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Viés de baixa

Novos números do PIB não trazem alento; avanço mais vigoroso dependerá do desfecho nas urnas

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Na ótica da produção, a indústria teve recuo de 0,6% no período de abril a junho, se comparado com os primeiros meses do ano
Na ótica da produção, a indústria teve recuo de 0,6% no período de abril a junho, se comparado com os primeiros meses do ano - Diego Padgurschi - 25.abr.18/Folhapress

Apesar da paralisação dos caminhoneiros, que derrubou a produção e o consumo em maio, a economia brasileira mostrou algum crescimento no segundo trimestre.

A boa notícia é que foram desmentidos os prognósticos mais sombrios de uma recaída recessiva. Por outro lado, o parco avanço —apenas 0,2% entre abril e junho, na comparação com os três meses anteriores— confirma que o país ainda não superou os obstáculos a uma retomada mais vigorosa. 

A frustração já começara com os dados do primeiro trimestre. Esvaiu-se rapidamente o otimismo do início do ano, quando a maioria dos analistas acreditava que a alta do Produto Interno Bruto poderia se aproximar dos 3%. 

O movimento paredista de maio basicamente acentuou o mal-estar, e hoje as projeções para o resultado de 2018 rondam 1,5%.

O viés de baixa permanece após a divulgação dos resultados do segundo trimestre, que mostraram estagnação do consumo e uma nova retração, de 1,8%, nos investimentos, interrompendo uma trajetória de alta de quatro trimestres.

Não se trata apenas do efeito da paralisação, portanto. Crédito escasso e caro, excesso de endividamento de famílias e empresas, incertezas das mais variadas, domésticas e internacionais, se combinam e limitam as chances de recuperação a curto prazo. 

Com a proximidade das eleições, aliás, a tendência é que a letargia perdure ao menos até o fim do terceiro trimestre. Nas últimas semanas, juros e dólar voltaram a disparar no mercado, com o temor de que a polarização política prevaleça e resulte na vitória de plataformas econômicas pouco confiáveis. 

O ambiente internacional se tornou mais inóspito. O custo do dinheiro em moeda forte ficou mais elevado em razão da força da economia americana. Países com alto endividamento externo, como Argentina e Turquia, têm sido alvo de fuga de capitais. 

Embora a situação brasileira seja muito melhor nesse quesito, observa-se certa contaminação do real, acentuada pelo estado trágico das finanças públicas. Nada disso facilita a retomada da confiança de empresários e consumidores.

Há o lado positivo, porém. O país ainda se encontra no fundo do poço, com elevada capacidade ociosa e ausência de pressão inflacionária. Uma recuperação cíclica robusta se afigura plausível caso a perspectiva de reformas se consolide após as eleições. 

A indicação de que não haverá descontrole no caixa do Tesouro Nacional pode derrubar os juros de longo prazo e destravar investimentos. Sem aceleração do crescimento, dificilmente o próximo governo dará conta dos enormes desafios nacionais —porém é ilusório imaginar mais uma vez que ela virá à base de mero voluntarismo.

editoriais@grupofolha.com.br

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