Milei pede unidade contra o socialismo em comício da ultradireita na Espanha

Argentino aproveita status de mito entre direita global; governo Sánchez exige desculpas por fala contra esposa de premiê

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Madri | AFP

O presidente da Argentina, o ultraliberal Javier Milei, pediu neste domingo (19) unidade da direita europeia contra o socialismo em um evento de campanha em Madri. O comício confirmou o status de mito que o argentino tem entre a ultradireita global.

"Não cedamos ao socialismo, vamos enfrentá-lo com coragem", disse Milei no evento, que foi organizado pelo partido Vox para pedir votos nas eleições do Parlamento Europeu, que acontecem entre os dias 6 e 9 de junho. "Parece que somos poucos, mas não temos nada a temer", afirmou o presidente.

O presidente argentino, Javier Milei, fala durante um evento de campanha do partido de ultradireita espanhol Vox em Madrid - Ana Beltran - 19.mai.24/Reuters

O comício é o último compromisso de Milei na Espanha, onde chegou na sexta-feira (17) para a primeira viagem ao país europeu desde que tomou posse como presidente da Argentina em dezembro do ano passado. Entretanto, o argentino não se encontrou com nenhum membro do governo de esquerda do premiê Pedro Sánchez, e tampouco se reuniu com o rei Felipe 6º, como é o comum em visitas de chefes de Estado estrangeiros.

No discurso, Milei voltou a criticar a esposa de Sánchez. Sem citar nomes, o argentino disse que "as elites globais não se dão conta do nível de destruição que atingiríamos se as ideias do socialismo fossem implementadas, mesmo se tiverem uma mulher corrupta e tomarem cinco dias para pensar a respeito".

A fala foi uma referência óbvia a Begoña Gomez, esposa de Sánchez que está sendo investigada por sua suposta relação comercial com empresas que receberam ajuda do governo. Quando o escândalo veio à tona, Sánchez disse que consideraria renunciar e, cinco dias depois, anunciou que permaneceria no cargo.

Em resposta, o governo espanhol reconvocou para consultas sua embaixadora na Argentina, ato tradicional na diplomacia que demonstra descontentamento entre países.

"A Espanha exige ao senhor Milei que peça desculpas em público por suas palavras gravíssimas e sem precedentes na história das relações internacionais", disse o ministro das Relações Exteriores, José Manuel Albares. "Caso isso não ocorra, tomaremos as medidas cabíveis para proteger nossa soberania."

As relações entre a Espanha e a Argentina já estavam estremecidas desde que o ministro dos Transportes do governo Sánchez, Óscar Puente, insinuou em uma fala que Milei é usuário de drogas no último dia 4. Em resposta, o presidente argentino disse que o premiê socialista leva "pobreza e morte" para a Espanha.

Durante discurso também em campanha por votos na eleição do Parlamento Europeu, Sánchez disse que "a internacional ultradireitista se reúne hoje na Espanha com Abascal e Milei à frente porque a Espanha representa tudo o que odeiam: o feminismo, a justiça social, a dignidade do trabalhador, a democracia", disse o premiê, citando o líder do Vox, Santiago Abascal.

"Sabe o que digo aos integrantes dessa internacional ultradireitista? Que ganhamos as eleições gerais, ganhamos as eleições [locais] na Catalunha, e ganharemos também as eleições europeias."

O chefe da diplomacia da União Europeia, o espanhol Josep Borell, condenou a fala de Milei, dizendo que "ataques contra familiares de líderes políticos não tem espaço em nossa cultura: nós os repudiamos, especialmente quanto vêm de nossos parceiros".

Milei, que foi recebido como herói no comício, prometeu aos apoiadores do Vox "dar o exemplo" e mostrar para o mundo que um governo com ideias de direita pode dar certo. Abascal chamou o argentino de "nossa estrela brilhante".

O evento de campanha atraiu milhares de pessoas, na sua maioria espanhóis, mas também argentinos, venezuelanos e cubanos. Com camisetas da seleção argentina e bandeiras do país sul-americano, os apoiadores tinham cartazes com frases conhecidas de Milei, como "viva la libertad, carajo", ou mensagens dirigidas a ele, como "você é a esperança para que eu volte a minha terra".

Também houve elogios ao candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, gritos recorrentes de "Viva a Espanha", e ataques contra a imigração ilegal e a suposta islamização da Europa.

Outra líder da ultradireita presente no evento foi a ex-candidata à Presidência da França, Marine Le Pen. Discursaram ainda, por vídeo, o premiê húngaro, Viktor Orbán, e a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.

O ex-candidato à presidência do Chile, José Antonio Kast, também discursou em Madri, e comparou o presidente chileno, Gabriel Boric, ao líder socialista morto em 1973 Salvador Allende, derrubado em um golpe militar que instaurou a ditadura de Augusto Pinochet. "A esquerda radical nunca muda, ela apenas se disfarça", disse Kast.

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