Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Netanyahu pressiona, e Parlamento aprova proibição da Al Jazeera em Israel

Premiê chama canal qatari de 'terrorista' e diz que lei será aplicada imediatamente; emissora aponta 'mentira perigosa e ridícula'

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Boa Vista

O Parlamento de Israel aprovou nesta segunda-feira (1º) uma lei que permite ao governo proibir a transmissão do canal qatari Al Jazeera e de outros veículos estrangeiros no país. O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu afirmou que a norma entrará em vigor "imediatamente" e chamou a emissora de "terrorista".

"O canal terrorista Al Jazeera deixará de ser transmitido em Israel. Pretendo agir imediatamente de acordo com a nova lei para encerrar as atividades do canal", escreveu no X.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, no Parlamento do país, em julho passado
O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, no Parlamento do país, em julho passado - Amir Cohen - 24.jul.2023/Reuters

Aprovada por 71 votos favoráveis e 10 contrários, a lei permite que o ministro das Comunicações proíba a transmissão de conteúdos de canais estrangeiros e mande fechar seus respectivos escritórios em Israel se o gabinete do premiê avaliar que a emissora ameaça a segurança nacional. Medidas do tipo precisam da aprovação do governo ou do gabinete de segurança, segundo a imprensa local.

A Al Jazeera chamou a acusação de que é terrorista de "uma mentira perigosa e ridícula" e jurou manter sua cobertura na área, se necessário recorrendo à Justiça. Ela já tinha negado imputações similares em outras ocasiões, replicando que Tel Aviv ataca seus funcionários na Faixa de Gaza sistematicamente.

O Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ), por sua vez, afirmou que a nova legislação é uma "ameaça significativa" à imprensa internacional. "[A lei] contribui para o clima de autocensura e hostilidade à imprensa, uma tendência que cresceu desde o início da guerra", disse.

Em janeiro, por exemplo, Israel classificou de "agentes terroristas" dois jornalistas da rede mortos em um bombardeio no território palestino. Também afirmou que outro funcionário da emissora, ferido em um atentado, era um "comandante-adjunto" do Hamas, grupo terrorista com o qual está em guerra há quase seis meses.

O chefe do veículo em Gaza, Wael Dahdouh, foi ferido em um bombardeio israelense ao local em dezembro, no qual morreu um cinegrafista de sua equipe. No mês seguinte, o filho de Dahdouh, Hamza, que também era repórter da emissora, foi morto em outro ataque. Dahdouh já havia perdido outros dois filhos, a esposa e um neto em um bombardeio nas primeiras semanas da guerra.

Um vídeo publicado após a morte do filho de Dahdouh em um canal do YouTube ligado à Al Jazeera mostra o jornalista chorando ao lado do corpo de seu filho e segurando sua mão. Mais tarde, após o enterro, ele veio a público dizer que os jornalistas em Gaza continuariam a fazer seu trabalho.

"A Hamza e a todos os mártires digo que permaneceremos fiéis. Este é o caminho que escolhemos conscientemente. Oferecemos muito, oferecemos muito sangue, pois este é o nosso destino. Continuaremos", disse Dahdouh em Rafah, cidade no extremo sul do território onde hoje estão abrigados mais de um milhão de palestinos forçados a se deslocar pelo conflito.

Em dezembro, um relatório do CPJ registrou 60 mortes de jornalistas e outros funcionários da mídia em Israel e nos territórios palestinos ocupados —Gaza e Cisjordânia— desde o início do conflito. A cifra representa mais do que o dobro do número de profissionais de imprensa mortos na região nos últimos 30 anos —de 1992 a 2022, ele foi de 25.

Os Estados Unidos, principais aliados de Israel apesar de discordâncias recentes entre Netanyahu e o presidente Joe Biden, classificaram relatos sobre a aprovação da lei de "preocupantes".

"Acreditamos na liberdade de expressão. É algo crucial, e os EUA apoiam o trabalho essencial de jornalistas ao redor do mundo. Isso inclui os que estão reportando sobre o conflito em Gaza. Se esses relatos são verdadeiros, é algo preocupante para nós", afirmou Karine Jean-Pierre, porta-voz da Casa Branca.

Não é a primeira vez que Netanyahu tenta suspender a transmissão da emissora no país. Em 2017, durante grandes protestos de árabe-israelenses, ele ameaçou fechar o canal qatari, afirmando que "incitava a violência" das manifestações.

A Al Jazeera foi criada em 1996 pelo emir Hamad bin Khalifa Al Thani, pai do atual líder do Qatar. O pequeno país do Oriente Médio atua desde antes do atual conflito entre Israel e Hamas como mediador importante em negociações entre atores e inimigos da região.

Passaram por Doha os diálogos que obtiveram um cessar-fogo temporário na guerra em novembro. O país mantém um escritório do Hamas em seu território, a maior base militar de Washington no Oriente Médio e já recebeu representação do Talibã.

A Al Jazeera se popularizou no Ocidente com a cobertura, contrastante com a maioria dos veículos ocidentais, da Guerra do Iraque e da invasão americana do Afeganistão. No Iraque, o jornalista palestino Tareq Ayyoub foi morto após disparos de avião americano contra o escritório da emissora.

Em maio de 2022, outra repórter do canal foi morta em cobertura de conflitos, desta vez por forças israelenses. A palestino-americana Shireen Abu Akleh, 51, repórter veterana e popular que usava colete de imprensa durante operação de tropas israelenses na Cisjordânia, morreu após ser atingida com um tiro na cabeça na cidade de Jenin.

Também nesta segunda, um ataque aéreo contra a embaixada do Irã em Damasco, capital da Síria, matou ao menos cinco pessoas, incluindo um comandante da Guarda Revolucionária Iraniana, de acordo com a televisão estatal de Teerã, que atribuiu o bombardeio a Israel.

"O general de brigada Mohamad Reza Zahedi, um dos altos comandantes da Força Quds, foi martirizado em um ataque de combatentes do regime sionista contra o prédio do consulado da República Islâmica do Irã em Damasco", disse a emissora em referência à elite da Guarda Revolucionária do Irã.

Com Reuters e AFP

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