Descrição de chapéu Brasil-China, 50

Em 8 gráficos, veja indicadores que aproximaram ou afastaram Brasil e China em 50 anos

Dados revelam como relações comerciais se intensificaram e asiáticos tiveram salto em desenvolvimento

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São Paulo

Há exatos 50 anos, o Brasil reconhecia a China de Mao Tse-tung e reatava relações diplomáticas com o país. Desde então, o regime comunista promoveu aberturas com resultados que levaram o gigante asiático a se transformar na segunda economia do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

No mesmo período, os brasileiros viram a ditadura militar deixar o poder e a economia crescer e encolher, com o saldo positivo na queda da desigualdade.

A relação retomada há cinco décadas rendeu frutos, principalmente nos últimos 20 anos. Houve intensificação nas parcerias e, desde 2009, os chineses são os maiores compradores de produtos brasileiros.

Em oito gráficos, mostramos como os dois países evoluíram desde 1974 e os efeitos econômicos e sociais dessas mudanças.

Relação comercial se fortalece

As exportações brasileiras para a China saltaram de US$ 1 bilhão para US$ 100 bilhões em 27 anos. Não há dados mais detalhados sobre o comércio dos países antes de 1997, mas registros indicam que era menor.

O vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, participa de reunião com o vice-presidente da China, Han Zheng, durante visita oficial a Pequim - Shen Hong - 6.jun.24/Xinhua

O aumento substancial do comércio foi registrado no século 21. "A China ganhou no século atual outro protagonismo, principalmente após 2008. Nossa vantagem é que somos um dos únicos países do mundo que tem superávit [exporta mais do que importa] com eles", afirma Marcos Caramuru, que foi embaixador do Brasil na China de 2016 a 2018.

"Temos produtos ainda essenciais para eles", afirma o ex-diplomata, que cita soja, minério de ferro e petróleo.

Disparada da economia chinesa e Brasil aos solavancos

A história do crescimento econômico chinês é única no mundo. Nenhum país se industrializou e se desenvolveu com tanta velocidade. Desde a década de 1970, o gigante asiático viveu a transição de um modelo completamente estatal para uma economia descrita como socialismo de mercado. Registrou crescimento de quase 10% ao ano.

A economia brasileira ensaiou saltos no início deste século, que foram seguidos por um período de recessão.

No final do século passado, o Produto Interno Bruto da China ultrapassou o do Brasil e a distância só aumentou desde então. Até 2015, porém, o PIB per capita brasileiro ainda era maior, o que se inverteu no ano seguinte.

Apesar da evolução em relação ao Brasil, a economia chinesa esfriou nos últimos anos. "Dá para dizer que crescimento de dois dígitos é muito difícil. No ano passado, teve 5,2% de PIB, o que não é ruim", afirma Hsia Hua Sheng, vice-presidente do Bank of China no Brasil e professor da FGV-SP.

Protagonismo das exportações na economia

A importância do comércio exterior no PIB dos dois países, medida segundo o critério da OCDE de exportação de bens e serviços, era relativamente baixa nos anos 1970 e 1980. Raramente ultrapassava 10% do valor do produto interno bruto anual.

A situação se altera primeiro para a China, que a partir dos anos 1990 começa a atrair investimentos de empresas ocidentais e a exportar produtos manufaturados para o mundo —o tamanho dessa atividade para o PIB atingiria um pico em 2006, com 36%.

Com a diversificação da economia e o crescimento do setor de serviços, o comércio exterior hoje representa 19%, o que pode diminuir com a guerra comercial entre Washington e Pequim.

O Brasil viu o valor de suas exportações aumentar com o boom das commodities no início dos anos 2000, e novamente nos últimos anos, com novos mercados para produtos do agronegócio.

Avanços lentos no IDH

Desenvolvido pelo Programa de Desenvolvimento da ONU em 1990, o Índice de Desenvolvimento Humano mensura além da condição financeira da população, os indicadores educacionais e de expectativa de vida. O valor vai de zero a 1 —quanto mais alto, mais desenvolvido.

A China teve um avanço lento e constante do IDH. Passou do 108º lugar no ranking de 1990, quando tinha um índice considerado baixo (0,482), para o 75º em 2022, com um valor alto: 0,788.

O Brasil tinha uma posição muito melhor do que a da China em 1990, em 79º lugar, com um IDH de 0,620. Desde então, evoluiu no índice (0,760), mas caiu no ranking (89ª), que se explica pelo avanço mais significativo de outros países.

Redução drástica da miséria

A prosperidade econômica dos dois países ao longo das últimas décadas foi responsável pela retirada de milhões de pessoas da pobreza.

No Brasil, houve queda de 50% na população vivendo na miséria durante os primeiros governos do presidente Lula (PT), de acordo com um estudo da FGV e dados do Banco Mundial. O IBGE aponta que quase 40 milhões de pessoas saíram dessa condição de 2008 a 2018.

A redução na pobreza na China foi mais drástica. Até 1981, quase toda a população do país, 91%, vivia com menos de US$ 2,15 por dia. Hoje, a miséria está virtualmente erradicada. De cada quatro pessoas que saíram da pobreza no mundo de 1990 a 2005, três eram chinesas, segundo dados da ONU.

Maior concentração de riqueza

O Brasil se mantém mais desigual que a China, apesar de a concentração ter aumentado no país asiático e caído no sul-americano.

Abertura econômica e privatizações implementadas por Pequim na década de 1990 levaram à alta do percentual de renda que está com os 10% mais ricos da população. O crescimento acelerado que ajudou a reduzir a pobreza teve como efeito também o aumento na desigualdade, com ganhos maiores nos setores que puxaram o desenvolvimento.

A máxima defendida pelo ex-líder Deng Xiaoping de "deixar alguns ficarem ricos antes" surtiu efeito e gerou reações. Ante a insatisfação de parte da população e no Partido Comunista, o atual líder, Xi Jinping, ressuscitou o lema da "prosperidade comum", defendido por Mao Tse-Tung nos anos 1950.

Envelhecimento populacional

Em 1974, quando os brasileiros eram pouco mais de 100 milhões, a população chinesa já estava em 900 milhões. Com a explosão demográfica e a pobreza da época, o regime comunista estabeleceu a política do filho único, que previa multas para famílias que tivessem mais de uma criança.

Polêmica, a medida perdurou por mais de três décadas. Especialistas argumentam que o desenvolvimento econômico da China por si só teria sido suficiente para frear o número de filhos por mulher, como acontece em todos os países que enriquecem —e como ocorreu no Brasil.

A regra foi afrouxada em 2016, com a permissão de dois filhos, e abolida em 2021. Atualmente, o regime comunista está apreensivo com envelhecimento da população do país, que chegou a 1,4 bilhão, e tenta estimular os jovens a terem filhos.

No Brasil, a população do Brasil saltou para 215 milhões em 50 anos.

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