Descrição de chapéu

Hesitação perigosa

Bolsonaro semeia insegurança ao indicar simpatias por pleitos de PMs amotinados

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Membros da Força Nacional de Segurança Pública patrulham as ruas de Fortaleza - Lucas Moura/Reuters

O governo Jair Bolsonaro flerta com a crise ao atuar de modo hesitante —para usar um termo benigno— no caso dos policiais militares amotinados no Ceará.

No sábado (29), o ministro Sergio Moro da Justiça, disse o óbvio: o movimento é ilegal, dado que a Constituição veda expressamente a greve de militares. Ainda assim o fez cheio de dedos e ressalvas. “Claro que o policial tem de ser valorizado, claro que o policial não pode ser tratado de maneira nenhuma como um criminoso.”

Com boa vontade, a declaração pode ser interpretada como esforço conciliatório. Outros sinais oriundos de Brasília, entretanto, indicam afinidades corporativistas com os rebelados.

Na quinta-feira (27), Bolsonaro sugeriu que poderia não prorrogar a operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) por meio da qual as Forças Armadas e a Força Nacional de Segurança Pública estavam mobilizadas no Ceará desde o dia 21. “GLO não é para ficar atendendo eternamente a um ou mais governadores”, pontificou.

Adicionalmente, o presidente cobrou do Congresso a aprovação de projeto que abranda penas para agentes que matem em casos tidos como legítima defesa.

A sinalização de complacência do Palácio do Planalto despertou, felizmente, pronta reação de outras forças políticas e institucionais. Governadores e os presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal discutiram, já no dia seguinte, alternativas de ação.

Rio de Janeiro, Bahia, Piauí e Maranhão acenaram com a possibilidade de auxiliar o Ceará com suas forças de segurança. Cogitou-se ainda a hipótese de obter a prorrogação da operação federal no STF. Diante da pressão, Bolsonaro capitulou e manteve a GLO.

O governador cearense, Camilo Santana (PT), que antes do motim já havia proposto expressivo reajuste salarial à PM, tem pela frente uma negociação espinhosa. O movimento quer aumento do salário inicial dos soldados de R$ 3.475 para R$ 4.932 mensais; o estado oferece R$ 4.500 em altas parceladas.

A categoria demanda ainda anistia para os que participaram do movimento ilegal —como tem sido a praxe irresponsável no país em mais de duas décadas.

As trágicas consequências da baderna armada não se limitam ao grotesco episódio em que o senador Cid Gomes (PDT-CE) foi baleado ao investir com uma retroescavadeira contra os amotinados. O número de homicídios disparou no estado, até onde se pôde contar —os dados deixaram de ser informados diariamente.

Não é só problema de um governador (e desafeto político), à diferença do que diz Bolsonaro. Um precedente perigoso pode ser criado, enquanto policiais manifestam insatisfações em outros estados.

Se optar por omissão ou conivência, o mesmo governo que reivindica os créditos pela redução das taxas nacionais de criminalidade semeará insegurança pública.

editoriais@grupofolha.com.br

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