Ocidente deveria apreciar moderação do Irã, diz regime após atacar Israel

Teerã lançou mísseis contra Estado judeu em resposta a uma operação que atribuiu a Tel Aviv contra embaixada em Damasco

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São Paulo

Países ocidentais deveriam "apreciar a moderação do Irã nos últimos meses", afirmou nesta segunda-feira (15) o porta-voz da diplomacia do regime, Nasser Kanani, dois dias após o primeiro ataque de Teerã contra Israel desde 1979, ano em que a República Islâmica foi estabelecida no país.

"Em vez de fazer acusações contra o Irã, os países [ocidentais] deveriam culpar a si mesmos e responder à opinião pública pelas medidas que adotaram contra os [...] crimes de guerra cometidos por Israel" disse Kanani.

Painel no centro de Teerã mostra mísseis sendo lançados a partir do mapa do Irã - Atta Kenare - 14.abr.2024/AFP

Na noite de sábado (13), o Irã lançou um grande ataque aéreo contra o Estado judeu com ao menos 300 drones e mísseis. A agressão acontece em meio ao conflito entre Tel Aviv e Hamas, grupo aliado de Teerã, na Faixa de Gaza.

A operação concretiza as ameaças de retaliação do regime após um bombardeio na embaixada iraniana em Damasco, na Síria, matar membros da Guarda Revolucionária no último dia 1º. Teerã atribui o ataque a Israel, que nunca confirmou eventual envolvimento.

O saldo da ação repercutiu de formas diferentes nos dois países envolvidos. Para Tel Aviv, o ataque "foi frustrado" graças a "uma coalizão de defesa de aliados internacionais" liderada pelos Estados Unidos. O Irã, por sua vez, diz ter alcançado "todos os seus objetivos".

O regime iraniano alega ter informado os EUA e dado um aviso de 72 horas a países vizinhos sobre o lançamento. Autoridades turcas, jordanianas e iraquianas disseram no domingo (14) que houve um amplo aviso dias antes da operação, mas Washington afirma não ter sido alertado.

À agência de notícias Reuters, um alto funcionário da administração do presidente dos EUA, Joe Biden, disse que Washington e Teerã fizeram contato por meio de intermediários suíços, mas que não houve avisos com três dias de antecedência.

De acordo com ele, Teerã teria enviado uma mensagem aos EUA apenas depois que os ataques começaram, e a alegação de um aviso generalizado pode ser uma tentativa de compensar a ausência de danos significativos causados pela operação.

De todas as formas, a ação revela a nova estratégia de Teerã —responder diretamente Israel em caso de agressão aos interesses do país. No domingo, Mohammad Jamshidi, assessor do presidente iraniano, Ebrahim Raisi, afirmou que "a era da paciência estratégica" diante do "regime sionista" havia acabado.

O conceito remonta a Hassan Rohani, líder iraniano que defendeu a tática após a decisão dos EUA de abandonar o acordo nuclear sob a presidência de Donald Trump, em 2018.

Nesta segunda, o jornal estatal iraniano Javan celebrou o "histórico" sucesso do ataque e destacou que a ação representava a "nova estratégia do poder na região". A operação, segundo a publicação ultraconservadors, é "um teste de que o Irã precisava para saber como agir em futuras batalhas".

Já o jornal reformista Ham Mihan destacou que a "resposta direta" do Irã "pôs fim ao status quo e quebrou as regras do conflito que opõe ambas as partes" há décadas. "Não há mais uma guerra nas sombras entre os dois lados", que agora "podem ousar atacar diretamente um ao outro", afirmou o jornal.

A operação surpreendeu a comunidade internacional.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, enfatizou a necessidade de evitar uma escalada em uma série de ligações com seus homólogos de Egito, Arábia Saudita, Jordânia, Turquia, Reino Unido e Alemanha, de acordo com declarações do Departamento de Estado.

Já o secretário de Relações Exteriores britânixo, David Cameron, chamou o ataque de "um fracasso total", embora "imprudente e perigoso". À Sky News, o chanceler disse ter pedido a Israel para não escalar a tensão. "Este é um momento para pensar com a cabeça e o coração. Ser inteligente e forte", afirmou à emissora

A chanceler da Alemanha, Annalena Baerbock, foi além quando questionada sobre um eventual direito de retaliação de Israel e disse que "o direito à autodefesa significa repelir um ataque". "Retaliação não é uma categoria no direito internacional", disse, segundo a agência de notícias Associated Press. "Israel venceu de forma defensiva. (...) Agora é importante garantir essa vitória defensiva diplomaticamente."

O presidente da França, Emmanuel Macron, também pediu a Israel para evitar uma escalada militar. Ele disse à imprensa nesta segunda que trabalhará com aliados para continuar isolando Teerã, "aumentando sanções, aumentando a pressão sobre as atividades nucleares e depois encontrando um caminho para a paz na região".

Com AFP, Reuters e NYT

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