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João Paulo Becker Lotufo: Desafios do tabagismo para os professores e a família

O vício é doença grave, e seu controle é lição de casa para todos

Jovens fumam cigarro durante a tarde na praça do Pôr-do-Sol, em São Paulo
Jovens fumam cigarro durante a tarde na praça do Pôr-do-Sol, em São Paulo - Fabio Braga - 8.jul.16/Folhapress

O Brasil tem trilhado um caminho interessante no combate ao tabagismo. A população de fumantes no país caiu de 30% para 10% nos últimos 35 anos, segundo o Institute Health for Metrics and Evaluation. No ranking da entidade, o Brasil desponta como um dos países com percentual mais baixo de fumantes, semelhante ao de países como a Suécia e melhor inclusive que a média de fumantes nos Estados Unidos e Canadá. Além de ser destaque também com uma das maiores populações de ex-fumantes, são 40 milhões que pararam de fumar nos últimos 30 anos.

Nesse momento, no entanto, a sociedade deve se manter alerta e se preparar para novas batalhas contra o cigarro. Um levantamento da Universidade de São Paulo (USP) com 6.500 estudantes que vivem no entorno revelou que a abordagem do tema e o diálogo na família sobre drogas lícitas, incluindo também o álcool, podem reduzir ou adiar em 50% as chances de experimentação entre os jovens. Outro dado bastante elucidativo sobre a evolução do vício em cigarro é que a primeira experiência do adolescente geralmente acontece na faixa etária entre os 11 e 15 anos de idade.

Por isso, a batalha deve ser a da prevenção, pois quem começa a fumar antes dos 21 anos de idade, quando o cérebro ainda está em formação, terá um nível de dependência muito maior. Outra dado que reforça a urgência da prevenção é que o jovem não se preocupa com o vício. Em geral, ele só vai se sensibilizar para os riscos que o cigarro provoca à sua saúde e buscar algum tipo de terapia depois dos 40 anos. Esse é mais um motivo pelo qual a estratégia mais assertiva é prevenir o fumo.

Hoje, a Sociedade Brasileira de Pediatria está muito mobilizada e consciente quanto aos riscos da iniciação ao vício ainda na infância. A entidade faz um trabalho de conscientização porque o tabagismo é uma doença pediátrica séria, que precisa ser abordada durante as consultas com as famílias. 

Além do consultório, esse assunto deve estar presente também nas escolas. A criança é um veículo poderoso para campanhas de conscientização. Muitos pais se convencem a parar de fumar sensibilizados com o pedido de seus filhos, e estudantes que levam esse debate para a família estão menos propensos a fumar. Não se trata de fazer uma palestra por ano, mas de inserir o tema da prevenção às drogas lícitas e ilícitas no currículo escolar.

Nesta quinta-feira (31), Dia Mundial Sem Tabaco, o projeto Dr Bartô (www.drbarto.com.br), junto com o ambulatório antitabágico do Hospital Universitário da USP e uma equipe de pedagogos, lançará um material didático para ajudar os professores a explorar o tema nas aulas com os alunos do Ensino Fundamental 2 (6º ao 9º ano). São 64 aulas que tratam o tema da prevenção ao tabaco e álcool, em oito disciplinas dentro do currículo escolar.

A forma mais eficaz de a população se proteger contra o cigarro e suas novas versões, como cigarro eletrônico e vaporizadores, é por meio de campanhas de conscientização. Infelizmente, esse é um trabalho que tem sido abraçado exclusivamente pela sociedade. O trabalho de prevenção é negligenciado pelo governo, o que é lastimável, porque o combate ao fumo poderia reduzir significativamente os gastos com internações e tratamentos de pacientes portadores de doenças decorrentes do cigarro. O tabagismo é uma doença grave, e o seu controle é uma lição de casa para todos.

João Paulo Becker Lotufo

Doutor em pediatria pela Universidade de São Paulo e representante da Sociedade Brasileira de Pediatria nas ações de combate ao álcool, tabaco e drogas

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