Musas de outros Carnavais, Pinah, Monique Evans e Carla Perez veem espaço para novas divas

Ainda há espaço para mulheres se destacarem, mas perfil é diferente, dizem 3 gerações de divas

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São Paulo

Hoje tem quimono de paetê, purpurina biodegradável e gim tônica em lata. Ontem teve dança da cordinha, anteontem teve topless na Sapucaí e antes disso teve até príncipe inglês.

A verdade é que o Carnaval muda muito: hoje o que bomba é a festa na rua, mas o “must” já foi ver o desfile das escolas de samba ou frequentar bailes em salões.

A Folha conversou com três mulheres consideradas musas do Carnaval em diferentes épocas: Pinah, a partir dos anos 1970; Monique Evans, a partir dos anos 1980; e Carla Perez, a partir dos anos 1990. Elas dizem que a festa mudou, mas concordam: ainda há espaço para a musa do Carnaval.

Pinah é uma das mais tradicionais representantes desse grupo. A “Cinderela Negra”, epíteto que ganhou em samba-enredo da Beija-Flor, desfila pela escola de Nilópolis desde 1976. Em 1978, ganhou o noticiário internacional ao encantar o inglês príncipe Charles na avenida.

Pinah samba com o príncipe Charles em visita dele ao Rio de Janeiro em março de 1978 - Antonio Nery/Agência O Globo

“Mudou muito. Tenho saudades dos Carnavais de antigamente. A gente encontrava Paulinho da Viola, Clara Nunes, Alcione, Zeca Pagodinho. Hoje você não encontra mais ninguém sambando na avenida”, diz ela.

Para a veterana, ainda há espaço para as musas, mas de outro perfil. “Hoje muitas são artistas. Na minha época, você era da comunidade. Mas tudo muda, tem que acompanhar a evolução”, afirma.

Hoje em dia Pinah (nome artístico de Maria da Penha Ferreira Ayoub) desfila só na ala da diretoria, sem fantasia. “São 44 anos desfilando. Tem que dar oportunidade para pessoas novas também.”

Apesar de bater ponto há décadas no carnaval do Rio de Janeiro, Pinah vive em São Paulo, onde comanda o Palácio das Plumas, loja que fornece material para confecção de fantasias para o Brasil inteiro. 

Ela diz que adoraria curtir a folia na rua, “mas não dá tempo. Você não tem tempo nem de dormir”. Neste ano, além da Beija-Flor, Pinah vai desfilar também na escola Lins Imperial, que vai homenageá-la em seu samba-enredo.

Já Monique Evans anda desiludida. Neste ano, vai assistir à festa pela TV. “Tive vários convites para a avenida, mas fico mais confortável em casa”, diz ela, que estreou na Sapucaí em 1984 pela Mocidade Independente de Padre Miguel. 

Monique Evans desfila como rainha da bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel - Manoel Pires/Folhapress

O estrondo mesmo fez no ano seguinte, quando uma das estrelas que cobria seus mamilos quebrou e, num topless improvisado, ela desfilou com o seio pintado de glitter.

“Naquela época eu conseguia ir sozinha, sem segurança, levando minha fantasia. Você podia beber água, cerveja, se divertir. Era como se fosse um bloco. Não tem essa coisa de hoje de todo mundo ficar enfileiradinho, se não perde ponto, porque o importante é ganhar o Carnaval, ninguém brinca, você não pode falar com seus amigos. Não, o importante era curtir”, diz ela.
 

Monique, que cansou de fazer televisão porque paga pouco, nas palavras dela, recusa também os convites para camarotes. “Hoje o pessoal vai ao camarote e nem assiste o desfile, vai lá para tirar foto. É muito comercializado o negócio todo. Antigamente era povão, o pessoal juntava dinheiro para comprar um lugar melhor para assistir.”

Até existem musas hoje em dia, opina Monique, “mas para o que eles querem. Todas têm mais ou menos o mesmo corpo porque vão nas mesmas academias, fazem as mesmas plásticas. Na minha época era muito mais natural, como o meu corpo, como o da Luma de Oliveira. Não tinha esse pessoal bombado”, diz.

Já Carla Perez pensa diferente. Ela tem até dificuldade em responder quem é a musa do Carnaval deste ano. “Ai, meu Deus, são tantas mulheres lindas, muitas, muitas.”

Mas ainda surgem novas musas como ela, ícone do axé e do pagode baiano nos anos 1990, como a loira do Tchan?

Carla Perez em show do É O Tchan em 1996 - Kátia Lombardi/Folhapress

“Lógico que existe, agora ainda mais”, diz ela, ressaltando “a diversidade de mulheres fantásticas que estão aí tendo a sua oportunidade de mostrar o seu talento, a sua beleza, seu trabalho, tudo.”

“Eu acredito que mais até do que nos anos 1990, quando se escolhia apenas uma mulher e pronto. Agora, não, agora há possibilidade de aplaudirmos todas as mulheres lindas, exóticas, maravilhosas”, afirma ela.

A rainha da dança da cordinha comanda hoje o bloco infantil Algodão Doce, que sai em Salvador no sábado e no domingo de Carnaval. No restante da festa, acompanha seu marido, Xanddy, do Harmonia do Samba.

Quando acaba o Carnaval na Bahia, a loira vai para Orlando, no sul dos Estados Unidos, onde toca no CarnaBis, pós-Carnaval para a comunidade brasileira nos Estados Unidos. 

Ela divide a vida entre Salvador e Orlando, na Flórida, onde estudam os filhos. Promete também gravar um EP infantil neste ano. “Tem muito trabalho o ano todo. O ano é longo”, arremata.

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