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Jairo Pimentel Jr

A propaganda na TV ainda será determinante para esta eleição presidencial? SIM

A campanha na primeira tela

Propaganda eleitoral do candidato à Presidência Geraldo Alckmin
Propaganda eleitoral do candidato à Presidência Geraldo Alckmin - Reprodução

A emergência da internet e das redes sociais tem colocado em xeque nos últimos tempos o poderio da TV para determinar os resultados eleitorais.

Entretanto, e apesar do crescimento dessas fontes alternativas, a TV ainda é "primeira tela" no que concerne às eleições e, provavelmente, ainda exercerá sua influência no pleito deste ano.

Algumas estatísticas oferecem base para tal afirmação: em pesquisa recente do Ibope, 62% dos pesquisados disseram utilizar a televisão para se informar sobre os candidatos, enquanto 48% utilizam a internet --sendo que apenas 5% se informam exclusivamente pela internet, enquanto 20% exclusivamente pela TV.

Com base nisso, é de se esperar que a TV terá papel fundamental para as estratégias dos dois candidatos com maior tempo de propaganda eleitoral. Dessa forma, ela pode ser relevante para Alckmin se contrapor à candidatura de Bolsonaro no espectro anti-lulista —e isso o alçá-lo ao segundo turno.

Em segundo lugar, ela será fundamental para facilitar a estratégia de transferência de votos de Lula para Haddad.

Dessas duas estratégias, a primeira delas é a mais complexa. Alckmin adentra o cenário com o maior tempo de TV, mas com uma baixa intenção de voto.

Para virar o jogo, precisa se contrapor a um candidato que conseguiu navegar bem na onda antipolítica dos últimos anos a partir das redes sociais.

Não há dúvida de que Alckmin pode crescer, mas não se sabe se suficientemente para suplantar Bolsonaro. Para isso teria que atacá-lo, como vinha fazendo de maneira bem-sucedida, como sugerem os dados sobre a rejeição de Bolsonaro.

Porém, tais ataques agora correm o risco de sofrerem um "efeito bumerangue" e se voltarem contra Alckmin, dados o atentado sofrido por Bolsonaro na última quinta-feira (6) e o seu frágil estado clínico decorrente disso.

Não obstante, pode ser uma estratégia necessária, mesmo diante de tal risco, em razão da resiliência do eleitorado bolsonarista e do possível "efeito tragédia" a anabolizar o candidato do PSL.

Por outro lado, a tarefa da campanha petista é relativamente mais simples: com um amplo eleitorado lulista à disposição (cerca de 39%) e com 24% de preferência partidária para o PT, basta a Lula aparecer endossando Haddad para ele começar a subir nas pesquisas.

Mesmo que absorva metade dos votos de Lula, isso será suficiente para levá-lo ao segundo turno em um cenário tão fragmentado.

Além disso, pesquisas indicam que o eleitorado lulista tem menos acesso às redes sociais e à internet, informando-se mais exclusivamente pela TV, o que confere peso especial a essa mídia para a estratégia.

Assim, o potencial do uso de TV para alavancar Haddad para o segundo turno é enorme. Se Alckmin também conseguir suplantar Bolsonaro, não restará dúvida quanto à relevância da TV.

Ademais, se antes Bolsonaro não dispunha de tempo de TV, agora será o nome mais discutido nos próximos dias no noticiário televisivo, podendo atingir também os eleitores que estão fora das redes sociais.

Destarte, "ceteris paribus", a TV ainda será fundamental para a definição dos resultados eleitorais para o pleito presidencial deste ano e, a princípio, parece tender a ser mais para a candidatura petista do que para a tucana. 

Entretanto nunca é demais dizer que o imponderável sempre ronda nossa eleição presidencial, como lamentavelmente vimos na última quinta-feira.

Jairo Pimentel Jr.

Pesquisador do Cepesp (FGV), doutor em ciência política (USP) e autor do livro "Quem Bate Perde? Os Efeitos Afetivos dos Spots de TV"

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