Descrição de chapéu

Polícia letal

Só descontrole e impunidade explicam mais mortes por ação do Estado na pandemia

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João Pedro Matos Pinto, 14, morto durante operação da Polícia Federal em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio - Twitter

Se ainda pairava dúvida sobre o caráter endêmico da violência policial no Brasil, não deveria pairar mais. Em meio à pandemia, São Paulo e Rio de Janeiro quebram recordes históricos de mortes por policiais.

Já elevada para qualquer parâmetro que não seja o da barbárie, a maior letalidade policial no início deste ano verificada nos dois estados contrasta, ainda mais, com a queda de outros crimes.

Entre janeiro e março deste ano, a Polícia Militar paulista matou 255 pessoas em supostas situações de confronto, um aumento de 23% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública.

Tendência similar, embora mais letal, se vê no Rio. Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) registraram um aumento de 43% nas mortes por policiais fluminenses no mês de abril, com 177 vítimas.

Cumpre lembrar que são elevações em índices já, há muito tempo, inaceitáveis. A título de comparação, 1.011 pessoas foram mortas pela polícia dos Estados Unidos no ano passado, segundo levantamento do jornal Washington Post.

Guardadas as devidas proporções, apenas no Rio o número de mortos do mesmo modo em 2019 foi de 1.810, recorde desde 1998.

Por trás destes números jazem vidas perdidas, em grande parte de jovens negros, contra os quais brutalidade é a regra, não a exceção. Contaram-se mais de 70 marcas de projéteis na casa onde João Pedro Matos Pinto, 14, foi morto pelas costas em São Gonçalo, região metropolitana do Rio.

A alta da letalidade policial caminha na contramão da queda dos índices de criminalidade ante do mesmo período do ano passado, antes da pandemia.

No RJ, os homicídios dolosos tiveram redução de 14% em abril, e roubos de rua despencaram 64%. Embora o número de assassinatos tenha tido leve alta em São Paulo (3,4%), os crimes patrimoniais caíram, em média, pela metade.

Injustificada sob qualquer parâmetro civilizado, a letalidade das forças de segurança no Brasil carece ainda mais de razões em um cenário de ruas vazias. Para explica-la, resta apenas a combinação de descontrole com impunidade.

editoriais@grupofolha.com.br

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