Descrição de chapéu

Contas do ensino

Acúmulo de verbas carimbadas desincentiva a eficiência dos gestores

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Aluno em escola da rede pública do estado na Vila Mariana, zona sul da capital paulista
Aluno em escola da rede pública do estado na Vila Mariana, zona sul da capital paulista - Zanone Fraissat - 30.ago.18/Folhapress

Ainda que relevante do ponto de vista legal, a controvérsia em torno dos gastos paulistas com educação carece de foco no que diz respeito aos objetivos da política pública.

Como todos os estados brasileiros, São Paulo está obrigado a destinar um mínimo de 25% da receita ao ensino, conforme os termos da Constituição Federal. A Carta estadual, por sua vez, determina 30%.

O percentual maior, entretanto, só tem sido atingido por meio da inclusão de despesas com o pagamento de aposentadorias de servidores —o que suscita recorrentes objeções do Tribunal de Contas.

Trata-se, sem dúvida, de um drible nos propósitos da legislação.

Os dispêndios com inativos, afinal, em nada contribuem diretamente para a melhora dos resultados educacionais —e, por essa lógica, não são aceitos para o cumprimento da exigência nacional. A lei local que autorizava o artifício se encontra suspensa por decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo.

Em razão da pendenga, o Ministério Público de Contas recomendou a rejeição das contas de 2018 do governo paulista, dividido no período entre Geraldo Alckmin (PSDB) e Márcio França (PSB). O TCE as aprovou nesta quarta-feira (26), mas com ressalvas.

Acrescente-se que o desempenho do ensino público no estado tem sido frustrante nos últimos anos. Unidades federativas bem mais pobres, como Ceará, Pernambuco e Goiás, obtiveram avanços maiores e notas semelhantes ou melhores em avaliações recentes dos níveis fundamental e médio.

Tudo considerado, cumpre observar, no entanto, que tais deficiências nem de longe parecem associadas à falta de recursos. Conforme estudo do Tesouro Nacional, o gasto por aluno em São Paulo, próximo de R$ 7.000 em 2017, só perdia para o do Distrito Federal —o desembolso cearense, por exemplo, não chegava aos R$ 3.600.

Há que resolver, por óbvio, o impasse em torno da legislação. Idealmente, o país como um todo deveria repensar a estratégia de impor percentuais imutáveis da receita na definição da despesa em educação e outros setores.

O acúmulo de verbas carimbadas desincentiva a eficiência dos gestores e dificulta o manejo do Orçamento, ainda mais com o inexorável aumento dos encargos com aposentadorias dos servidores.

Os governos de todos os níveis fariam melhor se estabelecessem metas plurianuais para a melhoria do ensino e um planejamento para alcançá-las. Gastar dinheiro não pode ser um fim em si mesmo.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.