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Mentira que prolifera

Empresas gastam para disseminar mensagens contra o PT, revela a Folha

Empresas compram pacotes de disparos de mensagens no WhatsApp contra o PT
Empresas compram pacotes de disparos de mensagens no WhatsApp contra o PT - Thomas White/Reuters

Dois terços dos votantes brasileiros possuem conta no WhatsApp, a rede social mais popular do país. Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha em 2 de outubro, 44% dos entrevistados declararam ler notícias sobre política e eleições por esse meio, e 24%, compartilhá-las.

Os números bastam para constatar o peso adquirido pela rede na formação da opinião nacional —e, sem dúvida, nos rumos do pleito em curso. Ainda está por ser dimensionado, porém, o impacto do fluxo de informações enganosas, quando não inteiramente falsas, e mensagens difamatórias que chegam a todo momento aos usuários.

Antecipava-se, ademais, que a campanha deste ano constituiria um marco de importância global quanto às possibilidades de combate à disseminação de fake news. Até aqui, falhamos no teste, como qualquer frequentador de ambientes virtuais poderá observar.

Reportagem de Patrícia Campos Mello, desta Folha, mostra evidências aterradoras de como o que originalmente seria um aplicativo de conversas privadas se tornou uma arma do jogo eleitoral mais sujo.

Revelou-se que empresas estão a comprar pacotes de disparo em massa de mensagens no WhatsApp contra o PT e seu presidenciável, Fernando Haddad. Segundo a apuração, cada contrato chega a R$ 12 milhões, o suficiente para propagar centenas de milhões de textos, áudios, fotos, vídeos e memes.

Trata-se de prática ilegal, dado que há um beneficiário óbvio —o adversário de Haddad e favorito na disputa pelo Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro (PSL). Assim, a iniciativa corresponde a uma doação empresarial a um candidato, o que está vedado desde 2015.

Bolsonaro declarou não ter controle sobre a ação de apoiadores, indicando desconhecer o caso. Aventou, inclusive, a hipótese de adversários estarem por trás da compra dos pacotes de mensagens com o intuito de prejudicá-lo.

Para a configuração de abuso de poder econômico não é necessária, apontam especialistas, a participação do candidato —basta que a Justiça Eleitoral considere comprometido o equilíbrio da disputa.
Apuração imediata e rigorosa, pois, se faz imprescindível. Os instrumentos à disposição permitem que se rastreiem as operações e a origem do dinheiro empregado.

Entretanto existe mais a fazer para que, sem limitar a sagrada liberdade de expressão, os autores de mensagens veiculadas em redes sociais possam ser identificados e, a depender da forma e do conteúdo, responsabilizados e punidos.

As autoridades brasileiras podem e devem bater-se pelo fim de um anonimato que premia a desinformação e convida à trapaça. Essa seria providência mais útil que a infinidade de regras minuciosas e paternalistas com que a legislação pretende proteger o eleitor.

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