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Silvio Médici

O prazer de guiar é chegar vivo

Desligamento de radares só trará mais insegurança

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Radar móvel de velocidade em avenida de São Carlos (SP) - Silva Junior - 16.fev.11/Folhapress
Silvio Médici

Brasileiro adora carro, é verdade. E, mais verdade ainda, boa parte do que compramos, vendemos e consumimos depende do caminhão, principal meio de transporte de mercadorias do país. No total, são 90 milhões de veículos a motor circulando pelo Brasil; destes, 2,7 milhões transportam carga. 

É importante, acima de tudo, oferecer o máximo de segurança a todos que garantem o funcionamento de nossa economia, que passeiam, que viajam, que rodam pelas estradas e ruas do país. Nós os queremos sãos e salvos, gozando de boa saúde, cuidando de suas famílias.

Mas hoje o quadro brasileiro é trágico: todos os anos morrem mais de 40 mil pessoas em acidentes de trânsito. Outras 300 mil ficam machucadas: algumas mutiladas, incapacitadas, alterando dramaticamente a vida das famílias, gerando altos custos para a saúde pública. 

Isso nos coloca na vergonhosa quarta posição mundial em número de mortos no trânsito, atrás apenas de China, Índia e Nigéria, e no quinto lugar no número de acidentes por habitante, logo após Venezuela, Nigéria, África do Sul e Angola.

Os acidentes de trânsito geram uma sequência de efeitos que não se esgotam nas mortes, no socorro às vítimas e nos danos aos veículos. Recaem, primeiramente, no atendimento do SUS, gerando despesas hospitalares da ordem de R$ 50 bilhões por ano. Soma-se a isso outros R$ 220 bilhões, equivalentes a 4% do PIB nacional, custo que a Escola Nacional de Seguros calcula que enfrentamos anualmente com mortes e incapacitações, entre tantos outros danos que advêm de um acidente.

Prazer de dirigir? O maior prazer de dirigir é chegar vivo.

O Brasil levou décadas para obter resultados que já são visíveis (redução de até 83% no número de acidentes nos pontos fiscalizados), aperfeiçoando sua legislação, desenvolvendo tecnologia, formas e meios de controle de velocidade e consequente punição dos irresponsáveis.

Uso de tecnologia na gestão de trânsito, como monitoramento eletrônico, traz eficiência e segurança. E se integra aos sistemas de segurança pública, auxiliando cada vez mais o combate ao crime, pelo registro seguro de imagens.

Esse desmonte que se pretende no sistema de gestão do trânsito brasileiro, com a mudança no período da validade da carteira de habilitação, o desligamento dos radares e a eliminação dos simuladores somente contribuirá para insegurança e agravamento do quadro. Pior: beneficiará os infratores, os irresponsáveis, os que, além de se matar, matam.

No Brasil, e é preciso que todos compreendam, não existe indústria da multa, como se quer fazer crer. Isso é lenda. As empresas instalam os equipamentos nos lugares apontados pelas autoridades. Entregam apenas a lista de infratores, que pelas autoridades serão punidos. 

A multa pesa no bolso —só assim poderemos nos proteger dos infratores. O que existe é uma indústria da infração —gente que se sente feliz quando ultrapassa os limites de segurança, sem levar em conta bens, saúde e vida de outros cidadãos. É preciso combatê-los com toda a precisão do monitoramento eletrônico e com todo o rigor da lei.

Silvio Médici

Engenheiro e presidente da Associação Brasileira das Empresas de Engenharia de Trânsito (Abeetrans)

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