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Custo Erdogan

Turquia vive sob turbulência em razão do governo de seu líder autocrático

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O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, durante entrevista à imprensa em Ancara
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, durante entrevista à imprensa em Ancara - Burhan Ozbilici/Associated Press

Outrora vista como exemplo de democracia islâmica, a Turquia há algum tempo vive sob turbulência em razão do governo autoritário de Recep Tayyip Erdogan, que comanda de fato o país desde 2003. A recente derrocada da moeda local, que afeta outros emergentes, fez evidenciar os riscos à economia causados por esse modelo.

Desde o início do ano, a lira turca já perdeu mais de 40% de seu valor em relação ao dólar. Tamanha depreciação se deve, em larga medida, à pressão exercida pelo mandatário sobre a política monetária.
Erdogan tem repetidamente cobrado a diminuição dos juros —“mãe e pai de todo o mal”, segundo ele—, mesmo ante uma inflação que passou de 15% em 12 meses, o maior índice em 14 anos.

O temor quanto a uma ingerência indevida aumentou depois de o presidente ter nomeado o genro para ministro das Finanças, em julho. Na primeira reunião após esse anúncio, o banco central turco decidiu manter a taxa básica em 17,75%, contrariando a expectativa do mercado por nova elevação para conter a alta de preços.

Os níveis expressivos de crescimento econômico (7,4% em 2017) vêm se baseando em consumo, movido a crédito barato, e o governo não se mostra disposto a elevar o custo dos empréstimos.

Em vez de buscar soluções para a crise doméstica, Erdogan atribui o derretimento da lira a uma “guerra econômica” promovida pelos EUA —discurso idêntico ao do ditador Nicolás Mauro para justificar o descalabro venezuelano.

É verdade que a moeda sofreu ataque especulativo após Donald Trump anunciar aumento de tarifas de importação sobre aço e alumínio, mas as fragilidades do país datam de mais tempo.

A medida tomada por Trump decorre de um conflito diplomático cujo pivô é o pastor evangélico americano Andrew Brunson. A Justiça turca o acusa de terrorismo e lhe negou nesta quarta-feira (15), pela segunda vez, um pedido para deixar a prisão domiciliar. 

Brunson foi detido em 2016, sob a alegação de colaborar com o clérigo Fethullah Gülen, exilado há quase 20 anos nos EUA e apontado por Erdogan como o mentor da tentativa frustrada de golpe em julho daquele ano. Seguiu-se um expurgo sem precedentes de militares e funcionários públicos que teriam dado apoio ao movimento.

O desarranjo econômico em curso na Turquia apenas reflete um cenário mais amplo de instabilidade e de ameaça às instituições, fruto de uma crescente e preocupante concentração de poder em torno de um líder autocrático.

​editoriais@grupofolha.com.br

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