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Selvageria no Ceará

Estado deve combater mortes de meninas por grupos criminosos

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Foto de menina que foi torturada e morta por facção criminosa em Fortaleza - Adriano Vizoni/Folhapress
 

O cotidiano dos jovens nas periferias brasileiras com frequência é marcado pela pobreza acrescida de violência e barbárie inimagináveis, para além das deficiências de educação, saúde e transporte que também marcam suas vidas.

As jovens de bairros pobres do Ceará têm sido vítimas nos últimos anos de assassinatos cruéis —por vezes precedidos de tortura— nas mãos de membros de facções que atuam no estado, como mostrou reportagem da Folha.

O fenômeno tomou tal proporção que influencia as estatísticas: em Fortaleza, as mortes de meninas de 10 a 19 anos subiram 90% entre 2017 e 2018, enquanto entre os garotos de mesma idade o total de óbitos caiu 35%.

Os homicídios como um todo caíram no Ceará em 2018, tendência que se manteve em 2019, de acordo com estatísticas parciais. Mesmo assim, o estado é um dos mais violentos do país: teve 52,8 mortes violentas por 100 mil habitantes em 2018, a quinta maior taxa do país e bem acima da média nacional, que foi de 27,5 mortes por 100 mil habitantes naquele ano.

A violência no estado é explicada por fatores como o crescimento e a disputa entre facções —que geraram uma crise na segurança no início do ano passado, com ataques a equipamentos públicos que necessitaram a intervenção da Força Nacional— e o fato de o Ceará ser ponto de passagem de drogas distribuídas nas regiões Norte e Nordeste, por ter boa rede de estradas.

O estado também fica abaixo da média na eficiência dos gastos com segurança. Segundo o REE-F (Ranking de Eficiência dos Estados - Folha), sua nota nesse quesito é 0,380, bem aquém do 0,616 da média nacional —o que significa pouco resultado para o dinheiro gasto em ações de combate à violência.

As mortes das adolescentes cearenses são frequentemente “decretadas” por redes sociais, em grupos em que suas fotos são divulgadas com instruções codificadas para que sejam capturadas e mortas.

Por vezes, são expostas também fotos de seus corpos após os assassinatos, em uma clara mensagem das facções de que o terror por elas impunemente imposto à população não conhece limites.

A linguagem usada nessas postagens deixa claro que as garotas não são só vítimas colaterais das disputas entre agremiações criminosas. Sobram comentários misóginos, deixando transparecer que as facções também se arvoram a policiar o comportamento das meninas.

O governo de Camilo Santana (PT) não pode se contentar apenas com a queda nos índices gerais de homicídios, devendo com urgência tomar medidas específicas contra a selvageria a que essas jovens, já tão vulneráveis, estão sendo submetidas.

editoriais@grupofolha.com.br

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