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Tucanos na mira

Investigações envolvendo Geraldo Alckmin e Aécio Neves já tardam em demasia

O senador Aécio Neves e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, em evento promovido pelo PSDB, em Brasília, em novembro de 2016
O senador Aécio Neves e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, em evento promovido pelo PSDB, em Brasília, em novembro de 2016 - Pedro Ladeira - 25.nov.16/Folhapress

A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acirrou velhas queixas acerca de uma suposta parcialidade da Operação Lava Jato, ou da Justiça como um todo, que não investigaria e puniria com o mesmo ímpeto adversários do PT —em particular os tradicionais oponentes tucanos.

Tais acusações, claro, combinam muito de paixão militante e estratégia política. Elas são necessárias para sustentar a versão fantasiosa do golpe de que os petistas se dizem vítimas desde o impeachment de Dilma Rousseff.

Como já se recordou aqui, políticos das mais variadas tendências foram parar atrás das grades nos últimos tempos, alguns deles, como o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ) e o deputado Paulo Maluf (PP-SP), insuspeitos de afinidades com a agenda esquerdista.

Mas é fato que, por diferentes razões, expoentes do PSDB sob investigação têm escapado de condenações e prisões preventivas. Também por motivos diversos, a relativa tranquilidade do partido sofreu abalos recentes.

Destinada, de início, a apurar um gigantesco esquema de corrupção na Petrobras, a Lava Jato naturalmente demorou a atingir o tucanato, que fazia parte da oposição na época dos desvios detectados.

Somente depois de uma sequência de delações de grandes empresários, figuras importantes como Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra (os três últimos candidatos do partido à Presidência) se tornaram alvo de inquéritos.

Nesta etapa, pesou a favor dos tucanos o direito ao foro especial e a lentidão dos tribunais superiores.

O caso de Aécio é especialmente escandaloso. Gravado a pedir R$ 2 milhões a Joesley Batista, da JBS, o mineiro contou com a ajuda de seus pares no Senado para se livrar, em outubro, das medidas cautelares a ele impostas pelo Supremo Tribunal Federal.

É notícia boa e tardia, pois, que enfim tenha sido marcado, para o próximo dia 17, o julgamento do STF que pode torná-lo réu sob acusação de corrupção passiva.

Já Alckmin —que, segundo delatores, recebeu R$ 10 milhões por meio de caixa dois para campanhas em 2010 e 2014— perdeu o foro no Superior Tribunal de Justiça ao deixar o governo paulista para se lançar mais uma vez na corrida ao Palácio do Planalto.

Nesta quarta (11), a ministra Nancy Andrighi, do STJ, remeteu a investigação que envolve o tucano à Justiça Eleitoral de São Paulo. Na véspera, a seção paulista da Lava Jato havia manifestado a intenção de assumir o caso.

Convém cautela antes de avaliar a decisão da magistrada, dado que o processo corre sob sigilo. Ademais, nada impede, em tese, que informações sejam compartilhadas com a equipe de procuradores da operação —que já acusou de corrupção um ex-auxiliar das gestões tucanas, Paulo Vieira de Souza, preso há poucos dias.

Para condenar ou absolver, importa que as apurações caminhem de modo célere e rigoroso, a exemplo dos padrões estabelecidos em Curitiba, sem distinção partidária.

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