Descrição de chapéu
Tendências Debates

Tolerância religiosa, caminho da paz

Assusta o crescente preconceito de credo em SP

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O secretário da Justiça e Cidadania do estado de São Paulo, Paulo Dimas Mascaretti - Ze Carlos Barretta - 8.mar.19/Folhapress

Recente reportagem desta Folha revelou preocupante realidade: os registros de intolerância no estado de São Paulo praticamente dobraram em 2108 em relação ao ano anterior. O levantamento mostra que mais da metade dessas ocorrências deveu-se à intolerância religiosa (55%). Mais que preconceito racial (21%) e homofobia ou transfobia (16%).

Esses números são reforçados pela pesquisa Datafolha realizada em dezembro de 2018. Entre os brasileiros que responderam já ter sofrido algum preconceito, a religião foi apontada como a terceira maior causa, atrás somente da classe social e do local de moradia. Superou a discriminação por gênero, por raça ou cor e por orientação sexual.

São números estarrecedores e inaceitáveis. E surpreendentes, em se tratando de um país com tradição de acolhimento de imigrantes.
 
Face até agora menos visível do preconceito, a intolerância religiosa é tão grave quanto qualquer outra forma de discriminação porque fere o princípio da dignidade humana.

Trata-se de um bem protegido pela Constituição, que garante a inviolabilidade da liberdade de crença e assegura o livre exercício e os locais dos cultos religiosos, bem como suas liturgias.

Lamentavelmente, porém, é crescente o desrespeito a esse direito no Brasil, não raro de forma violenta. A pesquisa Datafolha aponta que as vítimas de preconceito religioso somaram 15% dos casos em 2007, subindo para 26% em 2018.

A questão é séria; exige reflexão e ações. Cada vez que um terreno de umbanda é invadido, que um evangélico é hostilizado, que uma imagem católica é destruída, que um muçulmano é ridicularizado, todas as religiões —e não somente aquela— estão sendo vítimas de preconceito.

O estado de São Paulo foi pioneiro ao instituir, no âmbito da Secretaria da Justiça e Cidadania, o Fórum Inter-religioso para um Cultura de Paz e Liberdade de Crença, que atua firmemente para a implementação de políticas de enfrentamento e combate à intolerância religiosa e para a difusão da cultura de paz.
Esse fórum tem 101 membros, reunindo representantes de 22 segmentos religiosos, além de ateus e agnósticos, e indicados pelo poder público e sociedade civil, numa convivência absolutamente harmoniosa e produtiva.

Sensível ao quadro já relatado, o Fórum Inter-religioso lança neste dia 27 de março a campanha “Respeitar o próximo é cultivar a paz!”, para fomentar a tolerância religiosa, conscientizar que esse tipo de intolerância é crime, e estimular denúncias.

Vale lembrar as palavras do dalai-lama, em entrevista ao programa Fantástico: “(...) Todas as religiões falam da mesma mensagem, apesar das filosofias diferentes. Precisamos promover maior harmonia religiosa. O mundo precisa de religiões diferentes, porque uma religião não é suficiente para satisfazer essa variedade imensa de povos. Precisamos de variedade de religiões para uma variedade de povos. Porque o objetivo final é o mesmo: amor, compaixão, perdão, tolerância e assim por diante”.

Desse modo, a Secretaria da Justiça de São Paulo cumpre seu papel ao fomentar o respeito, princípio básico da tolerância, contribuindo para que todos possam professar a sua fé com liberdade. É um passo importante na construção da cultura da paz.

Paulo Dimas Mascaretti

Secretário estadual da Justiça e Cidadania de São Paulo e ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo (2016-17)

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.