha vigência de um ano apenas. A extensão, alega o órgão, seria porque ela apoiou sanções dos EUA contra Maduro.

Opositora ferrenha do chavismo, Corina vinha despontando como o principal nome para as primárias da oposição. As eleições na Venezuela estão marcadas para acontecer em 28 de julho, dia em que nasceu Hugo Chávez, antecessor de Maduro.

No início do mês, Maduro disse em conversa com o presidente Lula às margens da cúpula da Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos) que faria eleições em seu país no segundo semestre. Ele afirmou ao brasileiro ter articulado um novo acordo com partidos de oposição e que haverá observadores internacionais e auditoria para garantir a lisura do pleito.

Falando no Planalto hoje ao lado de Sánchez, Lula mencionou essa promessa, dizendo que Maduro "vai convocar todos os olheiros do mundo que quiserem assistir o processo eleitoral na Venezuela", e que espera que as eleições sejam as mais democráticas possíveis.

Antes, questionado pela reportagem, o presidente havia dito: "Pode dizer assim na Folha de S.Paulo: Lula está muito feliz que finalmente está marcada a data das eleições na Venezuela. Espero que as pessoas que estão disputando eleições não tenham o hábito de ex-presidente deste país, de negar processo eleitoral, as urnas e a respeitabilidade à Suprema Corte".

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