Descrição de chapéu

A queda do falcão

Sai assessor de Trump linha-dura na política externa e próximo a Bolsonaro

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O ex-assessor de segurança nacional da Casa Branca John Bolton - Joshua Roberts - 2.abr.19/Reuters

Entre os muitos defeitos de Donald Trump não está o de gostar de guerras —pelo menos não daquelas que envolvem soldados. Ele prefere os conflitos em que as armas são tarifas comerciais.

Já o agora ex-conselheiro de segurança nacional da Casa Branca John Bolton pode ser descrito como um falcão renitente, que vê em bombardeios e no unilateralismo a resposta para os problemas diplomáticos dos Estados Unidos.

A diferença de visões de mundo é a razão de fundo da demissão de Bolton, o terceiro a ocupar o posto de conselheiro desde que Trump assumiu a Presidência.

As questões específicas que levaram ao rompimento, porém, ainda permanecem obscuras —não se sabe nem se foi o presidente a mandar o assessor embora ou o especialista a pedir para sair, já que cada um deles sustenta uma versão diferente do episódio.

Mais surpreendente até do que a demissão foi o convite de Trump a Bolton para que assumisse o cargo, 17 meses atrás. O único ponto em que ambos estavam de acordo era a oposição ao tratado nuclear com o Irã. Em outros temas relevantes, eram como água e vinho.

Discordavam sobre Rússia, Otan, Coreia do Norte e, mais recentemente, Afeganistão. Mesmo a convergência em relação ao Irã passou por solavancos, pois Trump, em um de seus impulsos narcísicos, flertou com a possibilidade de fazer história reunindo-se com o presidente do país persa.

No que diz respeito à Venezuela, eles talvez não pensassem de forma muito diferente. Queriam ver o ditador Nicolás Maduro fora do poder, mesmo que por meio de algum tipo de intervenção externa.
 

Bolton, porém, deu a Trump conselhos que se mostraram equivocados sobre a possibilidade de depor Maduro apoiando a oposição, o que contribuiu para desgastar a relação entre os dois.

A demissão de Bolton afeta, ainda que de modo limitado, o clã Bolsonaro, pois o ex-conselheiro era próximo da família do presidente. Trump, por óbvio, não vai se distanciar do congênere brasileiro por isso, mas talvez ouça menos referências positivas a ele nas reuniões com seu próximo conselheiro.

De todo modo, o republicano já deixou claro que não dá grande importância ao julgamento de especialistas. Segue seu estilo caótico, movido mais por cálculos pessoais do que por considerações de interesse público. Nisso, ele e Jair Bolsonaro se assemelham bastante.

editoriais@grupofolha.com.br

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