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O fardo de Merkel

Política migratória provoca desgaste na liderança da poderosa chanceler da Alemanha

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 Angela Merkel durante sessão no Bundestag, em Berlim
Angela Merkel durante sessão no Bundestag, em Berlim - John Macdougall/AFP

Só governantes com a força de Angela Merkel poderiam se responsabilizar pela entrada de mais de 1 milhão de migrantes e refugiados vindos do Oriente Médio. Passados quase três anos, porém, o ônus político da medida chegou a tal ponto que mesmo a poderosa chanceler da Alemanha teve de ceder por sua sobrevivência política.

A ela não restou opção além de fazer um acordo com seu ministro do Interior, Horst Seehofer, para tentar conter o fluxo migratório. O responsável pela pasta ameaçava deixar o cargo se não fosse atendido, o que poria em risco a histórica coligação entre CDU (União Democrata Cristã), partido da mandatária, e CSU (União Social Cristã).

Desde a decisão de abrir as portas naquele momento a quem escapava de guerras, Merkel vinha desagradando a esses aliados, cuja base é o importante estado sulista da Baviera, que faz fronteira com a Áustria —por onde entra a maioria dos que buscam refúgio em território alemão.

A pressão sobre a líder se intensificou após as eleições de setembro passado. Ela obteve o quarto mandato, mas viu a ascensão da legenda anti-imigração AfD.

Sem conseguir maioria no Parlamento, a bancada da CDU/CSU se uniu aos sociais-democratas, em um processo que durou meses até a formação do governo.

Se a coalizão perdesse as cadeiras da CSU, uma nova negociação partidária seria imposta —e um eventual insucesso forçaria a convocação de outro pleito, o que poderia ampliar a participação da AfD no Legislativo ou até mesmo resultar na saída da chanceler.

Pelo pacto acertado com Seehofer, postulantes a asilo na Alemanha terão de permanecer em abrigos; antes, podiam circular livremente. Se a solicitação for recusada, os requerentes deverão ser devolvidos à nação pela qual ingressaram na União Europeia.

Decerto, não se deve desprezar a capacidade de liderança de quem está há quase 13 anos no comando da maior economia da Europa. Entretanto há sinais claros de desgaste, decorrente em grande medida da política migratória.

A inflexão da chanceler consolida um movimento regional de restringir acessos —nesta quinta (5), aliás, o Parlamento europeu deve impor a necessidade de autorização para a entrada na UE, a partir de 2021, de turistas do Brasil e de outros locais que não precisam de visto para circular no Espaço Schengen (formado por 26 países).

Em relação ao problema migratório atual, cabe aos principais líderes do bloco cumprir a promessa de ajudar nações que servem de porta de entrada aos migrantes, em especial a Itália e a Grécia.

editoriais@grupofolha.com.br

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