Descrição de chapéu

As secas do Brasil

Faltam planos (e, agora, verbas) para gestão racional dos recursos hídricos

Luiz Fernando, 4, carrega baldes de água que serão usados durante a semana, em Poção (PE)
Luiz Fernando, 4, carrega baldes de água que serão usados durante a semana, em Poção (PE) - Danilo Verpa/Folhapress

Diante da catástrofe orçamentária que se abate sobre o país e da tragédia do desemprego, não estranha que pouco se debatam o impacto e as possíveis políticas de mitigação dos efeitos da falta de chuva no Nordeste, no Sudeste, no Centro-Oeste —e até na Amazônia. O que planejam os candidatos a presidente para enfrentar o problema?

A seca que assolou o semiárido nordestino por longos seis anos amenizou-se, é verdade. Ainda permanecem, contudo, imensos polígonos com estiagens classificadas como moderadas ou severas, algumas há mais de seis meses.

O sertão do Maranhão, do Piauí e do Ceará figura entre as áreas mais afetadas, assim como manchas do agreste —a faixa vizinha da úmida zona da mata litorânea— em Pernambuco, Alagoas e Sergipe.

O estresse hídrico abarca 540 mil km², equivalentes a 44% da região Nordeste. No Centro-Oeste a escassez atinge 260 mil km² (17%).

Por sorte não se observaram até aqui condições para a reedição do El Niño, evento climático que costuma turbinar secas nordestinas. Subsistem, porém, 60% de chance de que ele volte neste semestre.

De toda maneira, os efeitos desses fenômenos disseminados se evidenciam de modo mais claro no campo, como vêm mostrando reportagens desta Folha.

Há cidades no noroeste paulista que amargaram 120 dias quase sem chuvas. Como resultado, a próxima safra de cana pode ser 7% menor, com perda de 40 milhões de toneladas e prováveis reflexos no preço do etanol já em outubro.

No norte de Minas Gerais, 70% dos rios e córregos estão com vazão comprometida, segundo a Emater estadual. Caiu 25% a quantidade de cabeças de gado, e a produção leiteira sofreu redução de 62%. A quebra na colheita de grãos da área foi pior, chegando a 85%.

No agreste pernambucano, 65 municípios se encontram em estado de emergência, praticamente sem chuvas pelos últimos quatro anos. E a água da transposição do São Francisco ainda não passa de uma promessa, com a paralisação de obras de ligação de seus canais com as adutoras que abastecem a população do estado.

Não faltam casos para ilustrar o drama da estiagem para milhões de brasileiros. Faltam planos (e, agora, verbas) para gestão racional dos recursos hídricos, pois não é impossível obter um grau de segurança mesmo onde são escassos.

Mais preocupante se mostra a possibilidade de que essas secas se tornem mais frequentes, ou mesmo crônicas, com a prognosticada mudança do clima. Há que preparar o país também para isso.

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